Eleita como uma das três mulheres mais poderosas do Brasil pela revista Forbes, Luiza Heleno Trajano, de 69 anos, ganhou notoriedade no meio empresarial ao tornar a redes de lojas Magazine Luiza uma das maiores no ramo do varejo no país. Nos últimos tempos, ela vem chamando a atenção do meio político também por seus posicionamentos sociais. Tanto que a empresária passou a ser cortejada por partidos de olho nas eleições de 2022.
As investidas não são à toa. Segundo a colunista Vera Magalhães, do jornal O Globo, levantamento recente feito por um grande instituto de pesquisa mostra que Luiza Trajano teria 10% das intenções de voto para presidente da República se o pleito fosse hoje. A empresária aparece empatada tecnicamente com o apresentador Luciano Huck, que foi lembrado por 9% dos entrevistados. Trajano aparece atrás apenas do presidente Jair Bolsonaro (26%) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (25%). Detalhe importante: a pesquisa foi espontânea, quando não se apresenta uma lista prévia de nomes.
Um dos partidos que sonham com a filiação de Luiza Trajano é o PT. Os petistas veem na dona da rede Magalu a pessoa ideal para compor chapa ao lado de Fernando Haddad na disputa pela presidência do ano que vem. A ideia é repetir a estratégia vitoriosa que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, quando ele formou uma aliança com o empresário José de Alencar, dono da Coteminas, que foi eleito vice-presidente.
“Tem gente no PT que tem saudade da dupla Lula-Zé Alencar. Ele foi a prova que um grande empresário pode ter compromisso com o país e ter responsabilidade social. Tem gente que acalenta o sonho de termos um vice assim”, disse Haddad em entrevista a Rádio Super, em Belo Horizonte.
Na mesma linha, o vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que o partido quer se “reconectar” com o setor produtivo e com o eleitor de centro. “Eu acho uma super chapa: Haddad/Luiza Trajano”, admitiu Quaquá.
Em que pese as investidas públicas do PT, Luiza Trajano afirma não ter pretensões políticas para 2022 e que não recebeu convite para filiação. “Minha atuação se dá por meio da sociedade civil organizada”, escreveu Trajano nas suas redes sociais recentemente.
A proximidade da empresária com os integrantes do PT vem de longa data. Durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, por exemplo, Trajano era uma espécie de conselheira informal da petista. Durante o processo de impeachment, a dona da rede de lojas saiu em defesa de Dilma em suas redes sociais.
Luiza Trajano é conselheira de Huck e Doria
Apesar de cortejada pelo PT, Luiza Trajano mantém interlocução com dois nomes de centro que podem vir a disputar o Palácio do Planalto no ano que vem. Um deles é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com quem a empresária criou o Lide Mulher, braço feminino do Grupo de Líderes Empresariais. Os tucanos também sonham em tê-la em seus quadros, de preferência como vice-presidente na chapa de Doria.
Já o apresentador Luciano Huck, atualmente sem partido, tem participado de conversas com o setor empresarial por intermédio de Trajano. O artista inclusive é um dos principais garotos propaganda da rede Magazine Luiza. Durante a pandemia, ambos estiveram em debates virtuais e presenciais que discutiram o cenário econômico nacional. Os dois poderiam formar uma chapa outsider “puro sangue”.
Empresária também é cortejada pelo PSB, mas para cabeça de chapa
Outro partido que sonha com uma filiação de Luiza Trajano é o PSB. Não é a primeira vez que a legenda tenta lançar um candidato outsider — em 2018, cortejou o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que ganhou notoriedade no julgamento do mensalão. Mas o magistrado declinou do convite.
O deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli (PSB-PR) disse a um blog do portal Metrópoles que a sigla estaria se articulando em prol do nome da dona da rede Magalu. “O PSB pode ter uma candidata a presidente da República que é muito interessante, que é a Luiza Trajano. Nem sei se eu podia falar isso aqui”, comentou o parlamentar do Paraná sobre os bastidores das negociações.
