No dia 5 de outubro começou uma corrida para o que promete ser uma revolução no relacionamento do brasileiro com as movimentações financeiras, no caminho para menos dinheiro vivo e mais digitalização. A data marcou o início do registro das chaves para o uso do PIX, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, com mais de 3,5 milhões de cadastros em menos de 24 horas.
Dados do BC apontam que, em cinco dias, houve quase 25 milhões de cadastros. O número significa, na estimativa mais conservadora, que ao menos 5 milhões de interessados definiram a identificação a ser utilizada para realizar suas operações – isso considerando que todos tenham sido grandes entusiastas da novidade e cadastrado, logo de largada, o máximo de cinco chaves permitidas por usuário.
O sucesso tem explicação: a partir do lançamento amplo, definido para 16 de novembro, a tecnologia permitirá fazer transferências eletrônicas de modo simplificado, superveloz e sem taxas, 24 horas por dia, sete dias por semana. O mesmo vale para quaisquer tipos de pagamento.
O que é o PIX
O PIX é um sistema de pagamentos que usa tecnologia desenvolvida pelo Banco Central e fará transações de modo quase instantâneo. Ele poderá ser usado por qualquer pessoa que tenha conta transacional em um prestador de serviço de pagamento participante, sem a necessidade de inscrição ou adesão extra.
Gustavo Schmidt, especialista em tecnologia e gerente de produto da empresa especializada em desburocratização de serviços financeiros Juno, aposta na adoção rápida da novidade, que atende demandas de agilidade e conveniência.
“Quando a população vê uma vantagem clara, ela se joga e vai aprendendo. E o PIX traz vantagens óbvias, facilita ainda mais o processo de pagamentos digitais”, avalia. Para reforçar a simplicidade do sistema, Schmidt resume: “As pessoas precisam entender que basta você ter uma conta bancária em uma instituição participante, assim como só é preciso ter uma conta para receber uma TED”.
Essas instituições precisam aderir ao sistema junto ao BC. Dados recentes indicam que quase 700 instituições, entre bancos (para os quais a adesão é obrigatória), fintechs, startups, varejistas e outros já se apresentaram para integrar o sistema.
A rede permitirá a realização de pagamentos a fornecedores, transferências entre pessoas, compras e até a quitação de impostos. A previsão é de disponibilização de fundos para o recebedor entre 2 e 10 segundos a partir da ordem de pagamento – contra até 30 minutos da tradicional Transferência Eletrônica Disponível (TED) e três dias para a compensação do popular boleto, só para citar dois exemplos “antigos, burocráticos e de taxas elevadas”, diz Schmidt.
Como ocorrem sem intermediários, diretamente da conta do pagador para a conta do recebedor, as operações do PIX são mais rápidas e baratas e podem reduzir o volume de operações tradicionais.
A plataforma estará disponível ininterruptamente, mesmo durante madrugadas, feriados e fins de semana, vantagem adicional sobre as opções atualmente disponíveis no sistema bancário, que têm limitações de dia e horário.
Outro facilitador da operação são as chaves PIX que, entretanto, não serão de uso obrigatório para fazer as movimentações.
O que é uma chave PIX
A chave PIX é o código que representará uma conta no PIX, ou, pela definição do Banco Central, o “apelido” pelo qual a sua conta será conhecida dentro do sistema. Pode ser um endereço de e-mail, CPF, CNPJ, número de telefone. Na prática, essa chave reunirá todas as informações bancárias em um único elemento que faz o elo até o “bolso” do usuário.
Para fazer uma transferência pelo PIX, por exemplo, você precisará apenas saber qual a chave escolhida pela pessoa que receberá o dinheiro. No sistema, a chave garante o pronto vínculo com as informações necessárias para a operação. Ou seja, adeus à necessidade de digitar manualmente nome completo, banco, agência, número e tipo de conta, CPF… e o valor ainda será liberado em questão de segundos. No sentido contrário, não será mais preciso passar todas as suas informações pessoais para terceiros.
Essa praticidade, entretanto, pode ser dispensada sem prejuízo operacional. Mesmo se não tiver uma chave PIX, o detentor de conta poderá fazer transações por meio do sistema. Nesse caso, no entanto, será preciso lançar mão das informações completas (como em qualquer operação tradicional). Ainda assim, mantém-se a conveniência de acesso a uma transação instantânea e sem limite de dia e horário.
Mais uma informação importante é que a já conhecida portabilidade também se aplicará às chaves do PIX. Segundo o representante da Juno, o usuário poderá optar por transferir o vínculo de uma chave para uma conta diferente. A solicitação deverá ser feita junto ao prestador do serviço: “Está totalmente na mão do usuário, portanto a escolha que você está fazendo agora não é definitiva e pode ser mudada”, destaca.
Como fazer transações com o PIX
O PIX não terá um aplicativo próprio. Ele já está integrado aos canais digitais dos prestadores financeiros, ou seja, será mais um serviço oferecido por eles aos seus clientes. Para os bancos com mais de 500 mil contas ativas, ele é obrigatório.
