Bancada baiana se associa a Arthur Lira, candidato do Planalto na Câmara; para Maia, sigla pode pegar pecha de ‘partido da boquinha’
BRASÍLIA – Com medo de perder cargos na máquina federal, a bancada de deputados baianos do DEM declarou apoio a Arthur Lira (Progressistas-AL) na disputa à presidência da Câmara. O grupo dissidente é comandado pelo presidente nacional do partido e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto. Oficialmente, o DEM integra o bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na eleição na Casa. Há movimentos semelhantes no PSDB a favor do líder do Centrão e candidato do presidente Jair Bolsonaro.
Herdeiro do carlismo, oligarquia comandada na Bahia pelo avô e então senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007), o atual presidente do DEM procurou se projetar, nos últimos anos, como um nome da renovação política. A legenda, em seu conjunto, chegou a se afastar do bloco do Centrão e fugir das marcas do clientelismo e do fisiologismo, especialmente da troca de apoio ao Palácio do Planalto por cargos e emendas.
Ao mesmo tempo, o movimento de ACM Neto a favor de Lira estremeceu a relação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que apoia a candidatura de Baleia. Num encontro na terça-feira, 26, no Palácio da Cidade, sede da prefeitura do Rio, Maia relatou que ouviu de um empresário que a legenda corre o risco de ganhar o apelido de “partido da boquinha”.
A uma pergunta do Estadão sobre a análise do empresário, Maia disse discordar do comentário. “Eu não concordo. Conheço a bancada do DEM, sei que alguns têm amizade com Arthur, eu entendo, mas conheço a postura dos deputados e do presidente do partido”, afirmou. “A gente não pode deixar que a disputa gere desgaste para o partido que saiu mais forte das eleições municipais.” Maia atribuiu a dissidência a uma tentativa da candidatura governista de criar “conflito”. Nos cálculos dele, Baleia deve ficar com 22 dos 32 votos do DEM. Nesta terça, o emedebista visitou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), que reafirmou o apoio de seu partido à candidatura de Baleia.
A disputa da Câmara é um teste de fogo no novo “carlismo”. Os democratas baianos e tucanos têm apadrinhados na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), órgãos federais de orçamentos robustos.
Segunda-feira, 25, os cinco deputados da bancada da Bahia, a maior do partido, controlada por ACM Neto, porém, saíram numa foto com Lira. ACM se limitou a soltar uma nota na tarde de terça para dizer que o encontro de Lira com os deputados baianos foi uma “cortesia” e declarou apoio “institucional” a Baleia. Procurado, o ex-prefeito não respondeu. Além do quinteto baiano no DEM, partidários de Lira na sigla fazem circular nos bastidores uma lista de apoio que inclui outros nove deputados.
Almoço
Dona de cargos cobiçados no governo e majoritariamente governista, a bancada do DEM na Bahia almoçou e posou para fotos com Lira, durante encontro em Salvador. Aparecem abraçados ao líder do Centrão os deputados Arthur Maia, Elmar Nascimento, Paulo Azi, Leur Lomanto Jr. e Igor Kannário. Azi é presidente regional da sigla e aliado de ACM Neto.
A dissidência no DEM era iminente. Ex-líder da bancada e ligado a ACM Neto, Elmar Nascimento desejava disputar a sucessão de Maia, mas foi preterido e surgiu como um dos próceres do movimento divergente.
Elmar é o padrinho político de Marcelo Andrade Moreira Pinto, presidente da Codevasf. “Não tem nada a ver (o apoio com a manutenção dos cargos). A responsabilidade lá (na Codevasf) é só minha. Eu já estou apoiando o Arthur há tempo.”
VNo PSDB, a dissidência também passa pela manutenção de cargos. Um dos presentes ao almoço pró-Lira foi Adolfo Viana (BA), padrinho de Lucas Lobão, presidente na Bahia do Dnocs. O chefe da Sudene, Evaldo Cavalcanti da Cruz Neto, é cunhado do deputado Pedro Cunha Lima (PSBD-PB), filho do ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB). Pedro defende a vitória de Lira e tem dito que não seria interessante ao País que a oposição controlasse a Câmara.
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