Em 1954, uma decisão histórica da Suprema Corte Americana colocou fim à segregação racial nas escolas daquele país. A decisão conhecida como “Brown contra Board of Education” sacramentou a jurisprudência de que a separação de alunos por raça era inconstitucional. Ainda assim, alguns estados persistiram com políticas discriminatórias. O marco mais visível do fim da separação por raças viria em 1963, em uma cena histórica: o presidente John Kennedy enviou tropas do Exército ao Alabama, onde o governo estadual se recusava a matricular dois alunos negros na Universidade do Alabama. O governador George Wallace, que defendia a política racista, acabou cedendo. Foi o último suspiro de uma longa história de segregação. Ou será que não?
Recentemente, cada vez mais instituições de ensino superior têm promovido a separação racial entre alunos, o que tem aumentado a preocupação de que uma nova era de segregação esteja se iniciando. Desta vez, entretanto, os argumentos são diferentes. As políticas de separação por raça têm como objetivo declarado proteger os negros e outros integrantes de minorias do “racismo sistêmico” que, segundo alas mais radicais da esquerda americana, permeia as instituições.
As universidades de Harvard e Columbia, duas das instituições de ensino mais tradicionais dos Estados Unidos, passaram nos últimos anos a realizar cerimônias de formatura separadas para alunos negros e latinos. As instituições afirmam que esses são eventos complementares, e que os eventos não promovem a segregação porque todos os estudantes – inclusive negros – participam da cerimônia principal.
As demandas do movimento negro, entretanto, vão além das cerimônias separadas de formatura. Outra universidade reconhecida nacionalmente, a Universidade de Nova York (NYU), concordou em colaborar com grupos de estudantes negros para oferecer moradias estudantis exclusivas para afro-americanos. Uma das organizações que apoia a medida, batizada de Black Violets, defendeu a política nesses termos: “Com muita frequência, na sala de aula e no convívio nos dormitórios, estudantes negros carregam o fardo de educar seus colegas desinformados sobre o racismo”. Alunos da Universidade DePaul, em Chicago, têm feito a mesma reivindicação, assim como estudantes da Universidade Rice, no Texas.
No ano passado, a Universidade do Michigan chegou a anunciar a criação de “cafés” separados por raça: um para pessoas de cor e outro para “pessoas não de cor”. Depois, a instituição voltou atrás e se desculpou, alegando que os “cafés” eram apenas espaços virtuais de interação.
No ano passado, a Associação Nacional de Pesquisadores (NAS) divulgou um relatório que dá a dimensão do problema. De 173 instituições de ensino superior americanas analisadas, 43% tinham algum tipo de segregação racial em seus dormitórios e 72% tinham cerimônias de formatura separadas por raça.
“Em vez de oferecer oportunidades para que os estudantes se misturem livremente com colegas de origens diferentes, as faculdades promovem enclaves étnicos, provocam ressentimento racial e constroem estruturas baseadas em rancores grupais”, diz o relatório.
Os argumentos em defesa da separação racial também encontram apoio de pesquisadores que professam defender a causa negra. Em um artigo recentemente publicado por professores da Universidade de Duke, também na lista das mais prestigiosas instituições de ensino americana, os autores argumentam que integração racial é prejudicial para os alunos negros.
De acordo com os pesquisadores, eles apresentam um desempenho visivelmente superior quando frequentam instituições majoritariamente (ou exclusivamente) negras. “Nosso estudo sugere que os efeitos (da integração) foram mais inexpressivos do que normalmente é afirmado em outros estudos ou nos meios de comunicação”, afirma William A. Darity Jr., que, dentre outras coisas, dá aulas de Estudos Africanos. Segundo os autores do estudo, a discriminação é a principal causa dessa disparidade.
A radicalização das instituições de ensino dos EUA se acelerou no último ano, com os protestos em massa que tomaram parte do país após a morte de George Floyd, um negro, pela polícia de Minneapolis.
No ano passado, o presidente da Universidade de Princeton afirmou, em tom de confissão arrependida, que a entidade praticava “racismo sistêmico”. Ato contínuo, o Departamento de Educação do governo federal, ainda sob a gestão de Donald Trump, iniciou uma investigação para averiguar se a instituição estava violando a legislação sobre igualdade racial. Mas, poucos meses depois, o democrata Joe Biden chegou ao poder. Não está claro se a investigação foi levada adiante.
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