Cargos, traição e crises: o que pode determinar a vitória do próximo presidente da Câmara

Cargos, traição e crises: o que pode determinar a vitória do próximo presidente da Câmara

A eleição que vai apontar o novo presidente da Câmara dos Deputados vai acontecer em fevereiro de 2021. Entretanto, em um ano atípico, as articulações para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ) transcorrem a todo o vapor. Na lista de exigências por apoios nesta disputa, estão pedidos por cargos na Esplanada dos Ministérios, na Mesa Diretora e no comando de comissões. Além disso, outros fatores podem desequilibrar a disputa: traições de aliados e até eventuais crises como a revelação de que o líder do PP na Casa, Arthur Lira (AL), comandou um esquema de rachadinha em Alagoas.

A candidatura de Lira foi a primeira a ser lançada. E é a primeira a sofrer com crises internas. Na quinta-feira (4), o jornal O Estado de São Paulo revelou, com base em investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que o parlamentar do PP teria desviado parte dos salários de funcionários durante seus mandatos como deputado estadual, entre 2001 e 2007, na Assembleia Legislativa de Alagoas.

Conforme os autos, Lira tinha um rendimento mensal R$ 500 mil. O parlamentar, de acordo com a PGR, é apontado como líder do esquema de rachadinha, que desviou em torno de R$ 254 milhões dos cofres públicos ao longo de seis anos.

Apesar das evidências, a primeira instância da Justiça de Alagoas absolveu Lira da acusação, anulando as provas colhidas pela Justiça Federal no inquérito que subsidiou a denúncia por peculato (desvio de dinheiro público). O Ministério Público vai recorrer da decisão.

Líderes ouvidos pela Gazeta do Povo afirmam que, neste momento, as revelações sobre o esquema de rachadinha ainda não foram suficientes para minar o apoio que Lira tem em partidos do Centrão, como o próprio PP, o PL, Solidariedade e Avante. O bloco comandado por Lira, que também tem o PSD, hoje possui 135 parlamentares.

Entretanto, isso não significa que o próprio parlamentar ou o Palácio do Planalto não tenham manifestado preocupação nos bastidores. Aliados do presidente da República, Jair Bolsonaro, têm aconselhado o chefe do Poder Executivo a se afastar da disputa da Câmara justamente com o receio de que Bolsonaro seja acusado de dar suporte a um político investigado por desvio de dinheiro público.

Um importante assessor presidencial resume a “saia justa” envolvendo o presidente: “O filho [o senador Flávio Bolsonaro] responde na Justiça por crime de rachadinha e agora um aliado também é alvo da mesma denúncia. É difícil defender uma situação dessas”.

Para ser eleito presidente da Câmara, Lira sinaliza com cargos no primeiro escalão

Por meio de interlocutores, Lira tem sinalizado que um apoio agora à sua candidatura significa não somente espaço na Mesa Diretora da Câmara, como também cargos de primeiro escalão na Esplanada dos Ministérios.

Integrantes do Palácio do Planalto admitem que uma reforma ministerial em março será fundamental para abrigar deputados que possam dar suporte à candidatura de Lira. Na lista de partidos que podem ser agraciados estão justamente o PSD, PL e PP.

A expectativa é que estes partidos avancem em pastas que hoje são da cota pessoal de Bolsonaro, como o Ministério da Saúde, comandado pelo general Eduardo Pazuello; o Ministério da Cidadania, comandado por Onyx Lorenzoni; e a Secretaria-Geral da Presidência da República, comandada por Jorge Oliveira, que irá para o Tribunal de Contas da União (TCU). Ainda está nesta conta, a possibilidade de recriação dos Ministérios do Esporte e da Segurança Pública.

A conta do Palácio do Planalto é simples: ao dar espaço para Arthur Lira e minar um eventual aliado de Rodrigo Maia, o governo federal teria condições de impor uma pauta legislativa de reformas liberais e até na área de costumes, algo que não ocorreu durante a gestão Maia. “Melhor uma raposa aliada, que uma raposa adversária”, admitiu em caráter reservado, um integrante palaciano da área militar à Gazeta do Povo.

Grupo de Maia conta com traições no PP, votos da esquerda e cargos na Mesa Diretora

Se o grupo de Lira e o governo federal tentam atrair parlamentares por meio de cargos, o grupo de Rodrigo Maia aposta em traições no próprio PP e na oferta de cargos na Mesa Diretora e em comissões temáticas para atrair parlamentares.

Apesar de ter sido indicado pelo partido, Lira não é uma unanimidade dentro do Progressistas. Como a votação é secreta, aliados de Maia acreditam que pelo menos 15, dos 40 votos da bancada do PP, podem ir para um candidato de oposição a Lira.

No bloco pró-Maia deve entrar também partidos como o PSDB, DEM, Cidadania, PV, PSL e Republicanos. Todos estes partidos já são naturalmente alijados da Esplanada dos Ministérios e o cálculo político é que, com o comando da Câmara, eles ganham representatividade na Mesa Diretora e comando de comissões temáticas, que tendem a retomar o ritmo habitual no ano que vem. Estas siglas somam, juntas, 151 votos.

Além disso, esse bloco contra com 130 votos da esquerda. Partidos como PCdoB, PT e PDT sabem que dificilmente conseguirão espaço na Câmara em caso de vitória de Arthur Lira, embora o parlamentar tenha dito exatamente o contrário para os deputados da esquerda.

Apesar de organizado, o bloco de Maia ainda não definiu qual será o seu representante. Na lista de possíveis candidatos, está o líder do MDB, Baleia Rossi (SP); o presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP); e Elmar Nascimento (DEM-BA).

O atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já disse a aliados que não será candidato à reeleição mesmo se o Supremo Tribunal Federal (STF) permitir a sua recondução ao cargo. Ele avisou isso a aliados e à cúpula do DEM na semana passada.

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