Uma jovem de 27 anos afirma ter sido beijada e abraçada à força por um médico de Santos, no litoral paulista, durante uma consulta oftalmológica em um hospital especializado em São Paulo. Em entrevista ao G1, nesta sexta-feira (9), ela contou que o homem ainda colocou a mão dela sobre a calça dele, nas partes íntimas. A defesa do profissional afirma que não foi informada da acusação.
Esta é a terceira denúncia contra o médico, que já havia sido acusado por duas pacientes com suspeita de Covid-19 em São Vicente. Todos os casos foram registrados junto à Polícia Civil. Desta vez, o caso foi registrado na 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) Sul, em São Paulo. O profissional foi afastado dos dois centros médicos onde ocorreram as consultas. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) também investiga os casos.
Procurado pelo G1, o advogado criminalista Marcelo Cruz afirma que seu cliente, o oftalmologista Roberto Ivo Pasquarelli Neto, nega todas as acusações, e que o médico registrou um boletim de ocorrência de denunciação caluniosa e injúria assim que tomou conhecimento da primeira denúncia. Quanto a este terceiro caso, o defensor diz que ainda não tomou ciência oficialmente da acusação.
As duas primeiras vítimas, uma recepcionista e uma vendedora, alegam ter sofrido assédio sexual durante consultas com o médico no Centro de Controle do Coronavírus de São Vicente. Segundo as pacientes, o suspeito afirmou que elas estavam “estressadas” e que precisavam “dar uma relaxada”.
Duas vítimas denunciaram médico de São Vicente, SP — Foto: G1 Santos
O terceiro caso ocorreu no Hospital dos Olhos de São Paulo na última segunda-feira (5). A representante comercial Angélica Santos contou que marcou uma consulta com o médico após ter ido à unidade no dia 19 de setembro para acompanhar os pais.
“Meu plano não é conveniado com essa clínica e eu nunca tinha passado com ele. Por causa da idade do meu pai, que tem 65 anos, também entrei na sala”, afirma.
Durante a consulta, o médico teria oferecido a ela para fazer o exame. “Falei que não tinha convênio lá. Ele falou para eu sentar que ia ver meu grau. Até achei estranho, porque eu não ia pagar a consulta, mas como estava lá, fiz”, explica.
O profissional, então, examinou a mulher e disse que o grau dela tinha aumentado, orientando-a a voltar outro dia para que pudesse fazer um exame específico. Segundo a jovem, a justificativa para um novo procedimento é que o médico queria ver as taxas hormonais dela.
“Eu tive uma filha há dois anos e ele disse que isso poderia influenciar no aumento do grau”, contou Angélica. A consulta foi marcada para o último dia 5. Angélica compareceu ao local com a filhinha, e inicialmente, a consulta correu bem, até que o médico pediu para que ela tirasse a máscara de proteção, pois faria o exame de vista novamente e o acessório poderia interferir. O procedimento específico, segundo a vítima, não teria sido realizado.
“Ele não fez o exame que disse que faria. Colocou uma luzinha nos meus olhos, disse que eu estava com uma alergia e que era estranho. Aí falou: ‘você precisa desestressar’”, explica. Nesse momento, a jovem disse ao médico que não tinha muito o que fazer, porque cuidava da filha sozinha. O homem perguntou, então, se ela é casada e sobre o pai da filha dela.
“Em seguida, ele começou a perguntar o que faltava em mim. Se era coragem, vontade ou oportunidade. Me perguntou várias vezes, só que eu não sabia o que responder, fiquei sem reação. Sempre falava que não sabia. Depois ele perguntou: ‘Se fosse agora, o que você faria para desestressar?’ Ainda falei que não faria nada”, conta.
Ao fim da consulta, a jovem foi pegar a receita do medicamento para sair da sala, já que não estava se sentindo bem com a situação.
“Quando eu levantei, ele veio na minha direção, dizendo que eu precisava de um abraço. Eu não queria abraçá-lo. Ele me abraçou e me beijou à força. Eu empurrei ele e fui para trás. Ele pegou a minha mão e passou na calça dele, nas partes íntimas”, afirma.
Ela contou que não conseguiu gritar ou pedir socorro. Depois que conseguiu se soltar, Angélica pegou a filha e saiu do consultório. “A gente [vítimas] se sente envergonhada. Mandei mensagem para a minha mãe contando o que ocorreu”, conta. Angélica pensou em não denunciar, mas ao pesquisar na internet sobre o médico, encontrou os outros dois casos de Vivian Herculano Salvatore e Jocimari Fonseca.
A jovem procurou por Vivian e, ao conversar com ela, percebeu que o médico falou a mesma coisa para ambas. Diante disso, a representante comercial decidiu fazer a denúncia.
“Ele ainda me falou: ‘vou te ver daqui a dez dias’, mas eu não vou voltar. Parece que não foi comigo, que vi na televisão. Nunca imaginamos que vai acontecer conosco. Nunca mais vou a uma consulta sozinha”, finaliza.
Afastado de hospital
Em nota, o Hospital dos Olhos de São Paulo informou que a denúncia está sendo apurada pelos responsáveis da unidade e que o médico foi afastado de suas funções até a conclusão do caso.
Já o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo informou que, em relação às duas denúncias anteriores, já tomou as medidas cabíveis, mas que não foi acionado sobre esta nova denúncia. O órgão poderá abrir nova investigação para apurar os fatos.
Procurada pelo G1, a defesa do médico, representada pelo advogado criminalista Marcelo Cruz, afirmou que ainda não tomou ciência oficialmente da acusação e, assim que tomar, vai analisar o caso com as cautelas devidas. Ainda conforme a defesa, logo em seguida, pretende apresentar espontaneamente o médico para esclarecer o que for necessário perante a autoridade policial.
Outras duas denúncias de assédio
Em entrevista ao G1, a recepcionista Vivian Herculano Salvatore, de 29 anos, e a vendedora Jocimari Fonseca, de 27 anos, relataram ter sofrido o assédio durante consultas com o médico no Centro de Controle do Coronavírus, equipamento da Prefeitura de São Vicente exclusivo ao atendimento de pessoas com sintomas da Covid-19.
Centro de Controle de Coronavírus em São Vicente, SP — Foto: Divulgação/Prefeitura de São Vicente
Após o atendimento, Vivian denunciou o médico à administração da unidade de saúde, bem como à Polícia Civil, por meio da Delegacia de Defesa da Mulher, onde o caso é investigado como importunação sexual. Segundo a paciente, ela sentiu medo e não conseguiu reagir à ação do profissional. “Não quero que outras pessoas passem por situação igual ou pior à que eu passei”.
Jocimari também denunciou o caso à administração do hospital, mas relata não ter conseguido registrar a ocorrência por meio da Delegacia Eletrônica. Devido ao diagnóstico positivo para o novo coronavírus que recebeu ao voltar no Centro e fazer o exame, ela relata aguardou o fim da quarentena para registrar a ocorrência.
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