Dilema inusitado precisa ser superado entre dois prefeituráveis de Fortaleza

Em clima de eleição, muitos fatores, por mais banais que pareçam à primeira vista, podem virar motivo de acirramento da disputa. Em Fortaleza, um dilema um tanto inusitado se instaurou entre dois candidatos ao Executivo Municipal com trajetórias políticas bem distintas, mas que têm em comum o mesmo nome: Heitor Férrer (Solidariedade) e Heitor Freire (PSL). Ainda quando o segundo, que exerce o seu primeiro cargo político na Câmara dos Deputados, foi eleito deputado federal em 2018, o primeiro, veterano na Assembleia Legislativa, registrou nas redes sociais a confusão que alguns eleitores faziam entre os dois nomes. À época, Heitor Férrer dizia receber cobranças, mensagens que, na verdade, eram destinadas ao xará. O que parecia um causo superado, porém, é incômodo declarado no pleito municipal. Ontem, durante agenda de campanha, o candidato do Solidariedade chegou a dizer que acionaria seus advogados para ajuizar ação contra Heitor Freire, visto que, na disputa eleitoral, este tem se identificado apenas como “Heitor”. Freire reagiu com ironia, perguntando se o adversário quer que ele se batize novamente, uma vez que está, na campanha, usando o próprio nome. Fato é que, diante do impasse, o melhor caminho é que cheguem a um acordo e superem isso o quanto antes. Há questões muito mais relevantes – e urgentes – a serem discutidas por quem quer governar Fortaleza.

Disputa vista de fora

O cobiçado apoio do governador Camilo Santana (PT) na eleição na Capital ainda vai dar muito o que falar. Enquanto petistas e pedetistas repercutiram, ontem, declaração do governador sobre a “parceria” política e administrativa com o prefeito Roberto Cláudio (PDT) e o uso da imagem do chefe do Palácio da Abolição em materiais de campanha da candidatura de Luizianne Lins (PT), o deputado federal Capitão Wagner (Pros), postulante do Pros ao Executivo Municipal, quis tentar neutralizar o debate que acaba, de uma forma ou de outra, dando visibilidade a dois de seus adversários. Ele disse estar tranquilo quanto a isso, uma vez que “não precisa brigar por nenhum pai eleitoral”.

Acordos necessários

Sinal positivo o conjunto de acordos firmados entre candidatos no interior, sob mediação da Justiça Eleitoral e do Ministério Público do Ceará, para que não sejam realizados atos de campanha que possam gerar aglomerações. Ainda mais após cenas preocupantes vistas em alguns municípios nos primeiros dias de postulantes nas ruas, em que a gravidade da pandemia de Covid-19 parecia ignorada, o compromisso é exemplo a ser seguido, inclusive, por outras candidaturas pelo Estado. Pelo menos oito zonas eleitorais – que compreendem mais do que oito municípios – já tiveram termos de acordos firmados até então.


Calcanhar de Aquiles?

Preocupar-se com o respeito às medidas sanitárias na campanha tende apenas a favorecer os candidatos, que podem até comprometer a realização de determinados atos aos moldes do que era feito antes, mas terão como demonstrar – e não só dizer – que se preocupam com a saúde pública do município que almejam administrar. O descumprimento ao que as autoridades recomendam para prevenir a disseminação do novo coronavírus, ao contrário, pode virar um calcanhar de Aquiles na campanha, apontado por oponentes como sinal de irresponsabilidade e incompetência para lidar com crises.

* William Santos redigiu a coluna.

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