Pautas feministas e raciais ampliam visibilidade da empresária
Antes conhecida apenas no meio empresarial e através das ações de divulgação da Magalu, Luiza Trajano ganhou notoriedade na sociedade civil ao levantar bandeiras feministas e raciais nos últimos anos. Através do movimento “Mulheres pelo Brasil”, a empresária lidera um grupo de mulheres que buscam a igualdade de gênero pelas empresas do país. Nas eleições municipais do ano passado, por exemplo, passou a projetar candidatas femininas e suas bandeiras, no intuito de eleger um maior número de mulheres na política.
Ainda no ano passado, a rede de lojas comandadas por Luiza Trajno lançou um programa de trainee para a contratação apenas de pessoas negras. O programa gerou polêmica e chegou a ser alvo de ações na Justiça, mas acabou sendo mantido pela empresa.
“Estamos absolutamente tranquilos quanto a legalidade do nosso Programa de Trainees 2021. Inclusive, ações afirmativas e de inclusão no mercado profissional, de pessoas discriminadas há gerações, fazem parte de uma nota técnica de 2018 do Ministério Público do Trabalho”, se manifestou a rede na época.
Agora, já em 2021, Luiza Trajano passou a liderar outro movimento a favor da vacinação contra a Covid-19. Liderado pela empresária, o grupo “Unidos pela Vacina” afirma que pretende possibilitar a vacinação de todos os brasileiros até setembro deste ano.
Segundo ela, o propósito do movimento não é adquirir vacinas, nem fazer doações para o governo nesse sentido. “Não vamos sair comprando vacinas. O governo não precisa de dinheiro para comprar vacina, se a necessidade fosse dinheiro seria mais fácil”, disse a executiva em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.
Ela disse que o movimento deve atuar, por exemplo, no transporte de vacinas, mas nunca na compra direta. O Unidos pela Vacina se propõe ainda a fazer estudos logísticos e a “ponte” entre laboratórios e o governo.
A trajetória de Luiza Trajano
Dona de uma das 25 maiores redes de varejo do mundo e com um patrimônio de mais de R$ 30 bilhões, Luiza Trajano começou a sua carreira no município de Franca, cidade do interior de São Paulo onde nasceu. Aos 12 anos de idade começou a trabalhar na pequena loja “Cristaleira”, que recém tinha sido adquirida pela família. Após um concurso no rádio da cidade, a loja foi rebatizada com o nome Magazine Luiza, em homenagem à tia, Luiza Trajano Donato.
Em 1991, já formada em Direito e em Administração, a sobrinha recebeu da tia a missão de comandar as lojas, que naquela altura já tinha algumas filiais no interior de São Paulo e recém tinha chegado ao estado de Minas Gerais. Como uma das primeiras mudanças idealizadas pela jovem empresária, Luiza Trajano adotou a informatização em toda a rede e passou a criar os primeiros modelos de comércio eletrônico no Brasil.
Chamadas de “lojas virtuais”, na época essas lojas vendiam produtos por meio de terminais multimídia, com vendedores orientando clientes, sem necessidade de produtos em exposição ou no estoque. No ano seguinte, em 1992, também nasce o projeto “Só Amanhã”, um único dia na semana em que os clientes podiam comprar produtos anunciados por um preço muito abaixo da média do mercado. Na internet, a promoção era divulgada como “Só Hoje”.
Em 2003, a Magazine Luiza iniciou um intenso processo de expansão, que começou com a compra das lojas Líder e a rede Wendel, ambas no interior de São Paulo. Nos próximos anos, entre aquisições e inaugurações de novas unidades, a empresa se consolidou como uma das principais do segmento, somando mais de 750 lojas espalhadas por todo o Brasil e uma fortíssima presença virtual. O formato de e-commerce e a plataforma marketplace da varejista são hoje reconhecidos como cases de sucesso.
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