O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Foto: Dida Sampaio / Estadão
Ex-ministro afirma que cabem críticas à operação, mas que conversas têm sido usadas para ‘obscurecer a falta de reais argumentos’
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-juiz da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, disse que foram criadas ‘hipóteses fantasiosas’ sobre as mensagens hackeadas dos procuradores que integraram a força-tarefa de Curitiba.
As conversas foram apreendidas na Operação Spoofing, que prendeu o grupo acusado pelo ataque cibernético, e liberadas ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) pelo Supremo Tribunal Federal. Desde então, a defesa do petista vem apresentando ao tribunal laudos feitos por um profissional independente contratado para periciar o material. A análise tem sido feita em etapas em razão do volume de conversas interceptadas. A cada relatório, novos trechos vêm à tona e movimentam a opinião pública.
“O que eu tenho visto é uma série de fantasias construídas, narrativas”, disse Moro em seminário virtual promovido pelo Ceap Brasil na segunda-feira, 1º. “Se vê muito no recurso argumentativo a profusão de adjetivos. Se você não tem argumentos, se você não tem fatos, você carrega nos adjetivos, obscurecendo a falta de reais argumentos”.
O ex-juiz voltou a dizer que o diálogo de juízes com advogados, promotores e procuradores é comum no dia-a-dia da Justiça. “Nós temos uma praxe jurídica um pouco mais informal do que existem em outros países. Então a troca de diálogo entre pessoas envolvidas no processo não é algo que, por si só, é criminoso”, defendeu.
Na avaliação de Moro, não há irregularidade no teor das conversas, mesmo que a autenticidade do material não tenha sido atestada. Desde que parte das mensagens foi revelada, ainda em 2019, na série de reportagens conhecida como ‘Vaza Jato’, liderada pelo portal The Intercept Brasil em parceria com outros veículos de imprensa, integrantes da operação repetem que o material não tem validade jurídica uma vez que foi obtido ilicitamente no ataque cibernético e que a veracidade das conversas não é reconhecida pelos interlocutores ou por perícia oficial.
“Não é nenhuma espécie de aconselhamento ou relacionamento inapropriado. As pessoas têm que ter um pouco mais de senso crítico quando existem muitos interesses envolvidos em anulação dessas condenações, existem muitas pessoas poderosas envolvidas”, afirmou Moro.
O ex-juiz também disse ter ‘orgulho’ da Lava Jato e classificou como ‘injustos’ os ataques ao trabalho da força-tarefa. Para Moro, a operação foi um ‘divisor de águas’ para romper com a ‘impunidade dos poderosos’ e gerou uma ‘onda anticorrupção’ na América Latina.
“As pessoas viram e veem até hoje a quantidade de ataques injustos direcionados. Claro, críticas são possíveis, isso é absolutamente viável. Mas ataques injustos e mentiras feitas contra as pessoas que participam, que fazem a coisa certa dentro desses processos”, disse. “A Lava Jato, na esteira do caso mensalão decidido antes, foi um divisor de águas no sentido de que a impunidade da grande corrupção, no período em que a operação durou, não se tornou mais a regra. As pessoas foram identificadas, tiveram sua culpa comprovada, foram condenadas, começaram a cumprir pena”, acrescentou.
Sergio Moro: ‘A Lava Jato, na esteira do caso mensalão decidido antes, foi um divisor de águas’. Foto: Gabriela Biló/Estadão
No seminário virtual, Moro defendeu ainda a construção de uma ‘cultura de integridade’ no País. A bandeira do combate à corrupção, que o acompanha desde os tempos de magistratura, foi colocada como ‘um dos caminhos da prosperidade’.
“Claro que precisa de muito mais coisa: precisa investir em educação, precisa investir em produtividade, eu acho que nós precisamos ter uma economia mais aberta. Mas combater a corrupção é um meio de ganhar eficiência e ganhar prosperidade”, defendeu.
Moro falou também sobre o período em que ocupou a chefia do Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e explicou os motivos que o levaram a estabelecer como prioridades o combate ao chamado ‘crime de colarinho branco’ e ao crime organizado durante a sua gestão. Segundo o ex-ministro, a ideia foi consolidar os avanços obtidos com a Operação Lava Jato e, ao mesmo tempo, melhorar o desempenho do Brasil no enfrentamento à criminalidade violenta.
“Houve uma enorme resistência em relação a isso, não é o caso agora de entrar nesses detalhes”, disse sobre o combate à corrupção, sem entrar em detalhes.
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