Há seis meses, a OMS declarava a pandemia do novo coronavírus. De lá para cá, imigrantes do Ceará testemunharam as diversas fases da crise sanitária nos países onde moram. Agora, os cearenses contam o que mudou nesse período
O novo coronavírus atingiu o mundo em fases e momentos diferentes. No último dia 11 de março, a declaração oficial de pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ecoou pelo planeta. Hoje (11), seis meses depois, o saldo é de milhares de vidas perdidas e de boa parte da humanidade com rotinas bruscamente alteradas. Cearenses no exterior relatam cenários atuais que, apesar de contemplarem o medo de uma possível segunda onda, o lema é esperança.
É o caso de Sarah Ozorio, estudante de Psicologia que retornou ao Brasil em março para passar a quarentena próxima dos seus e reencontrou, cinco meses mais tarde que o esperado, as terras lusitanas com outros ares em agosto. O motivo da volta foi o retorno das aulas presenciais.
“O Portugal que eu deixei estava assustado, contido e rigoroso. Estávamos no meio da pandemia naquela época. O que encontrei agora está mais alegre e tenta se reerguer”, contou Sarah.
Apesar do receio de uma segunda onda que possa afetar sua volta à universidade no próximo dia 15, ela demonstra confiança no Governo, que tem lidado com cautela às restrições. A data de início das aulas coincide com o novo estágio de contingência que o país irá implantar. “Alguns estabelecimentos serão fechados novamente. O Governo está querendo controlar uma segunda onda que pode acontecer e garantir a segurança na volta às aulas”, afirma.
Mesmo com o alerta e a precaução do Governo para a segunda onda, Sarah revela não ver a mesma preocupação por parte dos habitantes. “O Governo teme muito que aconteça a 2ª onda, mas eu não vejo a população tão preocupada”.
Nova Zelândia
A pandemia também suscitou um espírito de união e a resistência nas aproximações possíveis, apesar da distância física, ressalta Marina Lima, que mora na Nova Zelândia há 12 anos. Ela conta sobre a união da comunidade brasileira imigrante ao ver a perda de emprego de muitos conterrâneos quando o país entrou em quarentena. “Fizemos festas juninas, rifas e os ajudamos a voltar para o Brasil”, revela.
A Nova Zelândia se destacou nas medidas de proteção e “lockdown” (isolamento rígido). Marina cita o protagonismo da premiê Jacinda Ardern.
“A primeira-ministra agiu de forma rápida e intensa logo no começo. Ela foi bem rígida, com ‘lockdown’ mesmo. Passamos cinco semanas sem poder sair de casa”, lembra.
Embora tenham ocorrido novas ocorrências do vírus no país, a cearense diz que a população está tranquila devido ao contingenciamento rápido desses casos e ações antecipadas do Governo. “A primeira vez foi tão tranquila que temos, ao mesmo tempo, a segurança que estamos preparados e, aqui, as pessoas têm uma consciência social muito grande”, conta.
Itália
Desde os dias difíceis, Vitória Pinheiro, administradora que vive na Itália há nove anos, vê a vida com respeito e busca não esquecer da dor daqueles que perderam entes queridos. Seu marido precisou morar em outro apartamento ao ser infectado e também perdeu familiares para a doença.
“A gente não pode esquecer da dor dos outros. Isso não significa que a gente vai deixar de viver, mas vamos viver com respeito por essa dor”.
Morando em uma cidade pequena e turística durante o inverno, no começo da quarentena, fim da alta estação, foi difícil manter o distanciamento social na região.
“No inverno aqui chega a ter 40 mil pessoas. Mercado, farmácia, lojinha, tudo pequeno. No período crítico, a cidade estava lotada”, ressalta.
Enquanto relembra os dias difíceis, olha para eles com resiliência e esperança. “Agora que passou a gente tem a noção do quão pesado e difícil foi aquele período”, reflete.
Recentemente, a Itália, um dos países mais atingidos pela doença na Europa, voltou a registrar um aumento dos contágios. Mesmo assim, a administradora cita o preparo dessa nação europeia, que não era visto durante o início da pandemia da Covid-19.
“Se acontecer uma segunda onda, a Itália já está mais preparada. O que o Governo fala é que outro ‘lockdown’ não vai existir”, avisa.
A cearense comenta a preocupação e atribui a alta de casos às férias, em conjunto com o verão europeu. “A gente estava bem tranquilo, achando que o vírus tinha enfraquecido, mas recentemente voltamos a ficar preocupados. Estamos em estado de alerta mais uma vez, principalmente por conta das férias e verão”.
França
Apesar de Thiago Costa ter passado a época mais rígida do “lockdown” francês na casa de amigos, ele relata a dificuldade e se volta para um futuro em que não seja mais necessário passar pelas duras medidas. “Foi um período complicado, tínhamos que ficar trancados em casa. A França não estava muito preparada”. À medida em que os dias se passaram, o estudante viu as melhorias do país quanto ao enfrentamento. Agora, Thiago vivencia uma rotina quase normal, só que com máscaras de proteção. E, assim como em Portugal, Nova Zelândia e Itália, ressalta o preparo do Governo francês para caso aconteça uma nova onda de contágios.
“Eles adotaram o uso generalizado de máscaras por que tudo indica que vai haver essa segunda onda, mas não necessariamente tão forte por que o governo francês está muito mais preparado”, afirma.
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