No primeiro mandato presidencial, entre 2003 e 2006, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus familiares já usufruíam das mordomias pagas com cartão corporativo. Registros de gastos obtidos pelo blog com exclusividade mostram bebidas, comida, carros, filmes e até bolas de futebol debitadas na conta da Presidência da República, que é abastecida com recursos do erário público.
No primeiro ano de governo do petista, a cozinha já era farta e exótica. Um quilo de barbatana de tubarão custou R$ 3,5 mil. Um pote de caviar de 120 gramas saiu por R$ 125. O conhaque Cognac R Matias chegou a R$ 400 a garrafa. Já cereja importada ficou por R$ 120 o quilo – todos os valores citados e os que virão em seguida foram corrigidos pela inflação. A despesas de Lula revelam ainda o aluguel de quatro carros com dois motoristas para acompanhar familiares do presidente em passeio de 30 dias em Florianópolis.
Os custos das viagens presidenciais eram altos. O aluguel de veículos para acompanhar Lula em viagem de quatro dias a São Paulo e São Bernardo do Campo (SP), em 2003, incluindo carro blindado, custou R$ 110 mil (atualizados). Foram locados carros executivos, como Omega e Australiano, mais Blazer, Sprint e até um caminhão baú. Com as despesas de hospedagem dos seguranças e equipe de apoio, a viagem ficou por R$ 210 mil.
No dia 26 de abril de 2003, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) solicitou à Secretaria de Administração da Presidência a locação de quatro veículos Vectra ou similar, dois deles com motoristas, por 30 dias, a partir de 3 de maio, para atender às necessidades de segurança de familiares do presidente da República em Florianópolis. A segurança deveria ser mantida por 24 horas, em dias úteis ou não. O GSI acrescentou que haveria ainda despesas com horas extras e hospedagem dos seguranças que acompanharam a “comitiva”.
Em 15 de abril, já haviam solicitado dois veículos quatro portas com motoristas para familiares do presidente, para o período de 15 dias, a partir de 23 de abril. O blog apurou que algumas viagens têm datas coincidentes porque eram fornecidos carros e seguranças para vários filhos do presidente ao mesmo tempo, em diferentes lugares do país, o que exigia uma logística ágil e muito cara.
Lula se diverte com pescaria em Fernando de Noronha, em 2009: ex-presidente usava e abusava do cartão corporativo com excentricidades.Lula se diverte com pescaria em Fernando de Noronha, em 2009: ex-presidente usava e abusava do cartão corporativo com excentricidades.| Foto: Ricardo Stuckert
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No primeiro mandato presidencial, entre 2003 e 2006, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus familiares já usufruíam das mordomias pagas com cartão corporativo. Registros de gastos obtidos pelo blog com exclusividade mostram bebidas, comida, carros, filmes e até bolas de futebol debitadas na conta da Presidência da República, que é abastecida com recursos do erário público.
No primeiro ano de governo do petista, a cozinha já era farta e exótica. Um quilo de barbatana de tubarão custou R$ 3,5 mil. Um pote de caviar de 120 gramas saiu por R$ 125. O conhaque Cognac R Matias chegou a R$ 400 a garrafa. Já cereja importada ficou por R$ 120 o quilo – todos os valores citados e os que virão em seguida foram corrigidos pela inflação. A despesas de Lula revelam ainda o aluguel de quatro carros com dois motoristas para acompanhar familiares do presidente em passeio de 30 dias em Florianópolis.
Os custos das viagens presidenciais eram altos. O aluguel de veículos para acompanhar Lula em viagem de quatro dias a São Paulo e São Bernardo do Campo (SP), em 2003, incluindo carro blindado, custou R$ 110 mil (atualizados). Foram locados carros executivos, como Omega e Australiano, mais Blazer, Sprint e até um caminhão baú. Com as despesas de hospedagem dos seguranças e equipe de apoio, a viagem ficou por R$ 210 mil.
No dia 26 de abril de 2003, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) solicitou à Secretaria de Administração da Presidência a locação de quatro veículos Vectra ou similar, dois deles com motoristas, por 30 dias, a partir de 3 de maio, para atender às necessidades de segurança de familiares do presidente da República em Florianópolis. A segurança deveria ser mantida por 24 horas, em dias úteis ou não. O GSI acrescentou que haveria ainda despesas com horas extras e hospedagem dos seguranças que acompanharam a “comitiva”.
Em 15 de abril, já haviam solicitado dois veículos quatro portas com motoristas para familiares do presidente, para o período de 15 dias, a partir de 23 de abril. O blog apurou que algumas viagens têm datas coincidentes porque eram fornecidos carros e seguranças para vários filhos do presidente ao mesmo tempo, em diferentes lugares do país, o que exigia uma logística ágil e muito cara.
