São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, é a porta de entrada da região conhecida como Cabeça do Cachorro, onde vivem 23 povos indígenas; o leito de UTI mais próximo está em Manaus, a cerca de 850 Km em linha reta
Com cerca de 90% da população indígena, São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, registrou, ontem, os dois primeiros casos do novo coronavírus. A cidade é a porta de entrada da região conhecida como Cabeça do Cachorro, onde vivem 23 povos indígenas, além de ser via de acesso para a Terra Indígena Yanomami, entre Amazonas e Roraima.
“A guerra começou agora, pessoal, não vamos abaixar a cabeça”, disse Franklin Quirino, coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de São Gabriel da Cachoeira, em mensagem distribuída nas redes sociais.
Quirino é um dos integrantes do Comitê de Enfrentamento e Combate à Covid-19, criado pela Prefeitura, do qual também participam as Forças Armadas, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), o Instituto Socioambiental (ISA) e a Funai, entre outros órgãos.
A confirmação dos casos é da Prefeitura, que mantém outras 120 pessoas em monitoramento. A Secretaria de Saúde do Amazonas confirma um caso no Município.
Com território cujo tamanho é comparável ao da Inglaterra, São Gabriel da Cachoeira tem cerca de 45 mil habitantes e faz fronteira com a Colômbia e a Venezuela. O leito de UTI mais próximo está em Manaus, a cerca de 850 Km. Por causa da pandemia, os transportes aéreo e fluvial de passageiros estão suspensos.
Ajuda
Em reunião de emergência, ontem, o comitê aprovou um toque de recolher, o uso obrigatório de máscaras em locais públicos e mais restrições ao comércio e ao transporte de passageiros no Município. Por meio do ISA, o comitê negocia com o projeto Expedicionários da Saúde, voltado à populações indígenas, o envio de ajuda médica.
O secretário nacional da Secretaria Especial de Saúde Indígena, Robson Silva, disse que, por terem ocorrido na cidade, os dois casos não são responsabilidade do Dsei, mas que o órgão do Ministério da Saúde atuará para impedir que a doença entre nas Terras Indígenas da região.
Apoio internacional
Ontem, o cacique Raoni Metuktire, figura emblemática da luta contra o desmatamento da Amazônia, lançou um pedido internacional de doações para que os povos indígenas do Brasil possam sobreviver ao isolamento durante a pandemia do novo coronavírus.
“Precisamos receber alimentos básicos, produtos de higiene, medicamentos e também combustível para transportá-los (os indígenas) para as comunidades”, disse o líder caiapó em um vídeo postado pela ONG francesa Planète Amazone, que lançou a campanha internacional.
A organização lançou a campanha “Covid-19: Protegendo os Guardiões da Amazônia” para financiar suas operações de ajuda a comunidades. “O respeito estrito ao isolamento é ainda mais vital, já que os nativos, devido à sua fragilidade imunológica e sua extrema precariedade em termos de acesso ao atendimento médico, são vítimas ideais para a Covid-19”, destacou a ONG.
Em um Estado (AM) que tem a maior incidência de Covid-19 do País, São Gabriel da Cachoeira teve os primeiros casos confirmados e acendeu o alerta para o risco de contaminação comunitária dos povos indígenas.
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