O aperto monetário ainda não acabou

Fachada do Banco Central do Brasil, Brasília. O Banco Central do Brasil é uma autarquia federal integrante do Sistema Financeiro Nacional, sendo vinculado ao Ministério da Economia. Foto: Leonardo Sá/Agência Senado

Na tentativa de controlar uma inflação ainda em alta, mas sem provocar grandes solavancos na economia, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentou mais uma vez a Selic em 0,75 ponto porcentual, subindo a taxa básica de juros para 3,50% ao ano. O movimento já era esperado por boa parte do mercado financeiro, mesmo porque tal elevação já tinha sido antecipada no comunicado da reunião anterior, ocorrida em meados de março. A mesma sinalização, aliás, foi feita no texto emitido após a reunião encerrada nesta quarta-feira, indicando que a Selic tem tudo para fechar o semestre em 4,25%, após ter começado o ano na mínima histórica de 2%.

Apesar de o comitê seguir empregando praticamente o mesmo palavreado há muitos meses a respeito da continuidade das reformas, tratando este processo sempre na condicional, o fato é que, a esta altura, pode-se contar muito pouco com a saúde fiscal brasileira como fator de estabilidade ou futuro novo ciclo de redução na Selic. Todas as idas e vindas com o Orçamento da União, suas emendas parlamentares anabolizadas e suas manobras para contornar o teto de gastos, concedendo verniz de legalidade a despesas que, em outras circunstâncias, configurariam irresponsabilidade fiscal já demonstraram que as alas fiscalistas no governo e no Congresso vêm perdendo espaço para os gastadores, crentes na geração espontânea de recursos públicos. O enorme revés aplicado por Arthur Lira à reforma tributária também indica que as mudanças estruturais ficaram ainda mais dependentes dos caprichos de algumas canetas em Brasília. As boas notícias precisarão vir de outras fontes, o que também não é muito animador.

A esta altura, pode-se contar muito pouco com a saúde fiscal brasileira como fator de estabilidade ou futuro novo ciclo de redução na Selic

O Copom continua avaliando os choques inflacionários atuais como temporários – embora estejam durando já bem mais que o previsto inicialmente –, e eles não devem terminar tão cedo. O comunicado ressalta que o câmbio e as cotações internacionais das commodities (com exceção do petróleo) seguem favorecendo a exportação, o que tem efeito na oferta interna de alimentos e bens industriais, e que a energia também tende a ficar mais cara com a adoção de “patamares mais elevados de bandeira tarifária”, um custo que se espalha por muitos outros preços. Além disso, continua a haver incertezas sobre a robustez da recuperação brasileira, que poderia estar melhor se o ritmo de vacinação contra a Covid-19 estivesse mais acelerado.

O resultado de toda essa confluência de fatores, amenizados apenas por uma recuperação mais forte nos países com vacinação mais adiantada, é uma projeção de inflação em 2021 que se aproxima muito do limite de tolerância estabelecido pelo Banco Central: 5,1%, contra uma meta de 3,75% com tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. E, para isso, ainda será preciso que a inflação desacelere, já que o IPCA acumulado em 12 meses até março deste ano está em 6,1%.

Por mais que a alta dos juros acabe reduzindo o estímulo à atividade econômica e também atrapalhe as contas públicas ao elevar o custo de parte da dívida brasileira, a inflação é uma das piores mazelas econômicas e que pune especialmente os mais pobres. Em um país já marcado por estagnação e alto desemprego, não pode haver leniência ou desatenção que permitam o retorno da inflação aos altos níveis observados na recessão de 2015-2016, corroendo o poder de compra de uma população já bastante castigada economicamente. Mas o Banco Central não pode ser a única instituição a trabalhar pelo controle da inflação. Governo e Congresso, especialmente, precisam acordar para o mal que tanta indecisão nas reformas e frouxidão fiscal estão fazendo à credibilidade do país.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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