Como Lula pode influenciar Bolsonaro na escolha de seu novo partido

O futuro partidário do presidente Jair Bolsonaro está em aberto. Após não chegar a um acordo com o PRTB, o PP passou a ser a “noiva” da vez. Mas um possível retorno ao PSL ainda não está descartado. A aposta de que a escolha será por uma legenda mais estruturada, como o PP ou o PSL, vem ganhando força e tem uma razão bem clara: a provável candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.

De novembro de 2020 até maio deste ano, Bolsonaro conversou com dez partidos diferentes. Dos nanicos DC, PMB e PRTB (que não têm representação no Congresso), passando por legendas menores, como Patriota, PTB e PSC, e também com siglas maiores, como PSL, Republicanos, PL e PP.

A expectativa ao fim de 2020, criada pelo próprio Bolsonaro, era de que a escolha do partido ocorresse até março deste ano. O prazo passou e a indefinição segue. A dificuldade se deve a uma exigência: Bolsonaro quer ter o controle total sobre a sigla.

Por isso, os nanicos pareciam ser os mais viáveis, mas a realidade se mostrou diferente e as negociações empacaram. “Muitos desses partidos prometiam o que não podiam entregar. O Bolsonaro recusou outros por incompatibilidade de interesses”, afirma um interlocutor do Palácio do Planalto.

Nesse meio tempo, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações de Lula e deixou o caminho aberto para o petista se candidatar nas próximas eleições. A volta do ex-presidente ao jogo eleitoral mudou o cenário político e as perspectivas de filiação de Bolsonaro.

Por que os partidos grandes passaram a ser a principal aposta para Bolsonaro

“namoro” com o PP, como citou Bolsonaro, representa uma mudança de planos. O presidente bateu o pé e rejeitou até o último momento a ideia de retornar à legenda – partido pelo qual se elegeu para três mandatos de deputado federal. Mas, por pragmatismo político, agora ele analisa o convite feito pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do Progressistas. A volta ao PSL também não está descartada.

As conversas com esses dois partidos têm explicação: a busca por estrutura partidária, principalmente financeira, de olho nas eleições de 2022. Mesmo se um partido nanico desse o controle absoluto a Bolsonaro, não teria como lhe garantir recursos financeiros, nem tempo de televisão na propaganda eleitoral gratuita.

Enquanto parte dos aliados tentam aconselhar Bolsonaro a flexibilizar o discurso para mirar o eleitor de centro, outros apenas defendem que o presidente busque o centro político para fins de coligação, de olho no tempo de televisão e recursos financeiros dos fundos partidário e eleitoral.

Por esses motivos, a filiação de Bolsonaro para um partido grande – especialmente o PSL – é apoiado por aliados do Centrão e conselheiros do Palácio do Planalto. “Os próprios partidos da base defendem um retorno do presidente ao PSL”, diz um deputado bolsonarista.

Um possível retorno do presidente também teria o apoio do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), segundo afirma um outro deputado bolsonarista. “Não vejo objeções do Eduardo e do Flávio em relação ao PSL. Aliás, os dois estão aguardando uma decisão do presidente”, afirma.

Por que dinheiro e tempo de televisão são importantes

A filiação a um dos grandes partidos poderia assegurar a Bolsonaro dinheiro para financiar a campanha de 2022. Em 2020, por exemplo, somadas as verbas dos fundos eleitoral e partidário, o PSL recebeu R$ 297,4 milhões. O PP ficou com R$ 188,4 milhões, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Desde que o Congresso aprovou a proibição de doações eleitorais de empresas, o fundo eleitoral se tornou em uma das principais fontes de receita para a realização das campanhas. Já o fundo partidário é usado para custear atividades rotineiras das legendas, como o pagamento de água, luz, aluguel e passagens aéreas.

