Feminista propõe que homens casados não chamem a esposa de ‘minha mulher’

Feminista querendo ditar regra para as mulheres, embora provoque repulsa, já nem causa mais surpresa. A tentativa de interferir no casamento dos outros, porém, sugerindo a forma como marido e esposa se relacionam, gerou grande debate nas redes sociais.

A mais recente proposta do movimento feminista, que vê em tudo uma tentativa de opressão de homens sobre mulheres, é abolir da linguagem o pronome possessivo ‘minha’. A insinuação das entrelinhas é a de que homens que chamam as esposas de ‘minha mulher’, ou seja, todos os homens casados, desrespeitam as esposas, tratando-as como objeto.

Se o pitaco na vida alheia foi só para “lacrar”, como dizem os internautas nas redes sociais, não deu certo. A “lacradora” de ocasião, a feminista Débora Diniz, levou centenas de invertidas. Ao que parece, fugiu do debate bloqueando todo mundo, mas não antes de terem printado seu post, que seguiu sendo compartilhado.

A discussão acabou gerando questionamentos muito pertinentes, por isso trago para cá a reflexão acerca de mais essa tentativa de colocar mulheres em condição de eternas vítimas e homens, como sendo todos vilões. Trago também a inquietação sobre o novo ataque à língua portuguesa.

Premissa errada

Antes que apressados (ou apressadas) venham me atacar na área de comentários, deixo claro o óbvio: repudio qualquer tipo de violência, inclusive a de homens contra mulheres. Sou solidária a todas as mulheres vítimas de agressão. Não nego a necessidade de se discutir a questão da violência contra a mulher, que existe e precisa sim ser combatida por toda a sociedade.

Repudiar truculência e apoiar punição aos culpados de agressões é o que faz e quer todo cidadão de bem, seja ele homem ou mulher. Alô, feministas! Não contem comigo para generalizar, disseminar rancor, espalhar ódio aos homens, como se fossem todos iguais e todos maus.

A imensa maioria respeita as mulheres como seres humanos que são, e também pela própria condição feminina. Tanto respeitam que oferecem proteção, não por se acharem superiores, mas porque sabem que nós, mulheres, temos sim maior fragilidade física, por questões biológicas.

Ao publicar no Twitter que os homens do século XXI não deveriam referir-se às esposas como ‘minha mulher’, mas apenas pelo nome, a antropóloga, professora universitária e feminista Débora Diniz, partiu da premissa que o pronome ‘minha’, por ser possessivo, necessariamente refere-se à posse da mulher.

Ignorou que o mesmo pronome, no gênero masculino (meu), é usado pelas mulheres ao fazerem referência ao marido. E ignorou a própria definição do dicionário para a palavra ‘minha’, como discuto abaixo. Não à toa a tentativa de ditar regra aos casados virou motivo de deboche.

Para salvação dos internautas, aborrecidos com mais essa lenga-lenga feminista, gerou também um debate saudável sobre a relação de pessoas casadas e sobre a necessidade de se discutir problemas reais e não, imaginários. Só assim é possível que homens que realmente considerem mulheres como objeto possam refletir e evoluir.

Definição de ‘minha’

Na definição do dicionário a palavra ‘minha’ é um pronome possessivo, que determina um substantivo do gênero feminino que pertence a, é parte de, está relacionado com a primeira pessoa do singular (eu). Assim, quando um professor fala ‘minha aluna’ ele obviamente está dizendo que aquela aluna pertence a uma turma para a qual ele dá aula.

Só loucos entenderiam que ele está declarando ter posse da aluna e poder, por isso, fazer o que bem quiser com ela. Nunca vi ninguém interpretar o pronome possessivo desta forma. É claro que se o professor estiver falando de uma coisa, algo que ele comprou ou ganhou, aí sim, está dizendo ser dono daquele objeto: uma caneta, por exemplo.

É até bobo ter que explicar isso para adultos, mas algumas das muitas pessoas surpresas com a problematização da palavra ‘minha’ destacaram justamente esse ponto no Twitter. Relembraram essa definição do dicionário, de que ‘minha’ é o pronome para designar que algo do gênero feminino pertence a mim (quando for uma coisa) ou se relaciona comigo, no caso de ser uma pessoa.

