Os (ir)responsáveis e a pandemia (parte I): Desmistificando, desnudando e desmentindo a narrativa de governadores e prefeitos

João Doria e Wilson Witzel

Vamos tentar desmistificar, desconstruir, desnudar, desmentir, a narrativa de governadores, prefeitos e outras “autoridades” que fomentaram, com suas equivocadas políticas públicas de saúde, mortes por conta da pandemia?

Os temas são as políticas de controle e a medicação na pandemia.

Vamos tentar não misturar estes fatores para ficar bem claro tudo isso.

Algumas premissas se fazem necessárias.

Ninguém no Brasil, mas ninguém mesmo deu a verdadeira dimensão da crise sanitária quando as notícias começaram a ultrapassar as fronteiras da China. Do surto, ainda em 2019, a evolução, na escala da doença, passou para endemia, epidemia até ser declarada como pandemia.

No Brasil, já com a doença espalhada por vários países, os governantes ainda não davam a real importância. As declarações de governantes, especialmente de cidades e estados com tradição no carnaval, marcaram a irresponsabilidade de um representante público. Desdenharam do perigo, mitigando a exposição do povo. Não estou, ainda, considerando o viés do dolo.

À medida que os casos começaram a aparecer, inclusive, com mortes, a politização do vírus explodiu. Governantes e autoridades viraram senhores da ciência, protetores da sociedade, e viraram “estrelas” na mídia. Mídia essa que agiu como propagadora do terror, disseminando o medo no seio da sociedade, e não com notícias ou fatos. Desdenharam do governo, de vozes experientes no assunto, e principalmente, com a complacência criminosa do judiciário.

O que acompanhamos foi o contraponto que os governantes, políticos, justiça e imprensa executavam, sempre tendo como pano de fundo o oposto ao que o governo central queria aplicar, em detrimento da real preocupação no enfrentamento do problema. Isso foi fatal. E um elemento foi crucial para as discursos passassem a ter um ar de credibilidade; o terrorismo que foi implantado no país.

Isolacionismo, sanções, opressão, imposição, acusações, discursos sentimentais, a farsa do princípio de eficácia cientifica dos medicamentos apresentados pelo mundo, passaram a fazer parte do dia a dia nacional.

A ciência também foi usada politicamente. Não à toa, Michael Levitt, biofísico inglês, disse: “A política infectou a ciência.” O povo se viu engessado e dominado por tudo isso. Veio o silêncio sobre o impacto social na economia, os reflexos na empregabilidade e manutenção empresarial, tudo encoberto pelo lema do “Salvar vidas”. Quebradeira generalizada.

Os motivos da difusão da doença no Brasil têm alguns argumentos, demonstrados em números, e bem ilustrados pelo médico Osmar Terra, com sua experiência à frente da pandemia acontecida em 2009 (G1N1 – Influenza), onde coordenou os trabalhos de enfrentamento. Foi secretário de saúde do RS. Ele chama a atenção para alguns fatores.

Em proveitosa conversa com o Dr. Osmar, ele destaca que o isolamento não funciona no formato proposto, e cita o porquê de estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Amazonas e Pernambuco apresentaram alto número de infectados, principalmente, no início.

Ele frisa que a Circulação Prévia do vírus é o que determina isso. São Paulo e Rio de Janeiro, por motivos óbvios (megalópoles). O Amazonas com alta demanda de pessoas, inclusive do exterior, por conta da Zona Franca de Manaus. E Pernambuco, com turismo sempre em alta.

Deixei o Ceará por último para compor uma explanação interessante feita pelo Dr. Osmar. Uma triangulação ilustra bem o que seria a Circulação Prévia que aconteceu.

Wuhan/China (início da epidemia), Milão/Itália (alto índice de infectados) e Fortaleza (turismo oriundo da cidade italiana, por vôos diretos). Ligações comerciais ligam empresários chineses à cidade de Milão (Moda).

O turismo italiano está intrínseco à cidade de Fortaleza. Podemos arriscar que a circulação prévia do vírus em Fortaleza aconteceu até mesmo antes da epidemia ser declarada no Brasil.

