Testagem gratuita, vacinas, restrições de viagens: as estratégias da Inglaterra para reabertura

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, detalha novas diretrizes para o combate à pandemia, em Londres, 5 de abril| Foto: Stefan Rousseau / POOL / AFP

A Inglaterra dará início a uma saída cautelosa do lockdown com a reabertura de restaurantes e bares ao ar livre, academias, salões de beleza e outros serviços não-essenciais a partir de 12 de abril. Após três meses de bloqueio, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, divulgou os detalhes dos novos passos do combate à pandemia de Covid-19 em entrevista coletiva nesta segunda-feira (5). As medidas incluem testagem gratuita para população.

Johnson afirmou que a Inglaterra passou pelos “quatro testes” necessários para o alívio das restrições da pandemia: queda significativa de casos novos de Covid-19; capacidade do sistema nacional de saúde; avanço da vacinação; e o fato de novas variantes do vírus não terem alterado o quadro no país.

O premiê agradeceu aos britânicos por terem seguido as regras de isolamento durante o feriado da Páscoa: “Está claro agora que isso está valendo a pena. O resultado de seus esforços é que, a partir de 12 de abril, poderemos avançar para o passo 2”, disse Johnson na sede do governo do Reino Unido. Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte estão seguindo cronogramas diferentes.

Johnson também pediu que as pessoas tomassem a vacina quando chegasse a sua vez, lembrando que outros países enfrentam ondas de contágios do coronavírus.

Testes de rotina gratuitos e rastreamento de contatos

A partir da sexta-feira, todos os adultos e crianças na Inglaterra poderão fazer testes rápidos de coronavírus gratuitamente duas vezes por semana. O objetivo é detectar casos de infecção assintomática e impedir novos surtos no país.

O governo disse que os testes rápidos para toda a população estarão disponíveis gratuitamente a partir de sexta-feira (9) pelo correio, nas farmácias e nos locais de trabalho. O chamado programa de testagem de fluxo lateral estava, até então, disponível apenas para profissionais de saúde, trabalhadores que atuam presencialmente, pessoas vulneráveis e famílias com crianças em idade escolar. Os testes usados fornecem resultados em minutos, mas são menos precisos do que os testes de PCR usados para confirmar oficialmente os casos de Covid-19.

O governo insiste que eles são confiáveis. O ministro da Saúde, Edward Argar, disse que os testes produziram uma taxa de falsos positivos – mostrando que alguém tem o vírus quando não tem – em menos de 1 em cada 1.000 testes. “Portanto, esse ainda é um teste altamente preciso que pode desempenhar um papel muito importante na reabertura de nosso país e de nossos negócios, porque é muito simples de fazer”, disse Argar à Sky News.

O primeiro-ministro Boris Johnson afirmou que testar regularmente pessoas que não apresentam sintomas de Covid-19 ajudaria a “interromper os surtos, para que possamos voltar a ver as pessoas que amamos e fazer as coisas de que gostamos”.

Mais cedo, o sistema público de saúde britânico afirmou que o aplicativo usado para rastreamento de contatos será atualizado para que possa fazer alertas mais rápidos quando um caso da infecção for detectado em um local. Todas as pessoas que queiram visitar um pub ou restaurante precisarão oferecer informações de contato ou fazer “check-in” por esse aplicativo.

Restrições de viagem

O Reino Unido registrou quase 127.000 mortes por coronavírus, o maior número de mortes na Europa. Mas as infecções e as mortes caíram drasticamente durante o bloqueio e desde o início de uma campanha de vacinação que até agora deu a primeira dose a mais de 31 milhões de pessoas, ou seis em cada dez adultos.

Johnson não disse aos britânicos quando ou onde eles poderão viajar para o exterior nas férias, algo que atualmente é proibido por lei. O governo disse que não suspenderá a proibição de viagens antes de 17 de maio. O premiê confirmou que a Inglaterra implementará um sistema de “semáforos” para viagens internacionais, que classifica os países como verdes, amarelos ou vermelhos com base no nível de infecções. Pessoas retornando de países verdes não teriam que se isolar.

Mas o governo britânico ainda não detalhou quais países pertencem a cada categoria e não confirmou quando a proibição de viagens será suspensa. Esta proibição está em vigor até o dia 17 de maio. Segundo a imprensa local, moradores da Inglaterra precisam de um “bom motivo” para deixar o país, ou enfrentam multa de até 5 mil libras (cerca de R$ 39 mil, na cotação atual).

Em resposta a críticas da oposição de que a política de quarentena em hotéis para viajantes que chegam ao Reino Unido é insuficiente para conter casos importados de Covid, Chris Whitty, médico chefe do governo britânico que estava ao lado do primeiro-ministro na coletiva de hoje, disse que casos da variante primeiro registrada na África do Sul estavam estáveis e que não havia evidência de que eles estavam aumentando.

No entanto, Whitty ressaltou que as medidas para controlar o avanço do coronavírus no país deverão permanecer por algum tempo. “Nós teremos problemas significativos com a Covid no futuro próximo e não acho que podemos fingir que não será assim”, alertou o especialista.

Passaportes de vacina

O governo também está considerando um sistema de certificados, ou “passaportes de vacina”, que permitiria às pessoas que procuram viajar ou comparecer a eventos mostrar que receberam uma vacina contra o coronavírus, recentemente testaram negativo para o vírus ou recentemente tiveram Covid-19 e, portanto, têm alguma imunidade.

Na coletiva desta segunda-feira, Boris Johnson afirmou que o sistema de certificados continua em avaliação e que não deve ser adotado antes de maio ou junho. Ele também garantiu que o “passaporte” não seria exigido de pessoas que queiram frequentar estabelecimentos comerciais.

A questão dos passaportes para vacinas tem sido calorosamente debatida em todo o mundo, levantando questões sobre o quanto governos, empregadores, e outros lugares têm o direito de saber sobre o status do vírus de uma pessoa. A ideia é contestada por uma ampla faixa de legisladores britânicos, desde políticos de oposição de centro-esquerda a membros do Partido Conservador de Johnson.

O legislador conservador Graham Brady disse que os passaportes vacinais seriam “intrusivos, caros e desnecessários”. O líder do Partido Trabalhista, de oposição, Keir Starmer, chamou a ideia de “não britânica”.

O governo planeja uma série de eventos experimentais em massa em abril e maio, incluindo jogos de futebol, shows e outros eventos esportivos para ver se as grandes multidões podem retornar aos locais de esportes e entretenimento. Os participantes serão testados para o vírus antes e depois, mas o governo disse que os eventos não envolverão inicialmente passaportes de vacinas.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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