A longa história da China com a manipulação de coronavírus

Estudo brasileiro reproduziu pesquisa feita na China.| Foto: Hector RETAMAL/AFP

Entenda por que pesquisadores ocidentais insistem em investigar as pesquisas feitas em Wuhan antes da pandemia, prevista há anos pelos cientistas.

coronavírus chinaEstudo brasileiro reproduziu pesquisa feita na China.| Foto: Hector RETAMAL/AFP
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O problema estrutural brasileiro que mais tem se evidenciado na pandemia de coronavírus é o educacional, principalmente das nossas elites culturais, políticas e econômicas. Prepare-se para a nova informação antiga tratada como surpresa: a desconfiança sobre o respeito da ditadura chinesa à bioética.

Não é novidade nem segredo que a comunidade científica internacional tem sérias suspeitas quanto aos experimentos nos laboratórios chineses, particularmente com coronavírus em Wuhan. Há 5 anos, a polêmica foi tão grande que Barack Obama suspendeu todas as pesquisas com coronavírus nos Estados Unidos.

Óbvio que não interessa a polemistas lembrar isso, mas interessa a você: lembra dos questionamentos éticos sobre clonagem em laboratórios chineses? Enquanto o mundo todo debatia os limites éticos de replicar seres humanos, cientistas de laboratórios chineses públicos e privados anunciavam ter feito experimentos até hoje mal explicados clonando seres humanos. Tanto a falta de limites quanto a falta de transparência do regime chinês são velhos conhecidos da comunidade internacional.

No caso da pesquisa sobre coronavírus, que já tem décadas, não é diferente. Os métodos chineses são alvo de questionamento em todo o mundo ocidental e um incidente em Wuhan com o COVID-15 alarmou cientistas e Ministérios da Saúde no mundo inteiro. Foi a partir desse ponto, em 2015, que se passou a falar abertamente da pandemia de coronavírus.

Há mais de 5 mil tipos de coronavírus já identificados no mundo e os virologistas acompanhavam mutações que eram capazes de queimar etapas mudando de vetores, ou seja, saltando de humanos para animais e vice-versa. A partir de 2015, passaram a apostar que esta seria a próxima pandemia e vários governos passaram a se estruturar para isso. Há, inclusive, um Ted Talk de Bill Gates, com legendas em português, falando sobre a preparação necessária, há 5 anos.

Nesse período, o noticiário brasileiro foi mobilizado por escândalos de corrupção e as redes sociais foram tomadas por polarizações, algumas reais e outras artificiais e oportunistas. Talvez por isso, muita gente tenha a impressão de que a pandemia é uma surpresa total e que nada foi feito para minimizar os impactos ou atender as pessoas. Muita coisa foi feita nos últimos anos em diversos países enquanto as atenções do cidadão brasileiro estavam na guerra política.

Muito do que se falou sobre a política norte-americana na imprensa brasileira foi discutido sob o ponto de vista ideológico, já que era o clima por aqui. Um grande exemplo é o “Obamacare”, o plano de Barack Obama para a saúde. Sem entrar no mérito do projeto em si, por aqui se falou dele ideologicamente. Nos Estados Unidos, obviamente a ideologia entrou em pauta, mas as questões práticas também. A necessidade de se preparar para uma pandemia viral respiratória foi um dos argumentos do ex-presidente para tentar convencer o Congresso dos Estados Unidos.

É exatamente neste ponto que a China resolveu tentar uma solução à sua maneira: testar modificações do COVID-15 em laboratório, precisamente em Wuhan. A comunidade científica ocidental questionava se a tentativa de resolver o problema não criaria uma ameaça pior.

No ano anterior, 2014, o governo dos Estados Unidos já havia proibido seus cientistas de fazer esse tipo de tentativa e era ponto pacífico na comunidade científica internacional que o risco de criar vírus modificados era maior que a chance de sucesso. Em outubro daquele ano, a Casa Branca colocou sob moratória o financiamento de 18 equipes de pesquisa que lidavam com vírus de SARS e MERS capazes de passar de seres humanos para animais, como a gripe aviária e um surto no Oriente Médio que também contaminou camelos.

Na época, os cientistas reclamaram bastante porque acreditavam estar no caminho certo para evitar uma pandemia como a que vivemos hoje. Alegavam excesso de zelo do governo norte-americano. Depois, com mais pesquisas, concluíram que realmente era gigantesco o risco de modificações em laboratório desses vírus, não valia a pena. Pouco a pouco, depois de comprovar que não estavam modificando vírus, os estudos foram liberados.

Os cientistas de Wuhan ignoraram completamente o debate da comunidade internacional e continuaram fazendo modificações de coronavírus em laboratório, como mostra essa reportagem da TV italiana RAI, de 2015.

Este NÃO é o vírus da pandemia, é o COVID-15, uma versão anterior. Cientistas de países ocidentais já fizeram um rastreamento genético no COVID-19, coletado das primeiras vítimas da pandemia, para verificar se ele havia sido deliberadamente forjado em laboratório e concluíram que não havia. Hoje, já há algumas mutações diferentes do SARS-COV2 circulando pelo mundo, derivadas dessa cepa inicial da pandemia.

Esta foi apenas uma etapa inicial da investigação, mas obviamente outra vai continuar: os métodos científicos chineses e a falta de transparência podem ter contribuído para que o vírus evoluísse? O questionamento que se fazia há anos agora tem um peso diferente porque é feito pelos cientistas diante de milhares de mortos e da maior crise mundial da nossa geração. A resposta, como sempre, não virá de especulações nem do regime chinês, virá da ciência e do conhecimento.

Madeleine Lacsko

Madeleine Lacsko é jornalista desde a década de 90. Foi Consultora Internacional do Unicef Angola, diretora de comunicação da Change.org, assessora no Supremo Tribunal Federal e do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp. É ativista na defesa dos direitos da criança e da mulher. **Os textos da colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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