Planos econômicos, atritos históricos e rachas internos: as divergências do centro para 2022

Se por um lado o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT) disputam votos em lados opostos para 2022 e são os únicos em seus campos ideológicos, os demais presidenciáveis que tentam ensaiar uma candidatura de centro para a disputa presidencial enfrentam outras divergências para a composição da chapa. Até o momento, nomes como do apresentador de TV Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta (DEM), dos governadores de São Paulo, João Doria (PSDB) e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). Nomes como o do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), à esquerda, e do ex-presidente do Novo João Amoedo, à direita, também tentam superar as divergências para essa composição de terceira via.

Segundo interlocutores desses presidenciáveis, a definição de um plano econômico para a recuperação da economia no pós-pandemia está hoje no centro das discussões. Encampando as articulações, Luiz Henrique Mandetta tem promovido encontros virtuais entre o grupo como forma de reunir as ideias neste campo.

O ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro foi o principal articulador do manifesto a favor da democracia divulgado pelo grupo e tido como o primeiro ponto da articulação para 2022.

Atualmente, Ciro Gomes (PDT) seria o ponto mais divergente entre os demais presidenciáveis do grupo no campo econômico. O pedetista defende pautas desenvolvimentistas e não conta com simpatia do mercado financeiro, o que desagrada parte do grupo, como Doria e Amoedo. Apesar disso, ele seria hoje o mais experiente entre os cotados, tendo em vista que disputou a presidência outras três vezes e é oficialmente o único nome posto na disputa.

Por outro lado, integrantes do DEM, PSDB e do Novo têm defendido que o plano econômico seja focado em privatizações e no enxugamento da máquina pública. Além disso, acordos e parcerias com o mercado empresarial poderiam favorecer a candidatura de centro. Neste sentido, Mandetta pretende reunir os possíveis presidenciáveis com empresários, banqueiros e economistas para tentarem definir um plano em conjunto.

Recentemente, o Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP), um centro de estudos que reúne economistas e diversos especialistas, entrou no radar desses presidenciáveis. O grupo prepara uma agenda de propostas na área econômica para subsidiar o debate para 2022.

Em outra frente, na busca por um plano econômico focado no liberalismo, os presidenciáveis também têm se aconselhado com nomes como do ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga; com Gustavo Franco, um dos idealizadores do Plano Real; Aod Cunha de Moraes Júnior, ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul e com economistas como Pérsio Arida, Marcos Lisboa e André Lara Resende.

Apesar das tratativas entre o grupo, líderes partidários admitem que as conversas ainda sejam preliminares e que uma definição só deva ocorrer entre outubro deste ano e o primeiro trimestre de 2022.

Um líder partidário que participa das negociações aponta que Ciro é o que mais diverge hoje. Ele lembra que Doria assumiu o protagonismo na vacinação, mas todos sabem que governador paulista tem forte rejeição. “Eduardo Leite é pouco conhecido. Huck tem maior simpatia, mas a indecisão do apresentador não deixa a conversa avançar”, comentou um líder partidário que participa das articulações.

Na visão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além de um plano econômico, o candidato terá que simbolizar a retomada da economia. “Tem que ser alguém que faça a economia crescer e dê emprego para quem precise e atenda aos mais pobres. É fácil falar e difícil fazer, mas tem que simbolizar isso. Há governadores que têm peso. Dizem que são candidatos, mas não simbolizam nada nacionalmente”, admitiu FHC ao jornal Valor Econômico.

Diferenças no Centro vão além da economia

Se por um lado o grupo de presidenciáveis ainda patina nas negociações para a viabilização de uma candidatura única, os entraves nas negociações vão além das divergências no plano econômico.

Orbitando anos na esquerda, Ciro Gomes já disparou diversas críticas contra o tucano João Doria. Em discursos, o pedetista já se referiu ao governador de São Paulo como “farsante” e “picareta completo”. Na mesma linha, o ex-presidente do Novo João Amoedo já criticou Ciro dizendo que ele precisava “conhecer um pouco mais sobre economia”.

Dentro do PSDB, João Doria disputa espaço com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Enquanto o paulista ganhou notoriedade ao se colocar como opositor de Jair Bolsonaro na condução da pandemia, o gaúcho ganhou a simpatia dos correligionários tucanos, que investem na sua candidatura. As prévias do partido estão marcadas para outubro deste ano.

Tido como aglutinador do grupo, Mandetta desponta como nome viável pelo poder de união entre os demais nomes. No entanto, seus aliados admitem que seu nome não teria força suficiente para conquistar votos no interior do país.

Na avaliação do ex-ministro da Saúde, mesmo que não haja a construção de uma candidatura única, hoje existe um pacto para que não haja ataques durante a campanha entre os signatários do grupo. Já Ciro Gomes tem defendido que os líderes de centro precisam deixar claro que são pré-candidatos porque só assim conseguirão aglutinar uma parcela do eleitorado em torno dos projetos.

“Quando chegar a hora de discutirmos se vamos nos juntar, não poderemos ser um grande conjunto de vazios”, avaliou o pedetista durante live com o presidente do Cidadania, Roberto Freire.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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