Cássio Remis, candidato a vereador, é velado na Câmara de Patrocínio; vídeo mostra irmão do prefeito atirando

Secretário de Obras, Jorge Marra, está foragido e Polícia Civil investiga o crime. Vítima fazia denúncia durante transmissão ao vivo quando teve o celular tomado das mãos; pai desabafa: ‘inadmissível usar da força pra que possa dominar’.

Ocorpo do candidato a vereador Cássio Remis (PSDB), 37 anos, que foi baleado e morto em Patrocínio, foi velado na Câmara Municipal, na manhã desta sexta-feira (25). O principal suspeito do crime é o secretário de Obras, Jorge Marra, que segue foragido.

Jorge é irmão do prefeito da cidade, Deiró Marra, que informou que já assinou a exoneração do cargo de secretário.

Imagens de sistema de segurança mostram o momento em que Cássio e Jorge discutem. O secretário então atira contra a vítima (veja acima). A Polícia Civil informou que já deu início às investigações e vai pedir a prisão preventiva.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, e a Câmara Municipal emitiram nota de pesar. A reportagem da TV Integração conversou com o pai da vítima, Marcos Remis, que falou sobre a carreira e dedicação à política desde jovem.

O crime ocorreu após uma transmissão ao vivo pelo Facebook feita pelo candidato. Em seguida, ele teve o celular tomado pelo secretário e, logo após, houve uma discussão e o homicídio.

A Polícia Civil disse que peritos e investigadores fizeram os primeiros levantamentos e a vítima foi atingida por cinco tiros. Equipes estão nas ruas em busca do suspeito. Na Delegacia de Plantão, as testemunhas serão ouvidas nesta sexta-feira.

Segundo informou familiares, por volta das 11h o corpo foi levado para o cemitério Jardim dos Ipês onde foi sepultado por volta de 12h.

Pai desabafa sobre crime

Cássio Remis foi eleito vereador em 2008, e presidente da Câmara em 2013/2014. O político exerceu dois mandatos consecutivos 2009/2012 e 2013/2016.

“Sempre atendeu principalmente as pessoas mais simples e pobres. E hoje foi, sem farda, covardemente morto por esse grupo que administra a cidade. Infelizmente, é até inadmissível numa cidade como Patrocínio as pessoas usarem da força pra que possa dominar todas as pessoas”, disse Marcos Remis, pai da vítima.

Ele também contou que o filho foi o vereador mais novo na história política da cidade e tinha uma longa carreira pela frente.

“Dedicou a vida inteira a essa causa. Não teve infância, não teve balada, só se dedicava à política. E tinha, na verdade, pretensões futuras que eu tenho certeza que o horizonte já havia aberto pra ele. Talvez seja esse o motivo pra que eles pudessem ter assassinado de forma brutal e desleal.”

Homicídio

Cássio Remis foi assassinado por volta das 15h30 desta quinta-feira (24). Antes de morrer, a vítima estava na Avenida João Alves do Nascimento mostrando o processo de revitalização quando alegou na transmissão ao vivo que funcionários da Prefeitura eram usados para fazer serviços particulares em frente a uma residência que seria o comitê de campanha do atual prefeito, Deiró Moreira Marra.

Nesse momento, o assassino saiu de um veículo, tomou o aparelho da vítima e voltou ao carro.

Segundo o tenente-coronel Salomão Queiroz Caixeta, em seguida Remis foi atrás de Jorge Marra, que se dirigiu à Secretaria de Obras. Na porta do local, o candidato tentou pegar o telefone de volta, mas Marra atirou e fugiu.

Live

A live de Cássio Remis foi postada por volta depois das 15h. Leia abaixo e assista ao vídeo que a vítima publicou em rede social antes de ser morta.

“Boa tarde. Estamos aqui na avenida que está servindo para reforma e, para nossa surpresa, mas não para nossa estranheza, nós nos deparamos desde ontem com um arsenal de funcionários da Prefeitura sendo utilizados para fazer o calçamento de onde possivelmente será o comitê eleitoral do prefeito (…). Isso mesmo, funcionários da Prefeitura, maquinários da Prefeitura, com (…). Agora eu pergunto para vocês moradores dessa avenida, quantos de vocês tiveram a condição de ter esse asfaltamento aqui. Ninguém. Aqui, agora chegando o secretário para me agredir”.

