Itajaí, sexto município mais populoso de Santa Catarina, com 220 mil habitantes, é a primeira cidade do país a testar em larga escala um medicamento que pode impedir o contágio e a proliferação do coronavírus, ou seja, é uma tentativa de prevenir a população local contra Covid-19.
Enquanto o país inteiro se divide entre tratar ou não de forma precoce, conforme o protocolo do Ministério da Saúde (com hidroxicloroquina e azitromicina), todas as pessoas que tiverem sintomas leves de gripe sem esperar pelo resultado do exame laboratorial – que demora dias, quando o estado de saúde do paciente pode se agravar -, Itajaí sai na frente e opta por tentar evitar a proliferação do vírus na cidade.
Ainda não há comprovação científica de que isso possa acontecer. Um estudo feito em Melbourne, na Austrália por dois institutos de pesquisa (Instituto de Descobertas de Biomedicina da Monash University e Instituto Peter Doherty de Infecção e Imunidade) – e publicado há um mês no International Journal of Antimicrobial Agents – mostrou que, em testes de laboratório (in vitro), a ivermectina possui atividade antiviral contra o vírus causador da Covid-19, mas não há publicações que confirmem esse resultado em seres humanos.
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Itajaí, sexto município mais populoso de Santa Catarina, com 220 mil habitantes, é a primeira cidade do país a testar em larga escala um medicamento que pode impedir o contágio e a proliferação do coronavírus, ou seja, é uma tentativa de prevenir a população local contra Covid-19.
Enquanto o país inteiro se divide entre tratar ou não de forma precoce, conforme o protocolo do Ministério da Saúde (com hidroxicloroquina e azitromicina), todas as pessoas que tiverem sintomas leves de gripe sem esperar pelo resultado do exame laboratorial – que demora dias, quando o estado de saúde do paciente pode se agravar -, Itajaí sai na frente e opta por tentar evitar a proliferação do vírus na cidade.
Ainda não há comprovação científica de que isso possa acontecer. Um estudo feito em Melbourne, na Austrália por dois institutos de pesquisa (Instituto de Descobertas de Biomedicina da Monash University e Instituto Peter Doherty de Infecção e Imunidade) – e publicado há um mês no International Journal of Antimicrobial Agents – mostrou que, em testes de laboratório (in vitro), a ivermectina possui atividade antiviral contra o vírus causador da Covid-19, mas não há publicações que confirmem esse resultado em seres humanos.
Quanto à prevenção há apenas experiências empíricas (com base em observação). Uma delas, feita na cidade de Trinidad, na Bolívia, mostrou eficácia no tratamento inicial de doentes e também na prevenção da população, que tomou o remédio distribuído de graça numa campanha contra doenças causadas por parasitas, mas acabou não contraindo coronavírus.
Embora nenhum estudo tenha o padrão exigido pela comunidade científica para confirmação da eficácia da ivermectina contra o vírus e a doença causada por ele, a Covid-19, é essa a aposta do prefeito de Itajaí Volnei Morastoni (MDB), que também é médico, especialista em pediatria.
Ele encomendou um milhão de comprimidos direto da fábrica a um preço bem mais barato que nas farmácias, mas, ainda assim, alto devido à quantidade (suficiente para atender toda a população por três semanas). A prefeitura gastou quase R$4, 5 milhões de reais.
Alvo de críticas por investir em remédios para quem está saudável em vez de comprar mais equipamentos ou medicamentos para atender possíveis novos casos de doentes graves, o prefeito tem o apoio da população. Em uma semana foram distribuídos comprimidos para 60 mil pessoas, quase 30% dos moradores. O prefeito prevê chegar a 100 mil até o fim de semana e atender também a outra metade da população.
“Se for preciso compro mais”, disse Volnei Morastoni na nossa conversa em vídeo através de uma live no Instagram da Gazeta do Povo nesta terça-feira (14) durante uma brecha na agenda do gabinete, montado em pleno centro de distribuição do medicamento. Para assistir à entrevista completa clique no play do vídeo no topo da página.
