As redações decidiram ser os “centros de resistência” ao governo

Brazil's President Jair Bolsonaro delivers a press conference in Brasilia, Brazil, on April 24, 2020. - Brazilian Minister of Justice and Public Security, Sergio Moro, announce his resignation on Friday after Brazilian President Jair Bolsonaro dismissed the head of the Brazilian Federal Police, according to sources close to the popular former anti-corruption judge. (Photo by EVARISTO SA / AFP)

Raramente, até onde a memória recente registra, os meios de comunicação brasileiros viveram um momento de tanta excitação como vivem agora. O combustível desse nervosismo está, basicamente, na reação geral de muitas redações diante do presente clima político do país: decidiram transformar-se no que imaginam ser o centro da “resistência” ao governo, por considerarem que não é possível haver democracia com a presença de Jair Bolsonaro na presidência da República.

Um oportuno e muito bem ponderado artigo do professor Carlos Alberto Di Franco, que acaba de ser publicado no jornal O Estado de S. Paulo, coloca em dúvida a correção profissional desse jornalismo de denúncia automática e permanente – e, além disso, a eficácia do método que está sendo utilizado para combater o governo.

A força do jornalismo, diz ele, “não está na militância ideológica ou partidária, mas no vigor persuasivo da verdade factual e na integridade de sua opinião”. Ou seja: a imprensa tem de ser livre para investigar e denunciar, mas precisa, antes de tudo, respeitar os fatos e a lógica para persuadir alguém de alguma coisa. Se não fizer isso, além de não estar praticando bom jornalismo, não vai convencer ninguém.

“O jornalismo é o único negócio em que a satisfação do cliente (o consumidor da informação) parece interessar muito pouco”, escreve Di Franco. Na verdade, o que o público está vendo no momento é um jornalismo de convicções, de militância e de desejos, e não um jornalismo de fatos – o mais apropriado para satisfazer a necessidade de informações que o leitor espera de um órgão de imprensa.

A consequência inevitável dessa postura é a progressiva transformação da mídia num produto de baixa utilidade. Como nas seitas religiosas dedicadas a pregar para os convertidos, sua matéria prima é a fé. Satisfaz o “público interno”, mas fica nisso. Não é um bom sinal para a sua sobrevivência.

J.R. Guzzo

J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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