A pandemia de Covid-19 destacou a importância de ações preventivas de saúde para se evitar a disseminação do novo vírus. Ainda no início de 2020, nos primeiros casos da doença, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou diretrizes lembrando que o fornecimento de água potável, saneamento e condições de higiene são essenciais para proteger a saúde humana durante os surtos de doenças infecciosas, incluindo a Covid-19.
Na prática, a lavagem constante das mãos e a higienização dos ambientes, aliadas a outras medidas sanitárias, são alguns dos procedimentos mais eficazes para evitar o contágio. A disponibilização de água tratada contribui significativamente para a manutenção desses cuidados pessoais, sendo uma questão emergencial em todo o mundo. A cloração da água é o mais antigo, acessível e eficiente método de tratamento da água e fundamental para evitar a propagação de inúmeras doenças.
O cloro é fundamental para a manutenção da saúde e prevenção de doenças, contribuindo para evitar epidemias e pandemias. Além de tornar a água potável, também é utilizado na desinfecção de ambientes hospitalares, pois tem uma potente função bactericida e virucida, eliminando germes, bactérias, fungos e vírus de todas as superfícies. A sua utilização combate desde as mais comuns diarreias bacterianas até as doenças virais como a gripe, hepatites, HIV, zica vírus, chikungunya e a Covid-19.
“O cloro, além de ser um excelente desinfetante, também é matéria-prima de inúmeros produtos, como antibióticos e insumos hospitalares – seringas, cânulas, etc. Sem o cloro, a humanidade não teria conquistado importantes avanços na saúde. O aumento da expectativa de vida no mundo só ocorreu devido à contribuição do cloro e de seus derivados”, destaca Flavio Zambrone, médico toxicologista e presidente do Instituto Brasileiro de Toxicologia (IBTox).
O cloro também é utilizado na produção da água sanitária (hipoclorito de sódio, com 2% a 2,5% de cloro ativo) e é importante insumo na produção de PVC, com diferentes aplicações, como tubos, conexões e esquadrias em PVC, além de estar presente em mais de 85% dos medicamentos de saúde. Como coproduto do processo de produção do cloro, há ainda a soda cáustica que, juntamente com os derivados do cloro, está presente em milhares de produtos do cotidiano – fabricação de computadores, automóveis, sabão, papel e celulose, vidros e tintas.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Indiretamente, todas as mercadorias e serviços produzidos no Brasil têm em sua produção alguma participação de produtos do cloro e da soda cáustica, fundamental para diversos segmentos como alimentos, produtos de limpeza, alumínio, papel e celulose, química e petroquímica. “A contribuição da indústria brasileira de cloro-álcalis é muito importante para o desenvolvimento econômico e social do Brasil e vai muito além da geração de renda, empregos e impostos, pois transforma elementos presentes na natureza em produtos úteis ao homem. A indústria nacional acompanha os avanços técnicos mundiais, operando dentro dos mais altos padrões de segurança, saúde, qualidade e respeito ao meio ambiente”, afirma Martim Afonso Penna, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor).
Dentro do cenário da Covid-19, cresce ainda mais a importância do cloro na preservação da saúde das pessoas, seja no tratamento da água como na desinfecção de ambientes hospitalares, além de sua utilização como insumo para a produção de medicamentos e equipamentos utilizados em tratamentos médicos.
ALTOS PADRÕES
A indústria do cloro existe no Brasil desde 1933, atuando em todo o território nacional. Por prática e decisão das próprias empresas, são adotados padrões internacionais de manuseio, segurança, transporte e meio ambiente. “A indústria precisa estar preparada para atender a uma série de normas técnicas certificadoras, além de normas rigorosas de manuseio e transporte dos seus produtos. O profissional que trabalha no segmento passa por um longo processo de qualificação e frequente reciclagem”, lembra Elias de Oliveira, diretor de Relações Institucionais da Sabará Química-Grupo Sabará, um dos maiores fabricantes e distribuidores de soluções integradas para o tratamento de água, com diversas tecnologias adotadas.
A cadeia produtiva nacional de cloro-álcalis investe fortemente na formação e capacitação de seus profissionais, realizando programas de treinamentos adotados pelo setor na Europa e Estados Unidos, constantemente atualizados com as melhores técnicas e práticas. Os envolvidos em todas as etapas da produção têm grande experiência e as empresas nacionais possuem certificações internacionais, marcando posição de relevância no mercado mundial.
Esses indicadores permitem uma melhor absorção da cultura de segurança das indústrias de cloro-álcalis. “A Abiclor, por meio de suas comissões técnicas, promove continuamente o intercâmbio de experiências entre os profissionais. A associação possui comitês, comissões e grupos de trabalhos especializados, encarregados da atualização dos procedimentos de segurança na produção, distribuição, transporte e uso final dos produtos do setor, com base nas melhores práticas e técnicas internacionais”, confirma Penna.
As empresas associadas à Abiclor são signatárias do Programa de Atuação Responsável®, gerenciado no Brasil pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), um comprometimento voluntário na melhoria contínua de seu desempenho em saúde, segurança e meio ambiente. Também seguem rigorosamente a legislação brasileira e todas as recomendações de organismos internacionais para a produção de cloro gás liquefeito.