“Que remédio é esse?
A ivermectina é um vermífugo e anti-parasitário, usado há décadas para combater outras doenças, de piolho a elefantíase, de lombriga a sarna. O medicamento não faz mal nenhum à imensa maioria das pessoas com exceção de quem está com meningite. Em Itajaí também não está sendo recomendado a gestantes e a crianças menores de 5 anos ou 15 quilos.
O uso do remédio é polêmico, porque ainda não há comprovação científica nos padrões mais rígidos com o famoso estudo com “grupo controle, duplo cego, randomizado”, que permite comparações de resultados entre quem tomou o remédio e quem não tomou, sem que os pesquisadores saibam quais pacientes estão em cada grupo.
Mas as evidências clínicas (ciência empírica, baseada na observação de casos) mostram queda no número de contaminados e também no agravamento dos doentes que tomaram ivermectina, além de redução nas estatísticas de mortes. Isso aconteceu, por exemplo, em Porto Feliz (SP), cidade onde o prefeito, também médico, optou por incluir a ivermectina no protocolo de tratamento precoce, junto com hidroxicloroquina e a azitromicina.
Assim como em Itajaí, em Porto Feliz o remédio também foi distribuído a pessoas saudáveis como forma de prevenção, mas não em larga escala, apenas para as que estavam em contato diário com doentes confirmados e em tratamento.
O prefeito Cássio Prado (PTB), que é clínico geral, tem dito em entrevistas que o uso da ivermectina em pessoas do convívio dos doentes e o protocolo do tratamento precoce são os responsáveis pelo baixo número de mortes (6) na cidade de 52 mil habitantes.
Outros exemplos bem sucedidos no uso da ivermectina no Brasil para tratamento de pacientes com sintomas leves são Belém (PA), caso que já reportei aqui, e as 16 cidades do Amapá, também mencionado nesta coluna pelo Dr. Pedromar Melo, responsável pela Defesa Civil no estado, no vídeo do debate médico publicado na semana passada.
Ivermectina rendeu prêmio Nobel de Medicina a dois pesquisadores
Embora seja uma droga usada há 40 anos (até para uso veterinário), em 2015 seus descobridores, o cientista japonês Satoshi Omura e o irlandês William C. Campbell, foram premiados com o Nobel de Medicina, graças a novas descobertas relativas a seu uso.
Os pesquisadores descobriram que a ivermectina também é eficaz contra a oncocercose (doença causada pelo verme Onchocerca volvulus) e a filaríase linfática, infecção que leva o paciente a ter elefantíase (causada por vermes do gênero Filarioidea). Uma curiosidade: Omura tem ligação com o Brasil. Ele é colaborador da Fiocruz há mais de uma década.
Talvez no futuro se comprove, com estudos científicos detalhados, seguindo os padrões mais rigorosos, que o remédio atua também contra o coronavírus. Quem sabe não rende o primeiro Nobel a um cientista brasileiro? Por enquanto a esperança de médicos que estão na linha de frente do atendimento a doentes ou na administração de cidades atingidas pela pandemia é que garanta a saúde e a vida das pessoas.
Em tempo: o prefeito Volnei Morastoni reforça o alerta que tem feito aos moradores de Itajaí. A ivermectina deve ser usada sob prescrição médica e isso não significa que a pessoa esteja blindada contra a Covid-19.
As medidas de restrição à circulação de pessoas continuam em vigor em Itajaí e a recomendação não mudou: todos que precisarem sair de casa devem usar máscara, evitar aglomerações, manter distanciamento de dois metros de qualquer pessoa e não tocar nos olhos, nariz ou boca sem antes lavar as mãos ou passar álcool em gel.
“Cristina Graeml é jornalista formada pela UFPR (1992). Trabalhou como repórter de TV por 26 anos, fazendo coberturas nacionais e internacionais. Em 2010 fez parte da equipe que ganhou o Prêmio Esso e o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, entre outros, pela série Diários Secretos da Assembleia Legislativa do Paraná. Está na Gazeta do Povo desde 2018. **Os textos da colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.”
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