Aécio sai das sombras e embarca no bonde da vacina

Acusado de extorsão, deputado Aécio Neves (PSDB-MG) agora quer castigar quem não é acusado de cometer crime nenhum.| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Desde que foi pego em flagrante tentando extorquir dinheiro de um grande empresário do ramo de carnes, o ex-candidato à Presidência e atual deputado Aécio Neves (PSDB-MG) tomou talvez a decisão mais acertada da sua vida: não abriu mais a boca, nem mesmo para apresentar um pedido de desculpas, um só que fosse, aos 51 milhões de eleitores brasileiros que votaram nele nas eleições de 2014. Tratou de se enfurnar silenciosamente na Câmara de Deputados, protegeu-se das denúncias com o “foro privilegiado” que impede qualquer parlamentar brasileiro de responder a processo penal na Justiça e sumiu do mapa.

Deveria ter continuado assim. Ninguém estava sentindo a sua falta, nem se lembrava mais da história. Mas pelo jeito não aguentou. Acaba de informar aos jornalistas que acompanham a vida política de Brasília que protocolou um projeto de lei para punir quem não quiser tomar vacina contra a Covid-19.

A vacina nem existe (o governador de São Paulo anunciou a compra maciça de uma substância patenteada na China e processada num instituto de pesquisas de São Paulo; não há nada além disso), mas Aécio já quer punir quem não tomar. Ou seja: o acusado de extorsão quer castigar quem não é acusado de cometer crime nenhum, salvo ter uma opinião diferente da sua numa questão médica em relação à qual Aécio sabe exatamente três vezes zero.

O homem sentiu no ar o cheiro de proveito político que muitos dos seus companheiros de atividade já sentiram. É vírus? Então a gente quer fechar escola, usar máscara, passar gel, suspender licitação, proibir isso, obrigar aquilo. Quem sabe rende voto? Por via das dúvidas, vamos embarcar nesse bonde. As penas que Aécio recomenda para quem não tomar vacina são uma piada — as mesmas previstas na lei eleitoral para quem não vota e que merecem, por parte da população, o respeito que se conhece.

O deputado e ex-candidato nos lembrou que “sem vida” não pode haver “opiniões”, e “muito menos direitos”. Interessante, isso. O que a vacina que não existe tem a ver com a “vida”? Em compensação, ficou claro que não é o vírus que incomoda Aécio hoje em dia. São as “opiniões” e os “direitos”.

J.R. Guzzo

J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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