É com um certo alívio – pois motivo para comemoração não existe, ainda mais diante de 250 mil mortes causadas pela Covid-19 – que o país recebe a notícia de que o PIB de 2020 sofreu uma queda de 4,1% na comparação com o de 2019. A redução era certa, devido ao estrago econômico da pandemia; só a sua dimensão era uma incógnita, e nos momentos mais agudos das medidas de restrição aos negócios houve estimativas de um tombo de até 10%. Mais recentemente, já havia um certo consenso de que a redução estaria na casa dos -4%, mas o resultado final ainda veio ligeiramente melhor que as últimas previsões do mercado financeiro, já que no boletim Focus de segunda-feira, dia 1.º, a mediana das estimativas era de -4,22%.
Os que enxergam o copo meio cheio ainda apontarão que várias economias desenvolvidas, como Alemanha, Itália, Canadá, França e Reino Unido, tiveram quedas maiores que a brasileira. No entanto, o infortúnio alheio não reduz em nada nossa própria tragédia. E, em boa parte, a recuperação depende do que for feito internamente, mais que do cenário externo.
A importância fundamental da vacinação em massa é ressaltada pelo ministro Paulo Guedes. Não há outro meio de bloquear a circulação do vírus a não ser a imunização do maior número possível de pessoas
Foram medidas “domésticas”, aliás, as responsáveis por evitar uma queda mais forte. Três programas foram apontados como decisivos: o auxílio emergencial; o Pronampe, que proporcionou capital de giro a micro e pequenas empresas; e o Programa de Manutenção do Emprego e Renda (Bem), que permitiu a manutenção de empregos com os acordos de redução de salário e jornada, ou suspensão temporária do contrato de trabalho, com compensação paga pelo governo em ambos os casos. Eles ajudaram a preservar ao menos parte da renda e do poder de compra da população – e, ainda assim, pela ótica da despesa a maior queda foi justamente a do consumo das famílias, que despencou 5,5%.
Esse tipo de medida ainda será necessário por algum tempo, pois o recrudescimento da pandemia de Covid-19, com a agravante das novas variantes do coronavírus, segue levando governantes a ordenar medidas de restrição aos negócios. Daí a importância fundamental da vacinação em massa, ressaltada também pelo ministro Paulo Guedes. Não há outro meio de bloquear a circulação do vírus a não ser a imunização do maior número possível de pessoas – um raciocínio que vale para qualquer doença, independentemente de ela ter ou não tratamento.
Felizmente, o Brasil tem experiência em programas de vacinação em larga escala e capacidade de aplicar muitos milhões de doses em curto período de tempo. O gargalo, no caso da Covid-19, é a falta de vacinas. O país espera ansiosamente que Fiocruz e Butantan sejam capazes de aumentar seu ritmo de produção, e que novos imunizantes sejam aprovados pelas autoridades sanitárias brasileiras e estrangeiras, possibilitando sua aquisição. É com otimismo, também, que vemos o avanço de projetos de lei que permitam a compra de vacinas por governos estaduais e municipais. Por fim, é preciso integrar também a iniciativa privada, atuando de forma complementar ao esforço público, seja por meio das clínicas particulares de vacinação, seja por meio de empresas interessadas em vacinar seus funcionários, o que também ajudará a normalizar a atividade econômica, até porque muitos dos brasileiros em idade economicamente ativa não estão em nenhum grupo prioritário no cronograma governamental.
Vencer a pandemia, no entanto, é apenas parte do esforço de recuperação. É preciso criar o clima de negócios para que a retomada seja consistente e significativa. Isso exige a criação de condições propícias para investimentos, nacionais e estrangeiros. A aprovação de marcos regulatórios está caminhando no Congresso, os leilões de infraestrutura devem ser retomados em breve, a reforma tributária voltou ao radar da Câmara e do Senado, mas o Brasil precisa de mais: tem de sair da pandemia como um país que inspire confiança. O esforço contra a Covid-19 causou um enorme estrago na dívida pública, que beira os 90% do PIB pelo critério do Banco Central. O Brasil só vai enviar uma mensagem positiva se reforçar seu compromisso com o ajuste fiscal por meio de reformas como a administrativa, respeito ao teto de gastos e medidas que permitam ao Estado reduzir seus gastos.
Apoiar os mais vulneráveis enquanto a pandemia durar, vacinar o quanto antes a população, destravar investimentos, aprovar reformas, reforçar o ajuste fiscal: aqueles que perderam seus empregos e seus negócios dependem desse roteiro para que se recuperem o quanto antes.
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