A interferência de Bolsonaro na Petrobras

Petrobras O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco (foto), recebeu uma ameaça velada de demissão do presidente Jair Bolsonaro.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O preço dos combustíveis e o populismo tarifário estão derrubando mais um excelente presidente da Petrobras graças à interferência de um presidente da República. Em 2018, Pedro Parente pediu demissão após a pressão do Planalto para baixar os preços do diesel como forma de contentar caminhoneiros em greve. Pouco mais de dois anos e meio depois, é Roberto Castello Branco quem está prestes a deixar o cargo após o anúncio de um novo reajuste no preço praticado nas refinarias; o aumento foi criticado na quinta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal, com a insinuação de que haveria mudanças na estatal. “Tem que mudar alguma coisa. Vai acontecer”, disse o presidente. O reajuste praticamente anulou o efeito da decisão de zerar o PIS/Cofins cobrado sobre o diesel. No fim da tarde de sexta-feira, veio o anúncio: Bolsonaro quer substituir Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna.

Para justificar o aumento, a estatal argumentou que “o alinhamento dos preços ao mercado internacional é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento” – de fato, a política de preços aplicada pela Petrobras desde que Parente assumiu a empresa, a convite de Michel Temer, foi a de acompanhar as oscilações do petróleo no mercado internacional. Foi assim que a estatal conseguiu voltar ao azul e deixar para trás a tragédia lulopetista, com os preços dos combustíveis artificialmente represados para evitar uma disparada inflacionária. Esta medida abalou profundamente os cofres da empresa, que ainda por cima sofreu com a corrupção desenfreada e decisões de negócio absurdas, como as que envolveram as refinarias de Pasadena e Abreu e Lima.

Por mais que se reconheça o impacto daninho de reajustes sucessivos dos combustíveis para toda a população, a resposta não pode ser a repetição do populismo lulopetista que jogou a Petrobras na lona

E o petróleo está, de fato, ficando mais caro – a onda de frio nos Estados Unidos apenas piorou a situação ao elevar a demanda. O barril do petróleo brent, que custava US$ 23 no início da pandemia, em março do ano passado, superou os US$ 60 no início de fevereiro de 2021 e não há indícios de baixa; além disso, também o dólar não dá sinais de que irá se desvalorizar diante do real. Esta combinação é a pior possível para os preços dos combustíveis no Brasil, e a Petrobras pode até amortecer uma parte deste efeito, mas não há como represar completamente seus preços sem ameaçar a própria saúde financeira.

Para uma troca na presidência da Petrobras, não basta a vontade de Bolsonaro; a decisão cabe ao Conselho de Administração da companhia, que se reúne no dia 23 e tem Castello Branco em bom conceito. Até esta sexta-feira, a opção de Bolsonaro, segundo informações de bastidores, era a da fritura, a exemplo do que ocorreu com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta: à medida que as divergências públicas foram se acentuando, a situação do subordinado ficaria insustentável, levando-o a pedir demissão. No entanto, ao contrário de Mandetta, que dobrava a aposta nas coletivas sobre a Covid-19 e em entrevistas a veículos de comunicação, aprofundando o fosso, Castello Branco vinha optando pelo silêncio. E ele nem precisaria responder, pois os investidores, que nada têm de ingênuos e também sabem identificar pressões veladas, já o fizeram no pregão desta sexta-feira, com as ações preferenciais da estatal caindo 6,14% e as ordinárias, em queda de 7,23%. Se apenas a fritura já levou a tamanha queda, é de se imaginar o que ocorrerá na próxima segunda-feira, agora que a interferência está escancarada.

Confira matéria na Gazeta do Povo

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