Após o encerramento da transmissão ao vivo, Remis foi atrás de Jorge Marra. Em seguida, o crime ocorreu. Diversas pessoas foram para o local acompanhar o trabalho da polícia.

Coletiva da Prefeitura

Por volta das 17h30, o prefeito de Patrocínio falou com a imprensa e afirmou que ele não teve relação com a discussão entre Cássio e o irmão. Além disso, Deiró Moreira Marra rebateu a crítica feita pelo candidato a vereador durante a live.

Veja abaixo trechos da coletiva:

“Quero inicialmente dizer que nós estamos, de forma muito consternada, com tudo que aconteceu, com dor e com muito pesar que a gente percebe isso. Lamentamos tudo que aconteceu e essa sequência de fatos absolutamente injustificáveis, que culminaram na morte do vereador Cássio Remis por disparo de armas de fogo, infelizmente pelas mãos do meu irmão, Jorge Marra. Esperamos que todos os fatos sejam elucidados e apurados de forma transparente pelas polícias, com a mais absoluta isenção de tudo isso. É um fato que choca todos nós. Digo aqui que todas minhas diferenças de campo político sempre foram resolvidas através do debate, jamais tive qualquer atitude fora desse campo. Infelizmente não conheço e não sei de nenhum fato e de nenhuma ação que culminou nessa tragédia, mas posso aqui externar minhas condolências à família do vereador Cássio Remis. Em consideração ao posto que ele ocupou e sua trajetória estamos decretando luto oficial por três dias”, disse aos jornalistas.

Acusação durante a live

“Reformar os passeios é uma questão trivial, não tem nada a ver”, frisou o prefeito em entrevista. Deiró disse que o ex-vereador era adversário dele e fez várias acusações, “todas infundadas”. “Mas nós transformávamos isso no debate político”, ressaltou.

Possível suicídio do irmão

Após o crime, Jorge Marra fugiu. A princípio houve a informação de que ele tinha se matado. Sobre o assunto, Deiró disse que não está ciente. “Eu não sei disso, não tenho contato com ele. Despachei com ele aqui por volta de 13h30/14h. Despachamos coisas da secretaria. É fake news”, afirmou.

Deiró também disse que não tem notícias nem do paradeiro do irmão, mas disse que acredita que ele possa fazer a defesa dele. “Este é um governo de tranquilidade e de diálogo, então um caso desse nos deixa fora, mas estamos confiando na Polícia Civil e Militar para apurar as nuances. Tem muito mais para ser esclarecido nesse momento”, comentou.

Crime

Ainda com relação ao crime, o prefeito pediu que a Justiça possa apurar todas o fato. “É uma tragédia, não tem e nunca terá minha aprovação. Isso não tem campo político nenhum para ser para ser explorado. As consequências que culminaram nessa discussão será elucidada. Quero tranquilizar a população que a gente não participa dessas atitudes”, destacou.

“Esperamos do fundo do coração que Deus possa dar muita paz e tranquilidade para nossas famílias, em especial tanto a nossa quanto a do ex-vereador, que possam ter tranquilidade para superar tudo isso. É uma tragédia. Decretei luto oficial”, acrescentou.

Trabalho na Prefeitura

Na ocasião, o prefeito também disse que não acredita que a situação possa afetar a continuidade do trabalho dele na cidade. “Quem conhece o Deiró sabe que tenho uma tranquilidade pessoal muito grande, fui por várias vezes”, concluiu.

Nota de pesar

Romeu Zema

“Estarrecido com o assassinato brutal do candidato a vereador em Patrocínio, Cássio Remis. É inadmissível que o ambiente político se transforme nisso. É preciso ter tolerância. Minha solidariedade à família dele. E para criminosos que agem com brutalidade: o rigor da lei e cadeia.”

Câmara Municipal

“É com pesar que a Câmara Municipal de Patrocínio, vem em nome de todos os Vereadores e funcionários da Casa se solidarizar com os familiares e amigos pelo falecimento de Cássio Remis Santos.

Cássio exerceu o cargo de Vereador de Patrocínio por dois mandatos, sendo Presidente da Casa nos anos de 2013 e 2014. Pedimos a Deus que conforte o coração dos familiares e amigos neste momento de dor.”

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