Dívidas se acumulam entre quem perdeu o emprego desde o início da crise sanitária e ainda não conseguiu se recolocar
A crise sanitária provocada pela pandemia que impôs o isolamento social para preservar a saúde dos brasileiros fez surgir um novo tipo de inadimplente. São cidadãos que perderam o emprego e ainda não conseguiram se recolocar no mercado de trabalho. Deixaram de pagar as dívidas, mas não são devedores contumazes.
“São pessoas que não tinham o costume de ter dívidas em aberto e que, por conta da situação atual, entraram nesse problema”, afirma Fernando Modenezi, CEO da fintech Acordo Online, que tem como clientes credores e empresas de cobrança. Mensalmente, cerca 600 mil devedores são acessados por meio da plataforma na tentativa de renegociar as dívidas com pagamento atrasado.
Ele explica que o perfil desse novo tipo de inadimplente está ligado a empréstimos pessoais, que foram levantados para cobrir outras dívidas na hora do aperto ou a despesas com cartão para fazer frente a gastos do dia a dia. Segundo ele, as empresas de cobrança já estudam o perfil desse novo inadimplente na tentativa de dar um tratamento diferenciado.
O professor Nilton Miranda, de 57 anos, por exemplo, ficou inadimplente porque teve o contrato encerrado na escola da Prefeitura onde trabalhava. Ficou apenas com o emprego no colégio do Estado. “Minha renda diminuiu 40%”, conta.
Com as escolas fechadas, Miranda está tendo dificuldade de se recolocar. Por conta disso, deixou de pagar o empréstimo pessoal de cerca de R$ 6 mil que havia feito para quitar a despesa de condomínio do prédio onde mora. A prestação do apartamento também está atrasada. Ele paga uma parcela e deixa outras duas pendentes para evitar a retomada do imóvel.
“Não procuro o banco porque não tenho renda para renegociar”, diz o professor. Ele conta que tem sido procurado pela instituição financeira, que lhe oferece desconto para quitar o empréstimo. No entanto, Miranda não vê sentido levar a negociação adiante enquanto não arranjar outro emprego. “Não dá para fazer acordo só para falar que fez e não pagar.”
O radialista Diego Rocha França Ferreira, de 24 anos, é outro inadimplente de um empréstimo pessoal. Quando foi exonerado do serviço público no ano passado, ele ficou sem condições de pagar as prestações de empréstimo de R$ 7 mil que havia feito para pagar dívidas do Fies e outras contas pessoais.
Ferreira conta que deixou de pagar o empréstimo em janeiro e fevereiro e conseguiu suspender o contrato por três meses. Inicialmente o banco queria dar 30 dias de carência, mas no final acabou sendo 90 dias. “Eu precisava de seis meses de prazo para conseguir me recolocar no mercado de trabalho.”
Mesmo com a carência que conseguiu, ele conta que o banco continua ligando com frequência para saber quando ele voltará a pagar o financiamento. “Já disse que quando tiver condições vou estar acertando.” Apesar da dificuldade, o radialista está otimista porque “uma hora a pandemia vai acabar”.
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