“Acho que aí refere-se à relação de uma mulher com um homem e não à posse”, disse um internauta, antes de brincar: “lacrou errado, volte duas casas”. Ou seja, olhe no dicionário, veja a definição correta e não invente novas interpretações para o que é senso comum.

Se referir-se à esposa como ‘minha mulher’ fosse ofensivo, casais de lésbicas também deveriam ser recriminados. Elas costumam, afinal, apresentar a companheira como ‘minha companheira’ ou até ‘minha mulher’ mesmo, assim como gays falam ‘meu parceiro’, ‘meu companheiro’ ou ‘meu marido’ sem que isso pareça ser um problema entre eles.

Nunca vi feministas, que, aliás, também costumam militar pela causa LGBT, reclamando que haja algo errado em uma mulher, que tem uma relação conjugal com outra mulher, falar ‘minha companheira’; ou num homem casado com outro homem falar ‘meu marido’ ou ‘meu companheiro’.

Só homens casados com mulheres no século XXI é que não podem apresentar a esposa explicando a relação que eles têm? Precisa ficar só na individualidade do nome, como se fosse uma mulher qualquer, e não a mulher especial com quem ele decidiu compartilhar a vida?

Protestos de homens e mulheres

Muitos homens protestaram, com razão, fazendo questionamentos honestos: “Então tenho que dizer que esta é a fulana, a mulher com quem me casei? Preciso desenvolver uma tese para explicar que ela é ‘minha mulher’?”

“Se não posso dizer que é ‘minha mulher’ digo o quê? Mulher do vizinho? Falar um nome feminino qualquer e ser interrompido depois para explicar se é esposa, prima, amiga ou colega de trabalho. E isso só por não poder falar ‘minha’? Isso é um passo em direção à igualdade ou à esquizofrenia coletiva?”

Comentário em post feminista no Twitter

Em outro comentário escreveram: “Por que não falar os dois? ‘Essa fulana, minha mulher ou minha esposa’. Se o problema é paranoia de ficar catando patriarcado no uso do pronome possessivo, então não pode falar ‘minha família’, ‘meu país’, ‘meu professor’, ‘meu filho’, ‘meus alunos’, ‘minha escola’… Quando eu falo ‘minha irmã’, ‘meus primos’, ‘meus amigos’, estou objetivando todos também?”

Se usar o possessivo ‘minha’ significasse necessariamente que o homem se acha dono da mulher, realmente nenhum homem poderia mais fazer referência à mãe como ‘minha mãe’, à filha como ‘minha filha’ ou a uma amiga como ‘minha amiga’.

“Uso ‘minha’ porque é companheira que diz respeito a mim e não a outro. Acho bem normal. Eu sempre digo: a Bete. E quando o sujeito que não me conhece, nem conhece a Bete, me pergunta quem é ela, digo que é ‘minha mulher’ ou esposa. Caçadores de pelo em ovo, na falta do que fazer, inventam bobagens e prejudicam as lutas reais.”

Feminismo enfraquecido

Esse é um ponto importante: enquanto uma ideia “lacradora” gera uma discussão inútil, deixa-se de pensar sobre possíveis soluções para o problema real daqueles homens que agridem suas companheiras apenas porque são mais fortes e se acham superiores a elas. E as mulheres agredidas ficam esquecidas, no limbo das discussões vazias.

As mulheres casadas que comentaram sobre a regra sugerida pela feminista, na quase totalidade escreveram que nunca viram nenhum problema em ser chamadas pelos maridos de ‘minha mulher’. Muitas ainda enfatizaram que gostam disso. Teve quem dissesse que gosta mais ainda quando é chamada de ‘minha linda’, um sinal de carinho.

E não foram poucas as que se posicionaram dizendo: “Fale por você, de verdade. Você está longe de representar as mulheres.” Este é outro problema do movimento feminista atual: diz representar todas as mulheres, mas a maioria das mulheres não se sente representada, justamente por não apoiar as pautas da militância raivosa, que cataloga todo mundo por baixo, adora generalizar, acusar, mas só propõe inutilidades.

Incoerências do discurso feminista

Essa história contrasta com a aprovação às “cachorras” do funk, aquelas mulheres que fazem questão de se colocar no papel de objetos, justamente para atrair a atenção de homens truculentos em meio a aglomerações.

