O ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia criticou o presidente do DEM, ACM Neto, “um amigo de 20 anos”, de traição por não apoiar o nome de Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pelo comando da Casa, vencida pelo candidato governista Arthur Lira (PP-AL). “Mesmo a gente tendo feito o movimento que interessava ao candidato dele no Senado (Rodrigo Pacheco/DEM-MG), ele entregou a nossa cabeça numa bandeja para o Palácio do Planalto”, afirma o parlamentar em entrevista publicada no “Valor”desta segunda-feira.
“Estarei num partido que será de oposição ao presidente Bolsonaro”, afirma Maia, para a surpresa de zero pessoas. Maia já vinha fazendo oposição como presidente da Câmara, e é isso que ficou escancarado de vez agora. Seus aliados na imprensa, que insistiam no mito “estadista” para descrever a postura do “Botafogo” da planilha de propinas da Odebrecht, tentavam empurrar uma narrativa de que a obstrução das reformas se devia ao próprio governo, até mesmo ao ministro Paulo Guedes. A máscara caiu.
Ao “Valor”, Maia disse ainda que o movimento conduzido por ACM Neto, de aproximar o DEM do governo Bolsonaro, faz com que o partido volte para “extrema direita dos anos 1980”. Ele ainda criticou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, de trabalhar nos bastidores pela aproximação com os rivais durante o processo eleitoral na Câmara. “Foi um processo muito feio do Neto e do Caiado. Ficar contra é legítimo, falar uma coisa e fazer outra não. Falta caráter, né?”
Seria uma confissão? Falta de caráter então teria o próprio Maia, ao dizer uma coisa em público e fazer outra nos bastidores, para sabotar a agenda de reformas do governo? Como presidente da Câmara, Maia já flertava com a extrema esquerda, acendendo velas para petistas em troca de apoio. Tentou um golpe para sua reeleição, que foi abortado por pouco no STF, apenas por pressão popular. Não tinha plano B, demorou a indicar Baleia Rossi, e perdeu. É um mau perdedor.
Magoado, agora chama o governo Bolsonaro de “extrema direita”, adotando já os rótulos idiotas da extrema esquerda. Não sobrou narrativa alguma para Maia, que teve somente um pouco mais de 70 mil votos como deputado. Era poder demais concentrado nele, sem o devido respaldo popular, sem legitimidade. E ele usou esse poder para travar pautas importantes para o país.
Não quer dizer que agora vai tudo deslanchar automaticamente, claro. Maia não é o bode expiatório isolado. Sabemos que o centrão é “pragmático”, ou seja, fisiológico e não costuma aderir a uma pauta reformista por pura convicção ou ideologia. Mas as chances de avançar aumentaram muito, pois todos sabem que Maia agia para prejudicar o governo. Os jornalistas, que o tratavam como um primeiro-ministro, fingiam que não, pois seu intuito era apenas criticar Bolsonaro. Mas hoje a verdade veio à luz de forma inegável, mesmo para quem insiste em tapar o sol com a peneira.
Maia foi tarde, não deixa qualquer saudade e merece como destino se filiar a algum partido da extrema esquerda mesmo. Estará com seus pares se for para o PT, o PSOL, a Rede ou o PDT. Apostou todas as fichas para derrubar o governo, e falhou. O choro é livre – e a marca registrada da esquerda radical.
Rodrigo Constantino
Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.
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