Outro aspecto muito importante da cadeia produtiva é o consumidor. Os associados da Abiclor, fabricantes e distribuidores, trabalham diretamente com seus clientes e usuários finais na capacitação e treinamento na operação visando à segurança e a valorização do produto e oferecendo soluções para o seu uso. Com essas medidas, o setor de cloro-álcalis no Brasil e no mundo é um dos mais seguros.
“A indústria química do cloro possui reconhecido know-how na assistência a clientes para a melhor utilização do cloro em suas instalações (estações de tratamento), levando conta todos os aspectos de eficiência, qualidade, segurança e saúde. Este será sempre um fator de diferenciação, pois novas estações serão implantadas e o setor está pronto para o atendimento de todas as necessidades de forma contínua e segura”, informa Rogerio Costa, diretor de negócios de cloro-soda da Unipar, empresa líder na produção de cloro, soda e PVC na América do Sul.
TRANSPORTE SEGURO
Dada a natureza dos produtos e derivados do setor de cloro-álcalis, há um esforço permanente do setor, particularmente junto aos transportadores, para garantir a segurança do transporte dos produtos e evitar acidentes. As empresas contratadas para o transporte de cloro seguem os mais rígidos processos de seleção, tendo como base o SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade), que se aplica a todos os prestadores de serviços na área de logística que envolvam produtos químicos, perigosos e não perigosos.
Há 21 anos, a Abiclor realiza os Encontros de Transporte Seguro, para discutir questões técnicas, de segurança e de legislação com o objetivo de atualizar a todos os envolvidos na cadeia produtiva de setor. Anualmente, a entidade também promove, nos estados onde estão localizadas as fábricas, treinamentos simulados com seus produtos. “Os encontros, que têm participação de órgãos ambientais locais, autoridades civis e militares envolvidos nos atendimentos emergenciais, preparam embarcador, distribuidor, transportador e clientes para o atendimento às emergências”, revela o diretor da Ablicor.
MEIO AMBIENTE
Pela natureza das tecnologias empregadas atualmente no processo produtivo do setor de cloro-álcalis, questões e aspectos associados direta e indiretamente ao meio ambiente e à sustentabilidade também fazem parte do dia a dia das empresas e da pauta do setor como um todo. A indústria tem participação ativa junto a governos e organizações com temas internacionais, como convenções sobre produtos químicos e processos.
As ações na proteção ambiental vão além do que é requerido pela legislação vigente, como na questão de redução de emissões nos processos. “As diretrizes atuais da indústria estão em linha com a produção e o consumo sustentável e, no geral, na cooperação técnica da cadeia produtiva na adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), bem como nas entidades coirmãs do setor de cloro-álcalis, no âmbito regional com a Clorosur (Associação Latino-Americana da Indústria de Cloro, Álcalis e Derivados) e, no internacional, com o Instituto do Cloro (CI), dos Estados Unidos, e a Euro Chlor, na Europa). Por meio da Clorosur, o setor nacional faz parte do Conselho Mundial do Cloro”, ressalta Penna.
MARCO LEGAL
Em julho de 2020, foi sancionada a Lei Federal nº 14.026, que atualiza o marco legal do saneamento básico no Brasil. O texto prevê a universalização do fornecimento de água e coleta de esgoto no Brasil até 2033, e permite a participação da iniciativa privada para atender a futura demanda – antes da lei, a responsabilidade do saneamento era quase exclusiva de empresas estatais.
Uma projeção da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indica que a nova regulamentação vai permitir uma intensa modernização e ampliação da rede de água e de coleta e tratamento de esgoto, para qual metade da população brasileira ainda não tem acesso, o que faz com o Brasil seja um dos mais atrasados no mundo na área. São cerca 100 milhões de pessoas sem acesso à rede de coleta e tratamento de esgoto, além de 30 milhões que não contam sequer com água tratada, segundo levantamentos do Instituto Trata Brasil.
“O Marco Legal do Saneamento realça ainda mais a importância da utilização do cloro no tratamento de água, levando em conta os objetivos de universalização da disponibilidade de água tratada. O setor de cloro-álcalis vem atuando de forma ativa no acompanhamento da implantação do Marco”, afirma Sergio Santos, gerente de Relações com Investidores e Relações Institucionais da Unipar.
Para atender à demanda futura, a produção de cloro precisa aumentar em 700 mil toneladas por ano no país. Os últimos dois anos foram atípicos para o setor devido à pandemia, com uma significativa redução na produção nos anos de 2019 e 2020 – com, respectivamente, 857,3 mil toneladas e 786,2 mil toneladas. Em 2018, quando a produção estava normal, foram produzidas 1,1 milhão de toneladas de cloro no país. Para 2021, a expectativa do setor é de voltar ao mesmo patamar de 2018.
Dados de 2012 indicam que a rede de tubulações de PVC no Brasil era de 542,5 mil quilômetros. Esse número precisa ser ampliado para 613,4 mil quilômetros até 2033, além da necessidade de manutenção de 381 mil quilômetros de tubulações nos próximos 13 anos, conforme o estudo “Indicadores Econômicos e Sociais da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados e o Impacto do Preço da Energia na Produção e Investimento”, realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicos (FIPE) e a Abiclor.
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