Todos já vimos cenas na televisão: mulheres que dançam de shortinho cavado e pernas abertas em ambientes lotados de homens movidos a álcool (quando não a drogas), onde muitos claramente não respeitam as mulheres. Há também o caso daquelas artistas que se apresentam seminuas, com rebolado insinuante, em busca de fama e popularidade fáceis entre os homens.

Tanto as “cachorras” quando as artistas ousadas, pra dizer o mínimo, costumam ser enaltecidas pelas feministas como mulheres “empoderadas”. Não estanha que a mulher que está num casamento ou numa relação saudável, que tem a companhia de um homem respeitador, se oponha às feministas.

É muito clara a incoerência do discurso de querer classificar todo homem como ameaça apenas porque ele chama a esposa de ‘minha mulher’. E de enaltecer as mulheres que, por escolha própria (e ninguém tem nada com isso) colocam-se na condição de objetos de desejo, atraindo trogloditas de todo tipo para o seu convívio.

A discussão realmente seria cômica se não fosse trágica. E pensar que muitas meninas e jovens se inspiram em ativistas com esse tipo de discurso, achando que elas estão criando uma sociedade mais igualitária, sem se dar conta de que expor a luta pelos direitos das mulheres a esse tipo de ridículo só descredencia a causa.

Liberdades individuais

“Nem tenho esposa, mas que tal deixar isso para os sujeitos da situação? Dar liberdade para cada mulher escolher como quer ser chamada? Perguntar e respeitar o que cada uma prefere? Onde já se viu, em pleno século XXI, apitar na relação alheia?”

A provocação de outro internauta é pertinente, porque entra no tema da liberdade, que feministas e toda a “lacrolândia” de esquerda fingem defender, apenas quando diz respeito a si próprias. Apontam o dedo, patrulham, ditam regras e depois ainda acusam os outros, os verdadeiros defensores da liberdade, de serem fascistas.

A gritaria não passa de estratégia de criar narrativas e repeti-las à exaustão para atingir mentes distraídas. Mas as pessoas estão se vacinando contra isso também. É claro que a feminista teve algum apoio, inclusive de homens que se enquadram naquele perfil “homem em desconstrução”. Entraram para o rol do deboche.

“Chamo de ‘minha companheira’, mas confesso que não gosto do ‘minha'”, escreveu um. Na sequência, alguém perguntou: “Mas ela é companheira de mais alguém além de você? Ela é sua companheira e pode te chamar de meu companheiro. Meu filho é meu e não de outra pessoa. Meu pai é meu e de meus irmãos e não de outras pessoas. Acho que rola uma neura com isso.”

“Esse é o tipo de discussão que não cabe no mundo real. É sem nexo, coisa de gente que nunca pisou numa favela. Uma mulher sofre muito mais por falta de creche do que por ser chamada de ‘minha mulher’.”

Eu já falei em outro vídeo sobre os ataques à língua, aos artigos masculino e feminino, aquele devaneio de acharem que implantando uma “linguagem neutrE” estariam resolvidos os problemas de discriminação ou preconceito contra transexuais.

Não é à base da força, da imposição, muito menos da mudança forçada da língua que vão conseguir mais tolerância. A maioria das pessoas não tem preconceito e começa a perder a paciência com tudo isso, o que, claro, enfraquece a causa original, por mais legítima que seja.

Para concluir apelo a uma palavra e a uma frase que militantes raivosos costumam jogar na cara de interlocutores, sem olhar para o próprio umbigo. A palavra é “respeito”. Respeito à língua, ao casamento dos outros, às relações humanas, às pessoas e à diversidade de ideias. Se você não quer que o seu marido use o pronome possessivo, tudo bem. É um acordo de vocês. Mas deixem os outros em paz.

Feministas que eventualmente tenham vivido uma “relação patriarcal” difícil dentro de casa ou se relacionado com homens que não respeitam mulheres e ficaram marcadas por isso precisam entender que nem todas as relações são assim. Há milhões e milhões de pais que amam e respeitam suas filhas, assim como uma infinidade de homens e mulheres felizes em seus relacionamentos. “Mais amor, por favor”.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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