A retomada dos leilões de infraestrutura, paralisados quando a pandemia de coronavírus chegou ao país, no ano passado, já garantiu um resultado positivo para o governo federal. Os três lotes de aeroportos leiloados nesta quarta-feira foram arrematados com ágio significativo – a outorga total oferecida pelos vencedores foi de R$ 3,3 bilhões, quase 18 vezes maior que o lance mínimo exigido pelo governo; neste quesito, o maior destaque foi para o bloco Central, formado por terminais nos estados de Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí e Pernambuco, onde o consórcio vencedor pagou uma outorga 93 vezes maior que o valor mínimo pedido.
Novamente, o leilão ocorreu pelo modelo criado durante o governo Michel Temer, em que são arrematados blocos que mesclam aeroportos maiores, mais movimentados e atrativos, com outros terminais de menor porte; o edital determina investimentos mínimos em todos eles, para que os concessionários não se dediquem apenas às “joias da coroa” e abandonem os demais aeroportos – no total, os investimentos serão de R$ 6,1 bilhões ao longo dos 30 anos de contrato. Os grandes chamarizes no leilão desta quarta-feira eram os aeroportos de Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Manaus (AM), mas especialmente no Bloco Sul havia ainda outros terminais com forte apelo turístico, como os de Foz do Iguaçu (PR) e Navegantes (SC).
A operação privada deve ajudar a destravar diversos gargalos no transporte aéreo brasileiro
O vencedor dos blocos Sul e Central foi o grupo CCR, mais conhecido pela administração de rodovias, mas que é um dos sócios no consórcio que opera o aeroporto de Confins, em Belo Horizonte (MG), e também tem atuação no setor aeroportuário em outros países da América Latina e Caribe. Já o bloco Norte foi arrematado pela francesa Vinci, que no Brasil já opera o aeroporto de Salvador (BA) e, no exterior, administra aeroportos conhecidos dos brasileiros como os de Lisboa (Portugal), Santiago (Chile) e Londres-Gatwick (Reino Unido). Se houve algo a lamentar, é apenas o fato de não ter havido outros grandes players globais do setor de aeroportos na disputa, alguns dos quais já atuam no Brasil, como a Fraport, a Changi e a Flughafen Zürich.
A operação privada deve ajudar a destravar diversos gargalos no transporte aéreo brasileiro, ainda muito incipiente quando comparado com o de países e regiões de área e população similares às brasileiras. Em Curitiba, por exemplo, a estatal Infraero realizou um trabalho bastante satisfatório na ampliação do terminal, mas a ausência de uma terceira pista mais extensa e do sistema de pouso por instrumentos ILS-3 inviabiliza voos para os Estados Unidos e Europa, pousos e decolagens simultâneos e a operação em dias de neblina forte – tanto a nova pista quanto o ILS-3 serão implantados durante o período de concessão. No momento, o transporte aéreo em todo o mundo vive dias bastante complicados, mas à medida que a vacinação se generalizar e houver a redução no número global de casos e mortes, há a expectativa de uma retomada no turismo e nas viagens de negócios, e que o Brasil também precisa estar pronto para aproveitar.
A semana ainda tem mais dois leilões de infraestrutura no que ficou chamado de “Infra Week”: nesta quinta-feira, é a vez do primeiro trecho da Ferrovia de Integração Leste-Oeste (Fiol), na Bahia, com investimentos previstos de R$ 3,3 bilhões – o atrativo é a exploração do escoamento da produção de minério de ferro e grãos produzidos na Bahia. E, na sexta-feira, serão leiloados seis terminais portuários, cinco deles no Porto de Itaqui, no Maranhão, e um no Porto de Pelotas, no Rio Grande do Sul, com previsão de R$ 600 milhões em investimentos. Em um momento de enorme incerteza econômica e risco fiscal, um bom desfecho para os leilões desta semana será um sinal de confiança do setor privado na capacidade de o país se recuperar no longo prazo; caberá a Executivo e Legislativo demonstrarem que essa confiança não será em vão.
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