Para fazer um PIX, o detentor de uma conta terá apenas que acessar o app ou o internet banking como de costume, selecionar a opção, inserir os dados bancários ou a chave PIX do recebedor (o que poderá ser feito inclusive pela leitura de um QR Code) e confirmar a transação. Em segundos, o sistema fará o tráfego de dados, a confirmação da operação e o crédito do dinheiro para a conta de destino.
A realização das operações dependerá de acesso à internet.
Quanto vai custar
As transações por meio do PIX serão gratuitas para pessoas físicas e Microempreendedores Individuais (MEIs), tanto para enviar quanto para receber valores. Para pessoas jurídicas haverá cobrança, mas essa deve ser bem mais convidativa que a das opções que existem hoje. Segundo o Banco Central, o valor deve ser de algo como R$ 0,01 para cada 10 transações realizadas. Hoje, uma transferência feita por Documento de Ordem de Crédito (DOC) custa R$ 0,06 aos bancos – que chegam a cobrar do cliente tarifa de R$ 15 pela transação.
A clara vantagem competitiva frente aos conhecidos TED e DOC ou às taxas de administração das maquininhas é inegável e leva especialistas a acreditarem que ela não só levará a uma ampla adesão ao PIX, mas também pode puxar para baixo as tarifas praticadas por bancos e demais instituições de pagamento, de olho em evitar o esvaziamento da sua clientela diante da nova concorrência.
Corro risco de cair em um golpe ou fraude?
O Banco Central garante que o PIX é um sistema seguro, com transações autenticadas e criptografadas. Mas, por se tratar de mecanismo digital, acessado via smartphone, é necessário estar atento a eventuais vulnerabilidades que podem ser exploradas por criminosos, e a principal delas é o fator humano, avalia Henrique Lopes, da NetSecurity.
O momento atual de cadastramento de chaves já apresenta um risco que pode ser facilmente contornado pela lembrança de que o canal de atendimento on-line do banco ou da fintech é o único meio de adesão.
Com o buzz em torno do lançamento do PIX, começaram a circular golpes que se valem, principalmente, da prática do phishing. Nele, fraudadores enviam e-mails, links ou usam sites maliciosos para conseguir acesso a informações confidenciais. Nos últimos dias, essas “iscas” utilizadas para enganar os mais desatentos se multiplicaram.
Segundo levantamento da empresa de cibersegurança Kaspersky, foram identificados 30 domínios fraudulentos relacionados ao termo “pix” já nas primeiras horas comerciais do 5 de outubro; três dias depois, eram 60. É a partir deles que criminosos começam os ataques, com distribuição de malware por meio de mensagens falsas que, necessariamente, precisam de uma ação desavisada do consumidor.
Portanto, ao receber aquele SMS, e-mail ou contato na rede social indicando um link para fazer rápido e fácil o seu cadastro no PIX, desconfie. Para garantir uma operação segura, o recomendado é ir direto à fonte, acessando o app da instituição financeira. Lá já está disponível um ícone específico do PIX para que o registro seja feito. É também por lá que, a partir de novembro, serão realizadas as transações.
Por se tratar de uma ferramenta digital, Lopes destaca que se aplicam também outros cuidados básicos de segurança, que devem ser observados para a realização de qualquer pagamento. No caso específico, o principal é conferir a origem do boleto, código de barras, QR Code. Vale para qualquer modo de pagamento, inclusive o PIX. Com esse cuidado, você evitar cair em golpes que fraudam esses elementos para enganar pagadores.
Outras dicas são não utilizar redes públicas ou conexões de wi-fi desconhecidas, fazer uso de senhas reforçadas no dispositivo usado para as transações e ter os aplicativos sempre atualizados.
O sistema bancário também ganha com o PIX?
Segundo o Banco Central, parte dos objetivos desse sistema único é aumentar a eficiência e a competitividade no mercado nacional, com impacto positivo para o consumidor. Mas o PIX também trará benefícios para o sistema bancário. Na avaliação de especialistas, a operação também reduz custos internos e deve aumentar a bancarização, o que quer dizer engrossar as fileiras de clientes, com a chegada daqueles que ainda não se relacionam com esse tipo de instituição.
Apesar disso, o fato de o sistema estar aberto também por outros players, com concorrência mais acirrada, traz perspectiva de redução de taxas cobrados pelos bancos e até mudanças mais profundas.
Para a especialista em propriedade intelectual com foco em inovação Flávia Mansur Murad, no quadro geral de efetiva quebra de monopólio para o serviço, “os bancos perderão cerca de 8% de seu faturamento e serão conduzidos a repensar a chamada ‘jornada do cliente’, a diferenciar e personalizar serviços, em especial em relação seu core business, que é captação e empréstimos”.
Quando o PIX começa a operar?
As transações via sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central passarão por uma fase de testes a partir do dia 3 de novembro e no dia 16 do mesmo mês entram em operação todas as funcionalidades do sistema.
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