Argentina quer abater o produtor de carne sem dó nem piedade

Handout picture released by Argentina's Presidency showing Argentine President Alberto Fernandez announcing new measures against the spread of the novel coronavirus, COVID-19, from Olivos Presidential Residence in Olivos, Buenos Aires, on April 14, 2021. - Fernandez announced an extension of the prohibition of night traffic, a restriction of business hours and the closure of schools in the metropolitan area of Buenos Aires, in a tightening of measures to curb the spread of the coronavirus. (Photo by ESTEBAN COLLAZO / Argentinian Presidency / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / ARGENTINA'S PRESIDENCY / ESTEBAN COLLAZO" - NO MARKETING - NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS

Países como o Brasil, os Estados Unidos e a Argentina, entre poucos outros, receberam da natureza o presente, hoje em dia mais valioso do que nunca, de terem em seu território a maioria das condições necessárias para fazer deles grandes nações agrícolas. Brasil e Estados Unidos, em condições e em áreas diferentes, se alternam atualmente como os dois maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta. A Argentina afundou.

Não faltaram à Argentina excelência de solo, bom clima, água, competência e amor ao trabalho rural por parte dos seus agricultores e pecuaristas. O que houve, isso sim, foi uma ação francamente suicida por parte dos governos de esquerda destes últimos quinze anos — na verdade, uma guerra contra os seus próprios produtores. É a Argentina no seu papel de estrela do “Foro de São Paulo” e de farol das teorias esquerdistas na América do Sul.

Em vez de disputar os mercados com os seus competidores mundiais no agronegócio — e apoiar o único setor da sua economia que está em condições de funcionar bem —, o governo faz questão de tratar o produtor argentino como inimigo da sociedade e da pátria.

Mais uma vez, agora, o governo da Argentina decide agredir com fúria o seu agro: com o mais primitivo de todos os argumentos econômicos — o de que os preços internos da carne estão subindo muito — proibiu por 30 dias as exportações. O produtor, que o governo quer punir, não tem nada a ver com o preço da carne no açougue. Os preços sobem porque as cotações internacionais estão em alta, e esse é o único preço que se pode praticar.

Mais: nos últimos doze meses, pela inépcia grosseira do governo, a inflação na Argentina está a caminho de bater nos 50% e, automaticamente, o dólar sobe junto. Só isso já mandaria os preços lá para cima; com a alta das cotações internacionais, soma-se a fome à vontade de comer, e é impossível para o produtor cobrar menos do que cobra pelo seu produto.

O governo da Argentina consegue, assim, transformar em desgraça o que deveria ser uma bonança — a oportunidade de forrar de dólares as reservas internacionais de divisas que dão oxigênio vital à economia do país. Para completar, e com o mesmo raciocínio insensato, também adotou restrições à exportação de grãos e laticínios — como são produtos que fazem sucesso no mercado externo, é preciso então, segundo o governo, castigar os produtores que estão “lucrando” com a sua venda.

Enquanto o agro do Brasil, apesar da desgraça da economia em geral, bate recordes e mantém o país vivo, a Argentina leva ruína ao único setor que vale alguma coisa no seu sistema produtivo.

Quinze anos atrás, no governo esquerdista de Nestor Kirchner, a Argentina promoveu uma calamidade igual — com a agravante de que ela durou cinco anos inteiros, de 2006 a 2011. O argumento, típico da cabeça “socialista” do peronismo ao estilo do casal Kirchner, se baseava num despropósito completo: era “injusto”, segundo o governo, que os produtores rurais “lucrassem” com a venda de carne, enquanto “os pobres” não tinham sequer um bezerro magro para vender.

Kirchner, na ocasião, bloqueou as exportações de carne por seis meses, estabeleceu um peso mínimo para o abate e triplicou os impostos nas vendas de carnes processadas para o exterior, além de acionar uma porção de outras travas. O homem parecia determinado a destruir a atividade mais rentável e competitiva da economia do seu país, em nome da “justiça social”, da “igualdade” e outros disparates.

O preço disso tudo foi arrasador. As exportações caíram 70%. Cerca de 20% do rebanho de gado argentino teve de ser eliminado, ou mais de 10 milhões de cabeças; no Brasil, isso equivaleria ao extermínio de cerca de 50 milhões de bois e vacas. O consumo interno caiu, em vez de aumentar. A produção total do país diminuiu 20%. A pecuária, como um todo, perdeu mais de 30 bilhões de dólares em ativos. Os preços, passado o efeito da anestesia temporária, voltaram a disparar — 300% ao fim da aventura, contra 200% de inflação no período.

É isso, precisamente, que estão tentando fazer de novo. A Argentina, que apesar de todas as suas doenças econômicas era o terceiro maior exportador de carne do mundo 15 anos atrás, sumiu da lista dos dez maiores durante o experimento socialista de Kirchner. O Brasil, que durante décadas foi considerado incapaz de jogar neste time, engoliu todos os competidores. Hoje é o maior produtor e exportador mundial de carne bovina — e ocupa o primeiro lugar, também, na venda de frangos e suínos.

Com o fim do delírio peronista, e durante o curto período de racionalidade que já foi encerrado com a volta da esquerda ao governo, a Argentina recuperou várias posições no ranking, e voltou a estar entre os grandes. Agora, pelo que parece, o peronismo está decidido a repetir a dose.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

Be the first to comment on "Argentina quer abater o produtor de carne sem dó nem piedade"

Leave a comment

Your email address will not be published.


*