Jogada arriscada: por que o Facebook bloqueou compartilhamento de notícias na Austrália

(FILES) This file photo taken on October 23, 2019 shows a Facebook employee walking past a sign displaying the "like" sign at Facebook's corporate headquarters campus in Menlo Park, California. - Facebook was branded "arrogant" and "unconscionable" for banning Australian users from sharing news on February 18, 2021, as its defiant response to government regulation inadvertently crippled the pages of several emergency services. (Photo by Josh Edelson / AFP)

O Facebook proibiu o compartilhamento de notícias em seu site na Austrália nesta quinta-feira, em resposta a um projeto de lei que forçaria a rede social e o Google a pagar aos veículos de comunicação pelas notícias que circulam em suas plataformas. Isso significa que nenhum jornal, revista ou publicador de notícias da Austrália consegue fazer postagens no Facebook e todo o conteúdo postado anteriormente foi removido dos perfis das organizações de mídia. Os usuários australianos da rede social também não conseguem compartilhar e interagir com links para notícias, inclusive aquelas publicadas por veículos de fora do país.

A decisão do Facebook surpreendeu muitos usuários na manhã desta quinta-feira, mas a rede social já havia ameaçado fazer isso em setembro do ano passado. Isso porque o parlamento australiano está prestes a aprovar uma lei, batizada de News Media Bargaining Code, que exigirá que tanto o Facebook quanto o Google negociem com as empresas de comunicação para pagar royalties pelo conteúdo que elas produzem – e que circula na rede social e no buscador –, com o objetivo de apoiar o jornalismo local. A lei também prevê a criação de um conselho independente para arbitrar disputas entre empresas de tecnologia e meios de comunicação.

Ao longo de vários anos, os veículos de imprensa vêm perdendo receita de publicidade, em especial para essas duas empresas de tecnologia. Na Austrália, o governo começou, em 2017, a estudar uma forma de solucionar esse problema. A proposta inicialmente foi concebida como voluntária, mas meses depois o governo decidiu que seria necessário torná-la obrigatória. Seus defensores alegam que o News Media Bargaining Code vai equilibrar a posição de barganha entre as empresas de mídia locais e as duas big techs, que dominam o mercado de publicidade online.

O Facebook discorda. “A lei proposta interpreta erroneamente a relação entre nossa plataforma e as editoras que a usam para compartilhar conteúdo de notícias”, escreveu William Easton, diretor administrativo do Facebook Austrália e Nova Zelândia, em um blog nesta quarta-feira. “Isso nos deixou diante de uma escolha difícil: tentar cumprir uma lei que ignora a realidade desse relacionamento ou parar de permitir conteúdo de notícias em nossos serviços na Austrália. Com o coração pesado, estamos escolhendo a última opção”.

Há cerca de um mês, o Google ameaçou bloquear o uso de seu buscador na Austrália, pelo mesmo motivo. Contudo, a companhia americana anunciou nesta semana que fechou um acordo de três anos com a News Corp, do grupo de mídia do australiano Rupert Murdoch, ao qual pertencem o Wall Street Journal, New York Post, The Sun, entre outros jornais conhecidos internacionalmente.

O contrato inclui o desenvolvimento de uma plataforma de assinatura, o compartilhamento da receita de anúncios por meio dos serviços de tecnologia de anúncios do Google e investimentos em jornalismo de áudio e vídeo, segundo nota da News Corp.

“Estou satisfeito com o fato de os termos comerciais estarem mudando, não só para a News Corp como também para todas as editoras”, disse Robert Thomson, presidente-executivo do conglomerado de imprensa. “Por muitos anos fomos acusados de lutar contra os moinhos da tecnologia, mas o que era uma campanha solitária, quixotesca, transformou-se num movimento e assim tanto o jornalismo como a sociedade sairão fortalecidos”.

Sem mencionar tal acordo, Easton escreveu que o Facebook tomou um caminho diferente do Google por entender que as duas plataformas possuem relações diferentes com as notícias. “O buscador do Google está inextricavelmente ligado às notícias e as publicadoras não fornecem voluntariamente seu conteúdo. Por outro lado, as publicadoras optam por postar notícias no Facebook, pois isso lhes permite vender mais assinaturas, aumentar seu público e aumentar a receita de publicidade”, afirmou o representante da rede social, citando que o Facebook, no ano passado, gerou um valor estimado de 407 milhões de dólares australianos em receita aos veículos de comunicação do país, por meio de referências gratuitas.

A proposta de lei da Austrália já foi aprovada pela Câmara e será votada pelo Senado na próxima semana. Se aprovada, será a primeira lei no mundo a exigir que o Google, o Facebook e potencialmente outras big techs paguem royalties aos meios de comunicação, abrindo um precedente para que outros países sigam o mesmo caminho.

Timothy Berners-Lee, o cientista da computação britânico conhecido como o inventor da World Wide Web, foi mais longe ao dizer que a proposta de lei da Austrália pode abrir um precedente para tornar impraticável o funcionamento da Internet livre e gratuita. “Especificamente, estou preocupado com o risco de essa lei violar um princípio fundamental da web ao exigir pagamento para links entre certos conteúdos online”, disse Berners-Lee a um comitê do Senado australiano.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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