O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta sexta-feira (15) que medidas mais restritivas de isolamento social para reduzir o contágio da Covid-19, como as adotadas por governos de países como França e Inglaterra, não teriam resultado no Brasil por que a “imposição de disciplina em cima do brasileiro não funciona muito.”
Mourão deu a declaração ao ser questionado por jornalistas se o novo aumento dos casos e das mortes por Covid-19, registrado nas últimas semanas, poderia exigir o fechamento do país. Em Manaus, o recrudescimento da doença levou ao colapso do sistema de saúde, com falta de oxigênio para tratamento de pacientes.
“A questão é que aqui nós não fechamos nunca, né? Essa é a realidade. E aí você tem que entender, vamos dizer assim, a característica do nosso povo. O nosso povo não tem, vamos dizer assim, essa imposição de disciplina em cima do brasileiro não funciona muito. Então a gente tem que saber lidar com essas características e buscar informar a população no sentido de que ela se proteja”, disse Mourão a jornalistas.
O vice afirmou ainda que o governo federal está fazendo um trabalho que vai além de suas capacidades no socorro ao sistema de saúde de Manaus.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reconheceu o colapso no sistema de saúde da capital amazonense. Segundo o ministro, 480 pessoas que contraíram Covid-19 esperam por um leito hospitalar na capital do Amazonas.
“O governo está fazendo além do que pode dentro dos meios que a gente dispõe. Agora, eu já falei aqui para vocês várias vezes a respeito de Amazônia. Na Amazônia as coisas não são simples,” afirmou o vice-presidente.
De acordo com Mourão, a localização da cidade, dentro da floresta amazônica, dificulta operações de envio de suprimentos. O vice também apontou problemas de orçamento da Aeronáutica.
“Você só chega lá de barco ou de avião. Qualquer manobra logística para você, de uma hora para outra, aumentar a quantidade de suprimentos lá requer meios que, vamos colocar aí, a Força Aérea até alguns anos atrás tinha, Boeings”, disse Mourão, se referindo a aeronaves de transporte.
“Por problemas aí de orçamento, ela (FAB) teve que se desfazer dessas aeronaves”, afirmou.
Nova cepa
Questionado se não faltou planejamento logístico, o vice-presidente declarou que não se era possível prever o colapso no sistema de saúde em Manaus que, na avaliação dele, está associado à aparição de uma nova cepa do coronavírus.
Essa nova variante carrega mutações que já foram associadas à maior transmissão, mas ainda não é possível afirmar se ela é mais transmissível ou não.
A Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou nesta sexta-feira (15) a transferência de pacientes com Covid-19 de Manaus, no Amazonas, a outros estados — Foto: FAB/Reprodução
Transporte de pacientes
Na manhã desta sexta, começaram a Força Aérea Brasileira (FAB) começou a transferir, de avião, pacientes graves de Covid-19 de Manaus para hospitais em outros estados. Ao todo, 235 pacientes de Manaus deverão ser deslocados.
O Ministério da Defesa informou que há voos programados ainda nesta sexta para Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba. Hospitais de Goiás, Pernambuco, Ceará e Distrito Federal também deverão receber os pacientes.
As transferências ocorrem em meio ao colapso do sistema de saúde amazonense, após recorde das internações por Covid-19 no estado. Sobrecarregados, os hospitais ficaram sem oxigênios para pacientes.
O G1 registrou nesta quinta-feira (14) cenas de médicos transportando cilindros nos próprios carros para levar ao hospital e familiares tentando comprar o insumo. Cemitérios estão lotados e instalaram câmaras frigoríficas.
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