E por fim, por maiores que sejam os esforços para minimizar erros na contabilização dos infectados, eles se tornam frágeis à medida que o quesito testagem está longe do ideal. Tanto na quantidade, quanto no modelo de testes, a amostragem de contaminação está comprometida desde o início. Deixa de trazer luz à realidade.

Isolacionismo

Isso posto, vamos a política do isolacionismo. Isolamento horizontal, vertical, quarentena, lockdown estavam no centro da polêmica.

Não vou me enfronhar sobre o que cada país adotou, por mera e simples identificação, primeiro, como as notícias chegam por aqui, as especificidades de cada lugar, enfim… Se citar Suécia, Japão, Coréia do Sul e as conclusões quanto à adoção deste método, poderíamos condenar desde já toda e qualquer forma de isolamento radical aqui no Brasil.

Deixo isso à parte.

Prefiro recorrer ao conhecimento, experiência e justificativas do dr. Antony Wong e do Dr Osmar Terra, que alertaram, ainda em março, quais seriam as consequências do que iria acontecer.

Não se trata de adivinhação. A resposta deles, em suma, para o isolamento aplicado, é que à medida que fosse acontecendo a tal flexibilização, a tendência seria uma explosão de casos. E mais; com a chegada do frio, ambiente propício à contaminação, a propagação seria potencializada e de forma inevitável.

E não foi diferente! Basta uma atenta leitura nos gráficos do Ministério da Saúde.

Abaixo publico gráfico, desenvolvido por mim, com a evolução dos infectados e mortos a partir de 4 de maio, período que flexibilizações começaram a acontecer, e a queda de temperatura pelo país.

Antes, uma curiosidade que não consegui decifrar. Sergipe, no período, teve um aumento % de morte maior do que o de contaminação. Como explicar isso? Pernambuco e Rio de Janeiro tiveram números bem próximos.

Este gráfico mostra os estados cujo sistema de isolamento foi mais rígido desde o início, com alto índice de contaminados (já explicados acima com a questão da circulação prévia do vírus), e que após medidas de flexibilização, os percentuais de alteração caíram vertiginosamente.

É o caso dos estados de AM, CE, PE, RJ e SP. Isso configura que a tal curva de infectados já teve seu pico desde maio.

Por outro lado, chama a atenção os estados da região mais interiorana do Brasil, que inversamente do que acontecia no resto do país, começou a apresentar aumento de contaminação, e de óbitos, justamente neste período apresentado. Estados como GO, MS, MT e TO elevaram seus índices às alturas.

Vamos aos números:

Até o dia 4 de maio, estes quatro estados apresentavam 1,76% dos casos confirmados dos infectados no Brasil, ou seja, em dois meses, com uma população de 7% do país, eram insignificantes os casos por lá. A partir de 4 de maio, esse percentual pulou para 9% em quatro meses.

Coincidência ou não, estes estados passaram a praticar o isolamento com mais rigidez, com destaque para Goiás e Mato Grosso do Sul.

Conclusão: Tem responsabilidade criminal envolvida em tudo isso, e que deve ser apurada. O isolamento, da forma que foi implementado, e ainda é aplicado em muitos pontos do país, não tem o efeito que os governantes querem impor apenas com discursos. Alegam que é assim no mundo inteiro, e blá, blá, blá. MENTIRA!

Há inúmeros exemplos de países com histórico de controle bem mais eficiente, sem essa política equivocada. De novo, se faz presente a questão da politicagem no meio governamental municipal e estadual, diga-se a bem da verdade.

O fator da Circulação Prévia, que foi ignorada, e aplicação de isolamento mais criterioso e ajustado à realidade de cada lugar, teriam efeitos muito mais satisfatórios se considerados para protocolos da política de saúde pública, com certeza absoluta.

Infelizmente, todos foram atingidos em cheio com os reflexos desta política adotada; a sócio-econômica. Mas isso é tema para outro momento.

A segunda parte desta coluna continua tratando da política da saúde pública: A politização do uso da Cloroquina e seus complementares medicamentosos.


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