A segunda-feira (29) foi movimentada com trocas de ministros no governo — apenas uma delas não estava prevista. O presidente não pensava em trocar o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, mas ele pediu para deixar o cargo quando percebeu que estava sendo um peso para o presidente nas relações com o Senado. O que ficou nítido depois que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pediu a demissão de Araújo nas redes sociais.
A situação do ministro se agravou quando ele foi ao Senado na semana passada. Ernesto Araújo foi questionado pela presidente da Comissão de Relações Exteriores, Kátia Abreu, por que ele não deixava o comando da pasta.
No domingo (28), o ministro postou no Twitter. “Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: ‘Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.’ Não fiz gesto algum”, escreveu.
Ou seja, Araújo insinuou que a senadora estava fazendo lobby para o 5G chinês. Mas quando esse post foi publicado, boa parte dos parlamentares ficou do lado da senadora e contra o ministro.
Na quinta-feira (25), os presidentes da Câmara e do Senado foram a São Paulo conversar com um grupo de empresários e banqueiros, e voltaram com as queixas deles. tanto que no dia seguinte o presidente da Câmara, Arthur Lira, já fez lá um manifesto dizendo que poderia haver “medidas amargas e fatais” para o presidente da República.
Depois disso tudo Rodrigo Pacheco deu o tiro de misericórdia. O ministro percebeu que não tinha como continuar no cargo e pediu demissão. Bolsonaro aceitou.
Mais mudanças no governo
Outra baixa foi o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. Mas nesse caso, o presidente já havia se programado. O objetivo é reorganizar o ministério, deixar o comando mais ativo e dinâmico, e fazer com que a pasta defenda mais o governo.
Em abril de 2020, Bolsonaro já havia se queixado dele e de Sergio Moro porque queria receber relatórios de inteligência. Segundo Bolsonaro, ele queria se prevenir e parar de ter informações importantes do governo pelo noticiário. Mas a situação não mudou só com a saída do ex-juiz, portanto, o presidente decidiu tirar Azevedo e Silva do comando da pasta.
Além deles, o presidente tirou o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, José Levi. Esse foi o ministro que induziu Bolsonaro ao erro na questão da Adin do toque de recolher, que deixou Bolsonaro com o pincel e levou a escada. Como a ação foi movida pelo presidente, o ministro Marco Aurélio, do STF, não aceitou afirmando que a AGU deve entrar com pedidos do gênero.
Com essa reconfiguração, André Mendonça, atual ministro da Justiça, volta ao cargo na Advocacia-Geral da União. E quem assume o lugar dele é o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, que é advogado e delegado federal de carreira.
O Centrão pode estar por trás de todas essas mudanças políticas. Já conseguiram a demissão de Eduardo Pazuello, de Ernesto Araújo e ainda vão tentar que Ricardo Salles deixe o Ministério do Meio Ambiente.
Eles estão testando até onde vai o fim do presidencialismo de coalizão determinado por Bolsonaro. O que restou foi o “presidencialismo presidencial”, sem força de partidos políticos dentro do governo.
Se um ministro não tem o apoio do Senado, que é um órgão importantíssimo que apoia inclusive embaixadores, claro que o presidente da República vai ter aceitar a saída dele. Até Ernesto Araújo sabe disso.
Triste surto de um policial na Bahia
Segundo o que circula nas redes sociais, o policial militar que morreu depois de atirar em seus colegas, em Salvador, teve um surto psicótico porque se recusou a seguir as ordens dadas pelo comando para restringir a circulação de pessoas nas ruas.
Ele fez um vídeo em que disse: “Não vou deixar, não vou permitir, que violem a dignidade e honra do trabalhador”. Esse caso teve repercussões em Salvador e certamente vai dar uma sacudida nas atuações dos policiais no Brasil.
Alguns vídeos mostram que alguns policiais jogam as pessoas no chão com brutalidade e muita violência. É de dar pena. Muitos deles são formados em Direito e sabem quais são os direitos e garantias individuais que estão sendo violados pelas medidas de restrição que estão sendo adotadas.
Eu não estava no Farol da Barra, onde aconteceu o caso, portanto, não sei exatamente o que aconteceu. Mas a gente poderá perceber as consequências.
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