América Latina aposta em quarentena, mas analistas alertam para desastre

Corpo de mulher que morreu em casa de covid-19 é retirado após cinco dias em Guayaquil Foto: REUTERS/Vicente Gaibor del Pino

América Latina foi um dos lugares do mundo onde o coronavírus chegou mais tarde. Apesar de ter tido tempo para aprender com as experiências de outros países, os latino-americanos sofrem com problemas estruturais, falta de recursos e desorganização para lidar com a pandemia. Sem dinheiro para testes ou leitos de UTI, a ferramenta encontrada até agora pelos governos da região tem sido uma bem barata: o isolamento social.
No entanto, especialistas em saúde pública dizem que o novo coronavírus está prestes a se espalhar perigosamente para o sul, sufocando nações em desenvolvimento já afetadas por sistemas de saúde desgastados, governos frágeis e populações pobres para as quais o distanciamento social pode ser praticamente impossível.

Eles alertaram para uma crise global nas próximas semanas, atingindo as nações que menos podem pagar, no momento em que os países ricos estão preocupados demais com o próprio surto. A densidade populacional e as precárias condições sanitárias em favelas urbanas podem causar um desastre. 

“Daqui a três semanas, a Europa e os EUA continuarão agonizando, mas não há dúvida de que o epicentro da pandemia se mudará para lugares como Mumbai, Rio de Janeiro e Monróvia”, disse Ashish Jha, diretor do Instituto Global de Saúde de Harvard. “É preocupante.”

Em muitos países, avaliar o alcance do surto ainda é o desafio mais básico. Acostumados a crises históricas, as perdas econômicas causadas pelo isolamento nem sequer viraram tema de debate na maior parte da América Latina – e a quarentena foi uma resposta-padrão.

Paulo Beraldo, O Estado de S.Paulo

02 de abril de 2020 | 05h00

América Latina foi um dos lugares do mundo onde o coronavírus chegou mais tarde. Apesar de ter tido tempo para aprender com as experiências de outros países, os latino-americanos sofrem com problemas estruturais, falta de recursos e desorganização para lidar com a pandemia. Sem dinheiro para testes ou leitos de UTI, a ferramenta encontrada até agora pelos governos da região tem sido uma bem barata: o isolamento social.

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No entanto, especialistas em saúde pública dizem que o novo coronavírus está prestes a se espalhar perigosamente para o sul, sufocando nações em desenvolvimento já afetadas por sistemas de saúde desgastados, governos frágeis e populações pobres para as quais o distanciamento social pode ser praticamente impossível.

Corpo de mulher que morreu em casa de covid-19 é retirado após cinco dias em Guayaquil
Corpo de mulher que morreu em casa de covid-19 é retirado após cinco dias em Guayaquil  Foto: REUTERS/Vicente Gaibor del Pino

Eles alertaram para uma crise global nas próximas semanas, atingindo as nações que menos podem pagar, no momento em que os países ricos estão preocupados demais com o próprio surto. A densidade populacional e as precárias condições sanitárias em favelas urbanas podem causar um desastre. 

“Daqui a três semanas, a Europa e os EUA continuarão agonizando, mas não há dúvida de que o epicentro da pandemia se mudará para lugares como Mumbai, Rio de Janeiro e Monróvia”, disse Ashish Jha, diretor do Instituto Global de Saúde de Harvard. “É preocupante.”

Em muitos países, avaliar o alcance do surto ainda é o desafio mais básico. Acostumados a crises históricas, as perdas econômicas causadas pelo isolamento nem sequer viraram tema de debate na maior parte da América Latina – e a quarentena foi uma resposta-padrão.

No Peru, ela tomou a forma mais extrema. O governo impôs isolamento e isentou de responsabilidade policiais que usarem armas letais contra quem desobedecer o toque de recolher. A medida foi tomada, pois muitos estavam desrespeitando a restrição de circulação. 

Quem também agiu rápido foi o presidente argentino, Alberto Fernández. Ele fechou as fronteiras no dia 20 e estabeleceu uma quarentena até 12 de abril. As multas variam de R$ 400 a R$ 8 mil para quem sair de casa, incluindo a possibilidade de prisão. 


Confira matéria do site Estadão.

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