Há mais de uma semana, o antigo monarca deixou o país para se distanciar de acusações de fraude; países em quatro continentes já foram especulados
Há mais de uma semana, as informações e especulações sobre o possível paradeiro do rei emérito Juan Carlos I, ainda desconhecido publicamente, não param na Espanha. No último dia 3, ele anunciou que iria morar fora do país por tempo indeterminado, após ter o nome envolvido em um escândalo financeiro.
De qualquer maneira, sua segurança “interessa ao Estado espanhol”, afirmou nesta segunda-feira (10) o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlasja, durante uma visita oficial na Argélia, ao ser questionado pela imprensa local. Ele não deu mais detalhes sobre essa questão.
O antigo monarca comunicou a seu filho, o rei Felipe VI, a “decisão ponderada” de deixar a Espanha diante da repercussão pública de “certos acontecimentos passados” de sua privada (em referência a negócios nebulosos), informou a casa real espanhola na semana passada.
Segundo um comunicado de seu advogado, Javier Sancher Junco, Juan Carlos permanece à disposição da promotoria espanhola para qualquer trâmite ou questionamento que seja necessário.
O rei emérito teria conversado com diversos amigos, aos quais comentou que sua saída da Espanha era um “parênteses”, deixando em aberto a possibilidade de que seja apenas uma saída temporária.
O silêncio da família real
Em meio a muita expectativa, o rei Felipe VI iniciou na segunda, na cidade de Palma, onde passa férias com sua família, sua agenda institucional de audiências com autoridades regionais das ilhas Baleares, no Mediterrâneo.
É a primeira atividade oficial do rei depois que recebeu, na última quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Francisco Bustillo, no Palácio da Zarzuela, em Madri.
Mesmo assim, nada do que foi comunicado sobre as reuniões aponta para possíveis comentários sobre a partida do pai, onde ele se encontra ou onde irá morar. A presidente das Baleares, Francina Armengol, logo esclareceu que isso não foi tema da reunião.
“Toda minha preocupação é com os cidadãos das ilhas Baleares. Sobre o resto, as explicações devem ser dadas pela casa real, não por mim”, disse ela à imprensa após a audiência, na qual abordou a “complicada” situação sócioeconômica das ilhas por conta da pandemia do novo coronavírus.
Também na segunda, Felipe VI, a rainha Letícia e suas duas filhas visitaram, na ilha de Mallorca, o museu que fica na casa onde nasceu, no século 18, o missionário espanhol frei Junipero Serra, cuja estátua na cidade de São Francisco foi derrubada durante os recentes protestos contra o racismo nos EUA.
Europa, América, Ásia ou Oceania?
Portugal, República Dominicana, Emirados Árabes, Nova Zelândia, entre outros, são os destinos ou lugares onde Juan Carlos teria passado que são mencionados com maior insistência pela imprensa espanhola nos últimos dias, às vezes com grande destaque informativo e gráfico.
Rei emérito Juan Carlos I, envolvido em escândalo, deixou a Espanha
Francois Lenoir/Reuters – 4.5.2019
O certo é que, desde que ele deixou o palácio de Zarzuela, a casa real não confirmou e nem tampouco desmentiu nenhuma dessas informações, nem parece ter intenção de fazê-lo. Considera que é o rei emérito que deve decidir se tornará público seu destino e quando irá revelar.
O Governo espanhol não deu pistas sobre o seu paradeiro, mas presume-se que tanto o seu presidente, o socialista Pedro Sánchez, como outros membros do gabinete sabem.
Felipe VI vai receber Sánchez nesta quarta-feira, no tradicional despacho de verão em Palma entre o chefe de Estado e o do governo, e a situação do rei emérito, será presumivelmente um dos assuntos que serão abordados, além das graves consequências da covid-19 na Espanha, onde os contágios aumentaram.
Debate monarquia x república
A saída de Juan Carlos I da Espanha desencadeou também um novo atrito na coalizão que forma o governo espanhol, já que os representantes do partido Unidas Podemos e seu líder Pabli Iglesias, criticaram Sánchez por não informá-los previamente sobre o que, segundo eles, seria uma fuga do rei emérito para sair do alcance da Justiça.
A ocasião também foi aproveitada por partidos de esquerda e pelo movimento pela independência da Catalunha para retomar as críticas contra a monarquia e pedir um referendo sobre a forma de governo.
Segundo uma resolução aprovada na última sexta-feira pela maioria separatista do Parlamento regional catalão, a “Catalunha é republicano e, portanto, não reconhece e nem quer ter um rei”.
Não é o caso do Partido Socialista de Sánchez, que considera “adequada” a medida de Felipe VI de se distanciar do pai e apoia a atual monarquia parlamentar constitucional.
O jornal espanhol La Razón publicou na segunda-feira uma pesquisa que mostra que 54,8% dos espanhóis apoiam a monarquia, diante de 38,5% que preferem que o país seja uma república. Para 71,3%, é aceitável ou muito aceitável que o rei emérito more no exterior.
Em outro levantamento, o jornal El Mundo publicou no domingo que 67.2%, mais de dois terços da população, consideram “importante” ou “muito importante” o papel institucional de Juan Carlos I na transição para a democracia após o fim da ditadura franquista. Mesmo assim, 80,3% acham que ele deve responder na Justiça pelos possíveis crimes fiscais.
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