Estudo da PUC-Rio indica que cada infectado no estado transmite a Covid-19 para menos de uma pessoa.
1 de 2 No Brasil, consideradas todas as pastas de saúde, a taxa era de 1,89 em 26 de maio último. — Foto: Thomas Peter/Reuters/Arquivo
No Brasil, consideradas todas as pastas de saúde, a taxa era de 1,89 em 26 de maio último. — Foto: Thomas Peter/Reuters/Arquivo
Cientistas de dados, engenheiros e economistas do grupo Covid-19 Analytics apontam em estudo que o Ceará é o único estado do Brasil com taxa de contágio abaixo de 1 (0,92). Na prática, o resultado revela que, em média, cada contaminado pelo novo coronavírus transmite o vírus para menos de uma pessoa.
Segundo a última atualização da plataforma IntegraSUS, às 18h04 dessa quinta-feira (28), o Ceará confirma 37.821 casos, 24.979 recuperações e 2.733 óbitos. Fortaleza, epicentro local da pandemia, tem 21.328 infectados, 13.950 recuperados e 1.804 óbitos. A taxa de letalidade da doença está em 7,2%.Casos de coronavírus no CearáFonte: Sesa
Para chegar ao percentual da “taxa de contágio” do Ceará, que indica o número efetivo de reprodução (R) da Covid-19, o cálculo reúne variáveis como a quantidade de pacientes recuperados, o crescimento de diagnósticos por dia e o de casos ainda ativos através dos boletins epidemiológicos das secretarias estaduais de saúde.
A pesquisa da PUC-Rio apresenta as taxas de contaminação entre os dias 15 de abril, quando um contaminado passava a doença para outras 2,75; e 26 de maio, data em que o nível atingiu o “ideal” – isto é, abaixo de 1. A taxa foi alcançada ainda em 25 de maio, com 0,99. No Brasil, consideradas todas as pastas de saúde, a taxa era de 1,89 em 26 de maio último.
Segundo o pesquisador de pós-doutorado da Universidade da Califórnia, Gabriel Vasconcelos, que integra o Covid-19 Analytics, o cálculo para obter o resultado leva em conta ainda o tempo de recuperação de cada paciente.
“A taxa está ligada diretamente a quantas pessoas cada doente infecta. O que a faz subir ou descer é a velocidade com que as pessoas se recuperam. Conforme os tratamentos forem avançando, o número desce; se os pacientes ficam doentes por mais tempo, podem infectar mais gente, e a taxa sobe”, pontua.
Os dados apurados mostram também que o pico de transmissão da Covid-19 no Ceará ocorreu quando a taxa de contágio chegou a 3,01 em 22 de abril. Isso significa que um infectado contaminava outras três pessoas.
Ainda de acordo com Gabriel Vasconcelos, “o Ceará tem apresentado uma queda do número de reprodução de forma consistente”, sem oscilações, como o Rio de Janeiro, por exemplo. Aqui, desde 4 de maio, o contágio só cai, conforme a pesquisa.
“O estado está mostrando uma tendência estável, é uma coisa boa, aumenta nossa confiança. Mas como o Ceará passou pro patamar menor do que 1 agora, no dia 26, é preciso muita cautela, esperar se vai se consolidar assim. Não estamos dizendo que o número não pode voltar a subir”, alerta o pesquisador.
Diferentemente de Fortaleza, porém, as taxas de contágio tendem a ser maiores em cidades do interior onde a doença chegou depois.
Prudência
O pesquisador complementa que, por outro lado, é fundamental que haja prudência no retorno ao convívio social.
“O número acabou de ficar abaixo de 1, então é preciso ficar de olho. A taxa pode voltar a crescer. Se a ‘volta gradativa’ for realmente gradativa, é uma coisa boa. Se a taxa voltar a subir, tem que voltar a fechar”.
Embora o modelo matemático utilizado pela PUC-Rio seja diferente do usado pela Prefeitura de Fortaleza, o gerente municipal da Vigilância Epidemiológica, Antônio Lima, reconhece que há estabilização com início de queda da média de casos por dia na capital. Ele considera que o número de óbitos por semana estão num patamar “bastante elevado”, mas “estabilizados desde o dia 10 de maio”, menciona.
Antônio Lima explica que a redução na procura de pacientes por unidades de saúde também é analisada para perceber a desaceleração do coronavírus. “Quando falo de dados epidemiológicos, falo de uma semana atrás, existe uma defasagem nas taxas. Mas quando vejo a redução da demanda assistencial em postos de saúde e UPAs, com menos atendimentos de quadros graves de síndromes gripais, isso reflete o dia”.
