O presidente Jair Bolsonaro promoveu a troca no comando de seis ministérios do governo nesta segunda. Três ministros são caras novas: Carlos Alberto França, nas Relações Exteriores; Anderson Torres, no Ministério da Justiça; e Flávia Arruda, na Secretaria de Governo.
Os outros três já ocupavam cargos no gabinete de Bolsonaro: Walter Souza Braga Netto foi transferido da Casa Civil para a Defesa; Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo para a Casa Civil e André Mendonça voltou à Advocacia-Geral da União (AGU).
Leia abaixo um perfil de quem são os ministros que Bolsonaro escolheu para dar um novo perfil à Esplanada:
Relações Exteriores: Carlos Alberto França
O embaixador Carlos Alberto Franco França.| Reprodução
O diplomata Carlos Alberto Franco França, atual assessor especial do presidente Jair Bolsonaro, foi anunciado como novo ministro das Relações Exteriores no lugar de Ernesto Araújo, que deixou o cargo na segunda-feira (29). Até poucos meses atrás, França ocupava o cargo de chefe do cerimonial da Presidência da República. Foi promovido a ministro de primeira classe (embaixador) em 2019, o último posto da carreira diplomática.
Natural de Goiânia, França tem 56 anos, é graduado em Direito e Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e entrou no serviço diplomático em 1991. Assim como Araújo, nunca chefiou um posto no exterior. Mas atuou como ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil na Bolívia e serviu em representações diplomáticas em Washington (EUA) e Assunção (Paraguai).
França é autor de livros sobre a exploração do potencial hidrelétrico do Rio Madeira e as relações entre Brasil e Bolívia. Foi chefe da Divisão de Ciência e Tecnologia no Itamaraty, em Brasília.
O novo chanceler é descrito como uma pessoa “executiva” e “discreta” pelos colegas. E que, sobretudo, tem familiaridade com o poder. França trabalhou no Planalto nos governos Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Michel Temer, sempre da área do Cerimonial.
Ministério da Justiça: Anderson Torres
Anderson Gustavo Torres.
Até ser indicado para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Anderson Gustavo Torres estava à frente da Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal – cargo que ocupava desde 2019. Ele também é delegado da Polícia Federal (PF), foi chefe de gabinete do ex-deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR) e tem bom trânsito junto à “bancada da bala”.
Torres possui um bom relacionamento com a direção da Polícia Federal, comandada por Rolando Souza. Durante a transição para o atual governo, no fim de 2018, ele foi lembrado para esse cargo, que acabou com Maurício Valeixo, indicado pelo então ministro da Justiça, Sergio Moro. Voltou a ser mencionado para o comando da PF, quando Valeixo deixou o cargo.
Torres também foi lembrado, no ano passado, para o cargo de ministro da Segurança Pública, quando Bolsonaro cogitou desmembrar o atual Ministério da Justiça.
Ele coordenou a atividade de inteligência da PF entre 2007 e 2008 em ações contra o tráfico internacional de drogas, e investigações contra o crime organizado em Roraima, entre 2003 e 2005. Também atuou na coordenação de comissões sobre temas relacionados à segurança pública na Câmara dos Deputados. Antes de integrar a PF, ele foi papiloscopista da Polícia Civil do Distrito Federal.
Foi também diretor de Assuntos Parlamentares e Institucionais da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ANDPF), entidade que em 2017 coletou meio milhão de assinaturas em favor da PEC 412/2009, que prevê maior autonomia funcional e administrativa, inclusive orçamentária, para a PF.
Entre 2007 e 2018, o delegado Torres respondeu a processo por tortura. Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), ele e mais cinco agentes federais teriam sequestrado à luz do dia dois rapazes, Marcelo Lamartine Coelho e Clésio Divino de Castro.
Segundo reportagem da revista Época publicada em 2011, os agentes supostamente queriam descobrir os autores de um furto na casa de dois policiais federais. Para apurar o crime, Torres e os outros policiais teriam aberto inclusive uma investigação paralela, mesmo sem ter competência legal para isso, já que o papel de investigar cabe à Polícia Federal.
Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Torres foi absolvido e que o pedido foi emitido pelo próprio MPF com base na inexistência dos fatos.
Secretaria de Governo: Flávia Arruda
Flávia Arruda na tribuna da Câmara dos Deputados.
Formada em Direito pelo Centro Universitário Euroamericano e filiada ao PL, Flávia Arruda era, até ser indicada para a Secretaria de Governo, a presidente da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) do Congresso Nacional.
Casada com o ex-governador do Distrito Federal e ex-senador José Roberto Arruda, entrou para a política em 2014, quando foi colega de chapa de Jofran Frejat na eleição para o governo daquela unidade da Federação. Isso ocorreu porque a Justiça Eleitoral havia indeferido a candidatura de Arruda, após ele ter sido preso preventivamente pelo envolvimento no escândalo do Mensalão do DEM. A chapa ficou em segundo lugar nas eleições distritais daquele ano, perdendo para Rodrigo Rollemberg (PSB).
