Ou seja: enquanto as escolas públicas estiverem fechadas, ninguém tem o direito de funcionar. O que vale “para os pobres”, dizem eles, tem de valer também “para os ricos”. Não querem, nem mesmo, que escolas privadas tenham horários com atividades de recreação, ao ar livre e obedecendo a todas as exigências dos médicos que militam no “Partido do Fique em Casa Pelo Resto da Vida”.
Por que esses meninos riquinhos teriam direito a se distrair um pouco se os meninos pobres estão obrigados a ficar nas suas casas da periferia, sem conforto, sem espaço e sem ter o que fazer? Não senhor. Se sofrem uns, têm de sofrer todos. Nunca ocorre aos professores públicos, é claro, que os meninos pobres estão sofrendo unicamente porque eles mesmos, os professores, decidiram impor esse sofrimento com a sua guerra para manter a rede pública trancada.
É sabido, há décadas, que há uma diferença estúpida entre a qualidade do ensino particular e a do ensino público — e que essa, justamente, é a principal causa das desigualdades na sociedade brasileira. Mas a esquerda educacional nunca pensou, nem por um minuto, em fazer algum esforço de verdade para melhorar a escola pública; sua solução para o problema, como se vê agora, é reprimir a escola particular. Mais: sua exigência de quarentena sem fim para as salas de aula está sendo um dos ataques mais agressivos que já se fez a favor da concentração de renda e do aumento da diferença de classes no Brasil.
O fechamento das escolas virou, nos dias de hoje, umas das principais bandeiras do “campo progressista”, como a esquerda — com o aval da mídia — chama a si própria. Não acham que 50 milhões de alunos sem aula seja uma tragédia; trata-se, para o “progressismo”, de uma meta a atingir ou a preservar. Talvez até estejam, como Dilma Rousseff, querendo “dobrar a meta”.
As escolas já estão fechadas há mais de 200 dias no Brasil – mais do que em qualquer país de primeiro mundo. A nova meta, imagina-se, é chegar aos 400.
J.R. Guzzo
J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.
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