Para o epidemiologista, o isolamento social rígido, em vigor desde o dia 8 de maio em Fortaleza, pode ter favorecido o atual cenário. “Modelos desenvolvidos pós-lockdown já mostravam que final de maio e início de junho seriam de maior estabilidade. Sem isolamento rígido, o pico se estenderia até julho. Não funcionou às mil maravilhas, não é um lockdown europeu, numa comunidade carente é muito mais complexo, mas o isolamento que girou em torno de 60% em alguns dias é satisfatório”, frisa Antônio Lima.
Isolamento deve continuar
Durante transmissão ao vivo na tarde desta quinta-feira (28), o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, reforçou que a decisão pelo isolamento social na cidade deve permanecer, mesmo com o início da implantação do plano de retomada econômica formulado pelo governo do Ceará e divulgado também nesta quinta.
Segundo o prefeito, a fase inicial da reabertura de setores da indústria, comércio e serviços servirá para monitorar como o processo se dará e se haverá impactos para o controle da pandemia da Covid-19.
Um novo decreto a respeito do isolamento social em Fortaleza deve ser publicado nos próximos dias. Roberto Cláudio, contudo, adianta que a norma será similar à vivenciada neste momento pela população, que teria validade até o dia 31 de maio.
“Não vai ser permitido frequentar lugares públicos, fazer caminhadas ou exercícios em calçadões, ir à praia. A gente vai publicar um decreto, muito possivelmente amanhã ou no final de semana, descrevendo os detalhes desse isolamento social, mas não vai mudar muita coisa em relação ao que a gente tá vivendo atualmente”, diz.
Plano de retomada da economia
O governador do Ceará, Camilo Santana, divulgou nesta quinta-feira (28) os detalhes do plano de retomada das atividades econômicas do estado em recuperação aos efeitos da epidemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2). A partir do dia 1º de junho até o dia 7, haverá uma fase de transição, seguida por outras quatro, cada uma com 14 dias, com a divisão das atividades liberadas para retomarem por grupos. Já na primeira fase, setores do comércio já poderão funcionar. Escolas estão na última fase.
Também na primeira fase serão permitidas a atuação da indústria química, 30% da cadeia da construção civil em obras com até 100 operários; lojas de construção civil; cadeia da saúde (óticas, escritórios, clínicas de dentistas); e cuidados pessoais, como cabeleireiros e barbeiros.
Todo o processo será avaliado e poderá sofrer mudanças, contudo. Segundo Camilo, o plano de retomada é comportamental, baseada em critério de risco sanitário e outro econômico e social. As fases serão especificadas por decretos.
Confira alguns destaques do plano de retomada econômica
Escolas
- Passam a funcionar na quarta fase do plano, inicialmente a partir de 20 de julho
Igrejas e templos
- Entre 22 de junho e 5 de julho podem funcionar com 20% de sua capacidade
- Entre 5 e 19 de julho podem funcionar com 50% de sua capacidade
- A partir de 20 de julho podem funcionar com 100% da capacidade
Salões de beleza e barbearias
- A partir de 1º de junho poderão funcionar com 30% de sua capacidade
- A partir da terceira fase poderá funcionar com 100% de sua capacidade
Academias, clubes, shows e espetáculos
- Poderão funcionar com 100% da capacidade na quarta fase do plano, inicialmente a partir de 20 de julho
Shoppings
- A abertura dos estabelecimentos nos shoppings segue a ordem de abertura de cada setor de comércios e serviços, contando a partir da primeira fase do plano, inicialmente prevista para 8 de junho
Cinemas
- Poderão funcionar com 100% da capacidade na quarta fase do plano, inicialmente a partir de 20 de julho
Treinos dos times de futebol
- Os clubes de futebol participantes da final do Campeonato Cearense (Ceará, Fortaleza, Ferroviário, Barbalha, Guarany de Sobral, Pacajus e Caucaia) poderão voltar a treinar já na fase de transição, a partir de 1º de junho
- Também em 1º de junho poderão volta a treinar atletas de esportes individuais
Transporte
- Metrofor e transporte rodoviário na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) estão na fase de transição e voltarão a funcionar a partir de 1º de junho com 30% da capacidade
- Transporte rodoviário interestadual, excursões e locação de automóveis fazem parte da 4ª fase da retomada, a partir de 20 de julho
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