De Gaulle: herói de guerra e pai amoroso de uma garota com síndrome de Down

De Gaulle com a filha Anne: “Ela é a minha alegria e a minha força”| Foto: Reprodução

O líder francês Charles De Gaulle é conhecido como um general brilhante, um herói da Segunda Guerra Mundial, e um presidente que deixou uma marca inapagável na política de seu país. Em muitos aspectos, ele foi ainda mais importante para a França do que Winston Churchill foi para a Inglaterra. De Gaulle também é descrito como um homem recluso e rigoroso, e que mantinha sua vida privada completamente distante dos holofotes. Talvez por isso, poucas pessoas conheçam a história de sua filha Anne, que tinha síndrome de Down.

Anne nasceu em 1928, e imediatamente se transformou no centro das atenções de De Gaulle e sua mulher, Yvonne, que tinham outros dois filhos. Àquela altura, pouco se sabia sobre as causas da síndrome de Down, mas era evidente que havia algo de peculiar na garota. Anne tinha dificuldades para caminhar e se alimentar, e jamais conseguiu pronunciar mais do que algumas poucas palavras.

Yvonne, que dedicava-se à criança quase que em tempo integral, e o marido viveram dias difíceis ao lado da garota conforme a França era ocupada e a família se mudava para a Argélia. Com Anne, De Gaulle se transformava: cantava músicas e fazia brincadeiras. Sempre ocupado, ele achava tempo para fazer longas caminhadas pelo jardim de casa segurando a mão da garota e conversando atenciosamente com ela. A história é ainda mais notável porque, exatamente naquela época, a Europa via a ascensão da eugenia — a ideia de que certos tipos de pessoas, entre eles os portadores de deficiência, não são dignos de viver e devem ser eliminados.

Alegria e força

Em 1940, em uma das raras vezes que tratou do assunto fora do círculo familiar, De Gaulle afirmou a um amigo:  “O nascimento dela foi uma prova para minha esposa e eu. Mas, acredite, Anne é a minha alegria e a minha força. Ela é a graça de Deus em minha vida. Ela me manteve na segurança da obediência à vontade soberana de Deus.”

Anne morreu de pneumonia aos 20 anos de idade, nos braços do pai. De Gaulle ficou tão abalado que não conseguiu cuidar dos preparativos para o funeral. Por causa da garota, Yvonne de Gaulle criou uma fundação para cuidar de garotas com distúrbios mentais. Todos os anos, eles visitavam o túmulo da garota no dia de Finados.

Em 1962, o líder francês De Gaulle sofreu um atentado a bala quando estava dentro de seu carro. O tiro ricocheteou na moldura de uma fotografia de Anne, que ficava no automóvel do líder francês, e não o atingiu.

Eugenia institucionalizada

De Gaulle morreu em 1970. De lá para cá, muita coisa mudou na França. Em 1975, o Parlamento aprovou uma lei legalizando o aborto, por qualquer motivo, até a 12ª semana de gestação. Àquela altura, a causa da síndrome de Down (uma variação no cromossomo 21) havia sido descoberta. E o autor do achado foi o geneticista francês Jerome Lejeune, que também fez uma campanha ativa contra a legalização do aborto em seu país.  Hoje, segundo a Fundação Jerome Lejeune, mais de 95% dos bebês que recebem esse diagnóstico na França são abortados. Na maior parte da Europa, as estatísticas são semelhantes.

Anualmente, para chamar atenção para o problema, organizações de diversos países provem o Dia Mundial da Síndrome de Down, em 21 de março. Em 2014, a Fundação Jerome Lejeune ajudou a promover uma campanha internacional de publicidade sobre o tema: com o nome de “Querida Futura Mãe”, o vídeo apresenta crianças e jovens com síndrome de Down e traz uma mensagem de encorajamento. A palavra aborto nem chega a ser mencionada. Ainda assim, a campanha foi banida na França porque poderia “perturbar a consciência” de mulheres que optaram pelo aborto.

Confira a matéria na gazeta do Povo

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