Tiro pela culatra: “ótima” entrevista de Ciro Gomes no Roda Viva é munição bolsonarista

Ossos do ofício. Assisti na íntegra a entrevista de Ciro Gomes no Roda Viva esta segunda. E sem Engov, o que é prova do meu compromisso profissional com o Brasil. Vamos fazer uma análise breve sobre a coisa.

Bolsonaro é louco, fascista, autoritário, basicamente um Thanos, o vilão da Marvel que quer destruir o mundo. Ao menos pela ótica da apresentadora do programa. Ciro Gomes? Controverso. Eis o adjetivo para definir aquele que liga sua metralhadora giratória de forma leviana e grosseira contra tudo e todos. Padrão de jornalismo brasileiro…

Primeira pergunta, basicamente uma levantadora da equipe de vôlei: o presidente não é um irresponsável?! Foi o que Vera Magalhães quis saber do seu entrevistado. O outro, após concordar, já estava se vitimizando, pois enfrentou “bandidos”… com uma retroescavadeira! Ele ainda acha que foi apresentado como alguém truculento. É mole?!

Outro jornalista endossou a narrativa de que Ciro seria uma alternativa “equidistante” ao lulopetismo e ao bolsonarismo (como se não fosse basicamente um petista), lembrou que João Doria e Janaina Paschoal se arrependeram do voto e questionou se ele se arrependia da sua “isenção” também. Olha só: alguém acha que PT seria melhor?!? Mesmo?!

Todos que estão repetindo que se arrependem do voto em Bolsonaro no segundo turno para pegar casquinha na turma “moderada” e de “centro” estão prontos para afirmar que preferiam o PT, ou mesmo que seriam indiferentes? Sério?! Imaginam Haddad no poder? Brasil mantendo Cesare Battisti no país, elogiando a ditadura venezuelana? Afundando de vez com a economia?

Ciro justificou que seu irmão é um herói, que ele teria dado tapas nos policiais amotinados, que os jornalistas são pseudo-elegantes, que não entendem o que é legítima-defesa. A senha para o fascismo é a luta contra o fascismo imaginário. Satisfeitos com o convidado? Vale tudo?

Vera, não satisfeita com a primeira levantada de bola, trouxe depois o tema do impeachment. Quem fala disso fora da bolha isentona?! Alguém daquilo que se entende por povo defende isso, por acaso? Tem que pegar mais leve para não dar tanta bandeira. Até Ciro desconversou um pouco, constrangido…

Ciro quis pautar os jornalistas o tempo todo, escolher os temas das perguntas. Ah, se fosse Bolsonaro! Ele não queria falar da ditadura de Maduro, mas afirmou que as democracias brasileira e americana são “de araque”. Democracia boa só se vencer a extrema esquerda!

A grosseria de Ciro com os entrevistadores foi ímpar! Ele chamou basicamente de idiota quem fez a pergunta e “não quer entender”. Quando Bolsonaro falou “japa” para se referir a Thaís Oyama, achei feio e critiquei. Mas isso não foi muito pior? E ela estava certa ainda por cima na questão da Venezuela! Volto a perguntar: vale tudo para atacar o presidente?!

“Desculpa por ser trivial com você”, disse o arrogante Ciro dando “aula” sobre contabilidade, ou seja, enrolando e mentindo, pois confunde juros com amortização sim, como denunciou o entrevistador! A truculência arrogante é tática para fugir da ignorância…

“General Heleno está costeando o alambrado do golpismo fascista”, afirmou Ciro Gomes. Eis o nível, gente! Será que Vera está arrependida do que fez?! Porque se a ideia era atacar Bolsonaro, esse tipo de apelo desesperado só o fortalece! Se a alternativa é esse sujeito, afinal de contas…

“Inacreditável essa pergunta, companheiro”, disse Ciro novamente ridicularizando o jornalista que expôs sua incoerência sobre câmbio. Enrolou e enrolou. Queria dólar desvalorizado, hoje está cinco reais, ele prefere atacar o entrevistador em vez de admitir que câmbio desvalorizado não é panaceia.

Ciro é muito leviano também. Acusa sem provas e mente: afirmou que Bolsonaro chamou o povo às ruas para fechar o Congresso e o STF. Onde? Cadê? É esse o nível da narrativa da turma golpista…

Essa “entrevista” foi um enorme mico, uma vergonha! E era previsível, se ao menos os organizadores enxergassem o Ciro real, um coronelzinho arrogante que chama vereador negro liberal de “capitão do mato”, e não o que desejam ver: uma alternativa séria ao embate PT-Bolsonaro.

Por fim, Ciro parecia muito bem de saúde para quem dizia estar com sintomas de gripe. Fica até parecendo que inventou isso só para contrastar com Bolsonaro em ato irresponsável nas manifestações. Seria só mais uma farsa em todo esse show de horrores…

Vera fechou agradecendo pela “ótima” entrevista. Só se for no sentido oposto ao que ela desejava: as máscaras do “coroné” (coronevírus?) caíram de vez, e expuseram um arrogante, truculento e autoritário político que tem todos os defeitos de Bolsonaro piorados, e nenhuma de suas virtudes (basta pensar que odeia Paulo Guedes e Sergio Moro). Se Ciro é a alternativa de “centro”, então melhor ficar na “extrema direita” mesmo!

Rodrigo Constantino – Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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