PSDB vive disputa interna por sucessão de Bolsonaro; grupo defende candidatura de Eduardo Leite

Para aliados de João Doria, movimento é liderado pela ala governista do partido

Uma comitiva de deputados do PSDB desembarca nesta quinta-feira, 11, em Porto Alegre, para fazer o lançamento informal da pré-candidatura do governador gaúcho, Eduardo Leite, ao Palácio do Planalto em 2022. O movimento é conduzido pelo deputado Lucas Redecker (RS) e conta com o apoio de um grupo de parlamentares que se rebelou contra o governador João Doria, principal nome colocado até aqui. A expectativa é que pelo menos 12 deputados dos 29 que compõem a bancada participem da iniciativa.

O gatilho da articulação foi a ofensiva do governador paulista para que a bancada do PSDB adote uma postura mais incisiva de oposição ao presidente Jair Bolsonaro e a movimentação de aliados para que o chefe do executivo paulista assuma a presidência do partido em maio. Diante da repercussão negativa, os aliados de Doria recuaram da estratégia de tentar interferir na sucessão tucana. 

À Coluna do Estadão, Leite afirmou que é “precipitado definir candidatura, seja de quem for”, mas prometeu ajudar o partido a buscar o melhor caminho para 2022. “O partido deve primeiro se reunir em torno de ideias, de um propósito. E é papel de quem exerce funções relevantes, como nós governadores, de ajudar na condução dos debates para uma futura tomada de decisão. Mas jamais impor um caminho em função de pretensões pessoais”, disse, sem citar Doria. “Ainda tenho muito por fazer aqui e cuidar do RS continua sendo meu foco. Não obstante, naturalmente (e até pela história e tradição do meu Estado) vou buscar ajudar meu partido a construir o melhor caminho para ajudar o Brasil em 2022.”

Ao contrário de Leite, a ala tucana que rejeita o nome de Doria adotou tom bem mais agressivo contra o governador paulista. “Não vamos permitir que transformem a agremiação partidária em uma empresa individual”, disse o deputado Celso Sabino (PA). “Foi só o PSDB se movimentar como partido de oposição, que o deputado Celso Sabino reagiu, passando atestado de governista. Desconhece que o PSDB fica longe das benesses do poder e é movido pelo pulsar das ruas”, respondeu o presidente do PSDB-SP, Marco Vinholi.

A crise interna tucana foi tema de uma reunião realizada, na noite desta terça-feira, 9, no apartamento do deputado Adolfo Viana (BA), reunindo 12 parlamentares, além do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, que optou por não ir a Porto Alegre nesta quinta. 

No encontro, o grupo descontente com a ofensiva do governador paulista defendeu a permanência de Araújo no comando da legenda por mais um ano, como prevê o estatuto do partido. A avaliação majoritária foi que Doria errou ao tentar submeter a bancada federal à sua estratégia eleitoral. Parte dos deputados do PSDB resiste a assumir agora um discurso de confronto aberto contra o Palácio do Planalto, a exemplo do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu em entrevista ao Estadão.

Na mesma entrevista, entretanto, o próprio FHC, que também é presidente de honra do PSDB, citou Eduardo Leite como possível presidenciável ao lado de Doria. Diante da polêmica, o ex-senador José Aníbal (SP), já fala em decidir o candidato tucano por meio de prévia. “Esse é um movimento preliminar que encontra outra liderança nacional posicionada para disputar a Presidência da República. Talvez tenhamos que resolver isso com prévias, o que é legítimo”.

Bruno Araújo

Eleito presidente da sigla com apoio de Doria, Araújo foi pego de surpresa com a movimentação dos tucanos paulistas. Aliados do governador paulista têm feito duras críticas à condução de Araújo no partido e argumentam que ele é o responsável pela “paralisia” da legenda. A ideia de substituir Araújo, entretanto, não ganhou respaldo interno no PSDB além de São Paulo. Pelo contrário, acabou irritando parlamentares e outros dirigentes do partido. 

Na noite desta quarta-feira, presidentes dos diretórios estaduais do PSDB divulgaram uma nota defendendo a permanência de Bruno Araújo no comando da sigla. 

Ao Estadão, Doria ressaltou que o PSDB precisa estar unido e fazer o seu papel. “O PSDB precisa assumir o posicionamento de partido de oposição ao governo negacionista e fratricida de Jair Bolsonaro. Estarmos divididos só ajuda Bolsonaro e seu projeto político de extremismo e autoritarismo”, afirmou o governador. 

A expectativa entre os aliados de Doria, agora, é sobre a dimensão que terá o evento marcado pelos defensores do nome de Leite. Para tentar demonstrar força, o presidente municipal do PSDB de Porto Alegre, Moisés Barbosa, chegou a convidar o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo, para o almoço na capital gaúcha. O dirigente, porém, declinou. /COLABOROU MARIANNA HOLANDA


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