Em uma eleição, esses recursos serão fundamentais para a campanha de Bolsonaro, reconhecem deputados bolsonaristas. “O presidente vai precisar viajar para todos os estados e toda segunda-feira vai precisar gerar a GRU [Guia de Recolhimento da União] para reembolsar os custos da campanha”, diz um dos deputados bolsonaristas. “Quanto custa uma única viagem com avião presidencial e toda a equipe? E quanto custará todas essas viagens para cada estado? Barato não é”, complementa.

Ao contrário de 2018, quando concorreu com pouco segundos na propaganda eleitoral televisiva, agora os bolsonaristas consideram que o tempo de televisão será importante. A avaliação é de que boa parte do eleitorado de centro ainda é influenciada pela TV aberta.

Lula candidato reforça busca de Bolsonaro por partido grande

Interlocutores no Planalto e os deputados bolsonaristas reconhecem que o momento político é totalmente diferente de 2018. Por isso defendem que, para 2022, Bolsonaro não poderá apostar na mesma receita de campanha que o levou à Presidência da República. O motivo principal, segundo eles, é ter o ex-presidente Lula como provável adversário.

“Sei que nossos eleitores desdenham, mas o Lula vai ser candidato. É um fato. Temos que lidar com isso e traçar as melhores estratégias para confrontar sua candidatura”, diz um segundo deputado bolsonarista. “Não adianta ir com o discurso: ‘ah, vai polarizar [entre os dois]; a eleição tá ganha’. Nós não podemos entrar numa campanha com esse sentimento, porque não tem nada ganho ainda.”

A mais recente pesquisa eleitoral divulgada, da Exame/Ideia, coloca Lula e Bolsonaro empatados tecnicamente dentro da margem de erro no primeiro turno. Mas, no segundo turno, o petista aparece à frente, com 45% das intenções de voto contra 37% do atual presidente.

Quando as primeiras conversas de filiação do presidente da República ao PSL ou ao PP surgiram, Lula ainda estava preso. Agora, com ele solto e podendo ser candidato, os bolsonaristas reconhecem que o cenário reforça quem defende que Bolsonaro se filie a um partido estruturado. “O jogo é outro. Agora, vem Lula com ‘Deus e o mundo’ querendo derrubar o Bolsonaro”, diz o deputado Bibo Nunes (PSL-RS).

Patriota ainda pode ser uma alternativa para Bolsonaro

Embora reconheça que Bolsonaro busque um partido com grande estrutura para se filiar, Bibo Nunes acredita que a maior probabilidade é ele ir para o Patriota. O parlamentar diz ter informações de bastidores que o levam a acreditar nisso. “Minha aposta seria 10 por 1 no Patriota”, afirma.

Mas a filiação de Bolsonaro ao Patriota depende de uma vitória do presidente do partido, Adilson Barroso, na disputa interna que ele trava pelo controle da legenda contra o vice-presidente da sigla, Ovasco Resende, e contra o líder na Câmara, Fred Costa (MG).

Barroso é a favor de filiar Bolsonaro, ainda que tenha que “entregar” o partido. Já Resende e Costa, não. “Há esse problema, de fato. Mas essas arestas estão sendo aparadas. Pelo que eu sei, as condições do presidente se filiar estão bem mais viáveis”, afirma Nunes.

Mesmo diante dos desafios internos do Patriota, Nunes entende ser mais provável Bolsonaro ir para esse partido do que para o PSL. “É totalmente improvável [a filiação ao PSL], mas não impossível”, diz. “A política é dinâmica. Seria bom para o PSL e para o Bolsonaro, mas tem alguns radicais lá que não aceitariam o presidente de volta.”

Metodologia da pesquisa citada

A pesquisa Exame/Ideia foi realizada entre os dias 19 e 20 de maio e ouviu 1,2 mil pessoas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais, quanto para telefones celulares. O grau de confiança da pesquisa é de 95%, em uma margem de erro de 3,1 pontos percentuais para mais ou para menos.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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