Flávia Arruda voltou a disputar eleições em 2018, quando foi a deputada federal mais votada do Distrito Federal, com 121.340 votos.
Na Câmara, foi titular da Secretaria da Mulher e participou das comissões especiais do programa Bolsa Família, da PEC do Fundo de Participação dos Municípios, da reclusão por maus-tratos a animais, da convalidação de atos administrativos, do Marco Legal das Startups e da comissão externa sobre violência doméstica contra a mulher.
Defesa: Walter Souza Braga Netto
Walter Braga Netto.| Isac Nóbrega/PR
O general de Exército Walter Souza Braga Netto foi transferido da Casa Civil para a Defesa. Ex-chefe da intervenção federal no Rio de Janeiro na área de segurança pública durante o governo do ex-presidente Michel Temer, Braga Netto também foi chefe do Estado-Maior do Exército. Ele substituiu Onyx Lorenzoni, quando este foi deslocado para o Ministério da Cidadania, em fevereiro do ano passado.
Nascido em Belo Horizonte, Braga Netto tem 64 anos e cumpre o “perfil mineiro”: prefere o trabalho ao verbo. Ao assumir o comando da intervenção no Rio de Janeiro, que lhe concedeu poderes de governador do estado na área da segurança pública, em 2018, ele determinou a seus subordinados e pediu aos familiares discrição nas redes sociais.
Formado na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), o general é tido como capaz de reconhecer talentos e limitações próprias e de sua equipe; e não toma decisões tempestivamente. Prefere ouvir diversas opiniões. Pesa ainda a favor o fato de Braga Netto não ter pretensões políticas.
Descrito como respeitoso, bem-humorado e afável, o general Braga Netto tem carreira internacional – foi observador militar das Nações Unidas no Timor Leste, e adido na Polônia e nos Estados Unidos. Trouxe a tradição dos militares americanos de trocar e colecionar medalhas. Eles carregam uma espécie de medalhão com o emblema do local onde estão servindo para presentear os visitantes. Braga Netto possui 23 condecorações nacionais e outras quatro estrangeiras.
Casa Civil: Luiz Eduardo Ramos
General Luiz Eduardo Ramos.| Alan Santos/PR
Responsável pela articulação política do governo Bolsonaro desde julho de 2019, o general Luiz Eduardo Ramos foi chamado para ajudar a corrigir a problemática relação do Planalto com o Congresso à época. A experiência na assessoria parlamentar do Exército levou Bolsonaro e seus auxiliares mais próximos a considerarem que Ramos tinha o perfil adequado para a Secretaria de Governo.
Outro ponto que conta a favor de Ramos é a proximidade com Bolsonaro, com quem tem amizade e intimidade. Eles se conhecem há mais de 45 anos, quando cursaram a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EspCEX), em Campinas (SP).
Foram contemporâneos na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), embora Ramos tenha se formado aspirante a oficial em 1979, dois anos após Bolsonaro ter concluído a escola.
General de quatro estrelas, Ramos comandou a Minustah (sigla em português para a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) entre 2011 e 2012 e, até 2019, era o comandante militar do Sudeste. Também foi adido militar em Israel, vice-chefe do Estado-Maior do Exército e Comandante Militar do Sudeste.
Advocacia Geral da União: André Mendonça
André Mendonça.| Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Ministro da estrita confiança de Jair Bolsonaro, André Mendonça volta ao seu cargo de origem, o de advogado-geral da União.
Ele foi um dos responsáveis na atuação para diminuir a temperatura da crise institucional entre o presidente e os demais poderes no ano passado.
Também tomou a dianteira, em algumas frentes judiciais, para proteger Bolsonaro e seu grupo político. Coube a Mendonça, por exemplo, o papel de entrar com um pedido de habeas corpus no STF, em 28 de maio do ano passado, para que o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, não fosse investigado no inquérito das fake news.
Mendonça também determinou a abertura de um inquérito pela Polícia Federal (PF) para apurar o vazamento de dados pessoais do presidente e de seus familiares pelo grupo hacker Anonymous.
Mendonça fez carreira na Advocacia-Geral da União (AGU). Foram mais de 20 anos de experiência no órgão. No comando do órgão, foi responsável por alterar o entendimento da instituição para defender, no STF, a constitucionalidade da prisão a partir de condenação em segunda instância. Foi também sob sua gestão que a AGU assegurou, em 2019, a recuperação de R$ 7,5 bilhões para os cofres públicos por meio de acordos de leniência com empresas envolvidas em irregularidades.
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