Testemunha que viu Patrícia Amieiro viva dentro do carro alegou medo de depor e pediu desculpas à família

engenheira Patricia Ameiro — Foto: reprodução Globo News

Taxista afirma ter presenciado ação dos PMs envolvidos no caso. Ele se apresentou para prestar depoimento ao Ministério Público na terça (22), 12 anos após o crime.

A família da engenheira Patrícia Amieiro recebeu, por videoconferência, um pedido de desculpas da nova testemunha do caso. O taxista alegou que demorou 12 anos para se apresentar ao Ministério Público do Rio de Janeiro para contar o que viu, em junho de 2008, porque teve medo.

O irmão de Patrícia disse ao G1 que o motorista, que diz ter presenciado toda a ação que envolveu a morte da engenheira na época, pediu muitas desculpas por ter ficado tanto tempo em silêncio.

“Pediu desculpas por ter feito a gente sofrer esse tempo todo, pois poderia ter falado antes, mas tinha muito medo. Nós entendemos e agradecemos por ele ter aparecido e ter a coragem de falar”, revelou Adryano Amieiro, irmão da vítima.

Adryano contou ainda que todos estavam muito emocionados durante a conversa e que entendia a opção do taxista de não ter se envolvido no caso anteriormente.

“Todos estavam muito emocionados, mas eu disse que entendia o lado dele, pois é difícil a situação que ele se encontrava. Ele falou que não aguentava mais conviver com isso e que sempre que via a gente na televisão tinha vontade de falar, mas não tinha coragem”, acrescentou.

O irmão de Patrícia afirmou também que não há mágoas e que, para a família, resta agora uma esperança com a atitude da testemunha ao se apresentar:

“Entendo o lado dele, pois é uma situação complicada. Talvez demorasse também pra falar se eu estivesse no lugar, mas também não conseguiria conviver com isso.”

Após o depoimento do taxista, a família pede que a decisão de júri popular, que ocorreu no dia 9 de dezembro de 2019, seja anulada, já que dois PMs envolvidos foram condenados apenas por fraude processual por alterar a cena do crime e foram absolvidos da acusação de tentativa de homicídio.

Depoimento da nova testemunha

A testemunha disse em depoimento ao MPRJ, nesta terça-feira (22), que os policiais envolvidos na ação se mostraram desesperados ao perceber que se tratava de uma mulher dentro do carro.

No relato, ao qual o G1 teve acesso, a testemunha afirmou ter ouvido um dos policiais dizer: “Calma, a gente vai resolver”, logo após retirarem Patrícia de dentro do veículo.

Patrícia desapareceu no dia 14 de junho de 2008, aos 24 anos, quando seguia para sua casa, na Barra da Tijuca, voltando de uma festa no Morro da Urca. O carro em que ela estava foi abandonado na saída do Túnel do Joá com diversas marcas de tiros. Seu corpo nunca foi encontrado.

A testemunha enfatizou em seu depoimento que a vítima ainda se mexia e que viu sangue entre o nariz e a boca dela quando seu corpo foi retirado do carro pelos militares.

“O policial colocou as duas mãos na cabeça, expressando desespero. Os policiais que chegaram na viatura vinda de São Conrado passaram a acalmar os outros dois policiais que primeiro estavam no local, dizendo: ‘Calma, que a gente vai resolver'”, disse a testemunha.
O taxista disse ter presenciado tudo, desde os os barulhos dos tiros, a capotagem do carro até a ação dos policiais, que retiraram o corpo da engenheira do carro. Ele foi ouvido pela promotora Carmen Eliza Bastos, no Centro do Rio, e seu depoimento já foi anexado ao processo.

Silêncio por temer a própria vida
O taxista contou ainda que, passados dois dias do ocorrido, viu pela TV reportagem sobre o desaparecimento da engenheira, constatando ser falso o relato apresentado pelos policiais. Todavia, foi desencorajado pela famílias a contar o que viu.

“Por pressão familiar e muito medo pela sua vida e de seus familiares, resolveu não testemunhar sobre o que presenciou, muito embora seu silêncio tenha pesado em sua consciência”, destacou.

Aparição após 12 anos
A testemunha revelou que só decidiu depor depois de 12 anos porque ouviu na rádio BandNews FM o colunista Carlos Andreazza falando sobre a importância de cada cidadão fazer a sua parte e que a omissão tornava a pessoa cúmplice. O taxista, então, resolveu contar o que viu.

“Comecei a chorar e decidi falar tudo o que vi, mesmo depois de tantos anos. Me sinto muito arrependido de não ter testemunhado, e com isso, de a família ter sofrido tanto”, enfatizou o taxista em seu depoimento.

Júri popular no ano passado
No julgamento, em dezembro de 2019, os policiais militares Marcos Paulo Nogueira Maranhão e William Luís Nascimento foram condenados a três anos de prisão por fraude processual no caso da morte da engenheira, por terem alterado a cena do crime.

Também acusados de envolvimento no caso, os PMs Fábio Silveira Santana e Marcos Oliveira foram absolvidos.

Embora condenados, os policiais Marcos e William puderam recorrer em liberdade. Com relação à tentativa de homicídio, o júri votou pela absolvição de ambos. Os advogados da família da engenheira entraram com recurso.

Relembre o caso
Patrícia Amieiro desapareceu no dia 14 de junho de 2008, aos 24 anos, voltando de uma festa no Morro da Urca, na Zona Sul do Rio. Ela ia em direção à sua casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade. Na saída do Túnel do Joá, o carro da engenheira foi alvo de uma série de disparos de arma de fogo.

Os policiais Marcos Paulo e William Luís foram acusados de atirar após acharem que o carro era de um traficante.

Segundo a polícia, Patrícia perdeu o controle do veículo após os tiros e colidiu em dois postes e uma mureta. Na época, o carro foi encontrado na beira do Canal de Marapendi, na Barra da Tijuca, com o vidro traseiro quebrado e o porta-malas aberto.

Para a polícia e o Ministério Público, o corpo foi retirado do veículo e o carro jogado no canal pelos policiais para impedir que o homicídio fosse descoberto.

O que diz a Polícia Militar
A assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que os policiais envolvidos no caso em questão estão respondendo a Processo Administrativo Disciplinar, que podem resultar nas suas exclusões das fileiras da Corporação. Eles seguem realizando atividades administrativas em suas unidades.

A corporação ressaltou que os sargentos Paulo Nogueira Maranhão, William Luis do Nascimento e Márcio de Oliveira Santos foram promovidos de acordo com o decreto nº 7.766, que estabelece os critérios para a promoção de praças.


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