Nos dois anos em que mais gastou com viagens nacionais e internacionais como ex-presidente da República, em 2014 e 2015, Fernando Henrique Cardoso gerou R$ 438 mil de despesas com diárias e passagens de seguranças e assessores, tudo pago com dinheiro do contribuinte. Só as 14 viagens internacionais custaram R$ 298 mil. O trajeto mais caro – R$ 66 mil – incluiu Londres e Washington. Todos os valores foram atualizados pela inflação.
Em 2015, as viagens de FHC consumiram R$ 249 mil, sendo 209 mil com deslocamentos para o exterior. No início de junho, ele esteve em Londres, onde participou de conferência, e logo seguiu para Washington. Foi acompanhado de um assessor, que recebeu 13 diárias no valor de R$ 22 mil – cerca de R$ 1,7 mil a unidade. As passagens custaram R$ 43,6 mil. A conta fechou em R$ 65,6 mil.
Naquele ano, ele já havia passado por Washington, em março, durante quatro dias, em viagem que custou R$ 48,7 mil. No final de março, deu um pulo em Madri, onde passou mais quatro dias, ao custo de R$ 6 mil.
Títulos para falar “de graça”
No início de maio, esteve em Nova York por uma semana. No dia 12, recebeu o prêmio “Personalidade do ano”, oferecido pela Câmara de Comércio Brasil Estados Unidos, juntamente com o ex-presidente americano Bill Clinton. A homenagem, para 1,1 mil convidados, aconteceu no hotel Waldorf Astoria, na Park Avenue. A conta da viagem paga pela Presidência da República do Brasil ficou em R$ 50 mil.
No segundo semestre, o ex-presidente fez roteiros mais modestos: ficou dois dias em Montevidéu e seis em Barcelona, com uma despesa total de R$ 40 mil. Em 2014, FHC foi acompanhado de assessores em apenas duas viagens internacionais. Em setembro, esteve em Nova York e Chicago, durante oito dias, ao custo de R$ 42 mil. No dia 11, recebeu uma homenagem na Roosevelt University’s, de Chicago.
No retorno, participou do famoso jantar na mansão da rua Itália, no Jardim Europa, em São Paulo, que reuniu a nata do empresariado paulista, numa tentativa de impulsionar a campanha de Aécio Neves a presidente da República. Levantou a plateia ao contar que estava chegando de Chicago, onde havia sido homenageado: “Cheguei à conclusão que, quando querem que eu fale de graça, me dão um título de doutor Honoris Causa”, brincou. Em novembro, ainda foi à Cidade do México e Atlanta. Mais R$ 45 mil na conta do contribuinte.
Em 2019, apesar da despesa relativamente pequena com viagens, R$ 52 mil, – comparada com anos anteriores –, FHC fez mais seis viagens para o exterior, com um gasto total de R$ 37 mil. A mais cara foi para Miami (EUA), em maio, no valor de R$ 11,7 mil. Viagem para Boston (EUA), em abril, havia custado R$ 11,4 mil. Ele também voou para Buenos Aires, Montevidéu, Bogotá e Londres.
Viagens nacionais em carros “chapa branca”
Em todas as viagens pelo país em 2014 e 2015, o deslocamento da equipe de apoio de FHC foi feito em veículos oficiais. Mas não saiu de graça. As diárias dos motoristas e seguranças custaram R$ 140 mil. E ainda faltam as despesas com combustível, não informadas pela Presidência da República.
Os maiores gastos aconteceram em 2014 – R$ 100 mil. Foram 31 deslocamentos para o Rio de Janeiro e seis para Ibiúna (SP), distante 70 quilômetros da capital paulista, onde o ex-presidente descansava num sítio de sua propriedade.
A equipe de apoio também viajou em carros “chapa branca” para locais mais distantes, como Fortaleza, Porto Seguro (BA), Aracruz (ES). O blog perguntou à assessoria do ex-presidente se ele também viajava em carros oficiais ou de avião nas viagens nacionais, mas não houve resposta.
Em Fortaleza, no La Maison Coliseu, FHC fez palestra a convite do Sindicado da Indústria da Construção. Ele sabe o que falar para cada público: “Precisamos reforçar o papel do setor da construção civil perante o cenário político nacional”, afirmou. Naquele dia, não recebeu título Honoris Causa.
Despesas chegam a R$ 15 milhões
Despesas com combustível são encontradas nas prestações de contas dos cartões corporativos dos ex-presidentes. Sim, eles também contam com essa mordomia. Em abril de 2012, carros de FHC consumiram combustível no valor total de R$ 1,2 mil no posto Higienópolis, próximo à sua residência em São Paulo. Os dados estavam nas contas de cartões corporativos do governo da presidente Dilma Rousssef.
Os mesmos registros mostram que o cartão corporativo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pagou R$ 2,2 mil em combustível durante três semanas, em março daquele ano. Os carros – um Fusion e um Ômega – estavam à disposição da sua equipe de apoio. O relatório informa as placas “oficiais” e “vinculadas” de cada um dos veículos, mas não esclarece o que significa a expressão “vinculadas”.
A presidência da República disponibiliza dois veículos oficiais para cada ex-presidente. A frota foi parcialmente renovada no ano passado, ao custo de R$ 108 mil a unidade. São carros de luxo, sedam, com air bag, freio ABS e manutenção e combustível pagos pelo contribuinte.
Mas a maior despesa é com o salário da equipe de apoio, formada por dois motoristas, quatro seguranças e dois assessores. Depois vem os gastos com as viagens nacionais e internacionais. FHC foi o ex-presidente que mais gastou até agora – R$ 15 milhões, sendo R$ 13 milhões com os salários da equipe de apoio. As suas despesas desde 2003 com viagens somaram R$ 2 milhões. Os seis ex-presidentes já fizeram despesas de R$ 60 milhões.
O que fazia FHC nas suas viagens
Fernando Henrique viaja ao exterior a cada três meses, em média, segundo informação da sua assessoria na Fundação FHC. Ele faz palestras em universidades e mantém correspondência com líderes estrangeiros, mantendo diplomatas na sua equipe de assessores.
A sua assessoria também afirmou que nenhum segurança acompanha o ex-presidente nas viagens internacionais. Ele viaja para o exterior na classe econômica, e nenhum custo do deslocamento do presidente é pago pela Presidência.
O ex-presidente integrou o Club de Madrid e pertencia ainda ao Foro IberoAmerica e ao Conselho da Fundação Champalimaud e ao Berggruen Institute, segundo informação da Fundação FHC em março de 2018.
Lúcio Vaz é jornalista e cobre a política em Brasília há 30 anos, revelando mordomias, privilégios, supersalários, desvios de recursos públicos e negociatas nos três poderes. Com passagens por O Globo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, ganhou os prêmios Embratel e Latinoamericano de Jornalismo Investigativo ao descobrir a Máfia dos Sanguessugas. Autor dos livros “A Ética da Malandragem – no submundo do Congresso” e “Sanguessugas do Brasil”. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.
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