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Viagem de “caráter particular”
Numa viagem de quatro dias a Pelotas (RS), em junho de 2003, a despesa com carros alugados chegou a R$ 40 mil (atualizados). Só o carro blindado que serviu ao presidente custou R$ 6 mil. Em junho de 2004, ele fez uma viagem de três dias “em caráter particular” a São Bernardo, onde tinha residência. A hospedagem da equipe de segurança no hotel Parthenon ficou por R$ 11,7 mil. Ainda teve a hospedagem da tripulação da aeronave presidencial e a despesa com os carros alugados, incluindo um blindado e um micro-ônibus.
Mas as mordomias não eram restritas ao presidente. Em 14 de junho de 2003, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, homem mais poderoso no governo Lula, fez uma visita de caráter afetivo a Cruzeiro do Oeste (PR), distante 560 km de Curitiba, na região de Umuarama. Foi lá que ele viveu de 1975 a 1979, com identidade falsa, desde que retornou do exílio em Cuba. Foi recebido por autoridades municipais e do estado. A locação de dois carros Omega com motoristas ficou por R$ 5,3 mil (atualizados). Foi acompanhado por três assessores.
Cozinha de Lula presidente era sofisticada
As listas de compras do Palácio da Alvorada no primeiro ano do governo Lula mostram gostos sofisticados, ou até mesmo excêntricos. Em julho de 2003, aconteceu a compra de um quilo de barbatana de tubarão no mercado La Palma por R$ 3,5 mil. Serve para o preparo de uma sopa nutritiva e saborosa. Mas tem custo financeiro e ecológico. Milhões de tubarões são pescados apenas para a retirada da barbatana. Em seguida, o animal é devolvido ao mar, onde não consegue mais sobreviver. O blog perguntou à assessoria de Lula qual a utilização da carne de barbatana no Alvorada, mas não houve resposta.
Na mesma compra, foram adquiridos 5 quilos de cereja importada por R$ 660 e dois potes de 120 gramas de caviar Mujjol, ao custo de R$ 250. Um mês antes, na mesma loja, foram comprados 4 quilos de pistache torrado por R$ 450 e 4,5 quilos de amêndoa fatiada por R$ 750. Todos os valores foram atualizados pela inflação. Também em junho, foram compradas 12 garrafas de licor na Casa do Vinho. Três garrafas do conhaque Cognac R Matias custaram R$ 1,2 mil.
Churrasco, cerveja e futebol
Mas havia também refeições bastante populares. Em julho de 2003, a despensa do Alvorada foi reforçada com 30 quilos de linguiça de pernil, 10 quilos de carne moída, 14 quilos de ossobuco e 10 pacotes de carvão, o que indica a realização de um churrasco. No mesmo mês, também foram comprados 28 pacotes de galinha caipira.
No dia 20 de junho foram adquiridas 60 latinhas de cerveja. Dois dias mais tarde, chegaram mais 182 latinhas. No dia 27, chegou uma encomenda com 100 coxinhas, 200 risoles de camarão, 200 bolinhos de bacalhau e 300 kibes. O cardápio agora estava mais apropriado para uma festa junina. O blog perguntou à assessoria do presidente Lula se as cervejas e salgadinhos acima citados foram oferecidos na festa junina que a primeira-dama Marisa Letícia organizava na Grande do Torto. Era o “Arraiá do Torto”. Não houve resposta até a publicação da reportagem.
O blog já havia revelado, em 7 de outubro do ano passado, os gastos do Palácio da Alvorada com bebidas em 2010. Em 19 de fevereiro daquele ano, foram adquiridas, na Casa do Vinho, 6 garrafas de vodka Absolut, 6 de uísque Johnnie Walker Black e 6 de cachaça Havana – por R$ 400 a unidade – mais 18 garrafas de vinho. Em 22 de março de 2010, foram compradas mais 7 garrafas de uísque, 6 de vodka e 5 de cachaça Anísio Santiago – também por R$ 400 –, produzida na Fazenda Havana, em Salinas (MG), com envelhecimento de 12 anos. Em abril, novo reforço na adega – 6 vodkas, 6 uísques e 4 cachaças Anísio Santiago.
O presidente costumava também chamar os amigos para uma “pelada” na Grande do Torto. Pois foram compradas bolas de futebol e até um apito com cartão corporativo. Também foram alugadas fitas de locadoras para uso no Alvorada em 1º de julho de 2003. O gosto era bem variado: “Velozes e Furiosos”, “Cidade de Deus” e “O que elas gostam”.
Lúcio Vaz
Lúcio Vaz é jornalista e cobre a política em Brasília há 30 anos, revelando mordomias, privilégios, supersalários, desvios de recursos públicos e negociatas nos três poderes. Com passagens por O Globo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, ganhou os prêmios Embratel e Latinoamericano de Jornalismo Investigativo ao descobrir a Máfia dos Sanguessugas. Autor dos livros “A Ética da Malandragem – no submundo do Congresso” e “Sanguessugas do Brasil”.
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