6 anos de Lava Jato: inteligência artificial ajuda a acelerar investigações

Inteligência artificial acelera análise das provas da Lava Jato| Foto: Pixabay

A Lava Jato chega ao sexto aniversário nesta terça-feira (17) com um trunfo para avançar nas investigações de combate à corrupção. A força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) tem intensificado o uso de inteligência artificial para auxiliar na análise de provas que, revisadas manualmente pelos procuradores, levariam anos para apontar caminhos para a operação. Os programas desenvolvidos pela equipe de servidores em Curitiba já despertou, inclusive, a atenção de outras unidades do MPF e de outros países.

Desde 2015, um grupo de servidores do MPF atua em Curitiba no desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as investigações da Lava Jato. Eles já desenvolveram pelo menos cinco ferramentas tecnológicas que têm auxiliado muito a força-tarefa nas investigações.

A Lava Jato já deflagrou 70 fases ostensivas desde 2014, para prisão de investigados e coleta de provas, como documentos, computadores e celulares. Segundo o procurador Júlio Noronha, do MPF, é um volume de provas muito grande para ser processado. “Vamos pensar que agora a gente tem informação reunida ao longo de 70 fases, ao longo de seis anos de operação, com vários dos principais operadores financeiros que atuavam no país, com movimentações feitas dentro e fora do país”, disse em entrevista à Gazeta do Povo.

Por isso, segundo Noronha, a estratégia da força-tarefa em Curitiba foi encontrar mecanismos para acelerar a análise dessas provas colhidas na operação. “Nos últimos anos, uma das nossas maiores preocupações e um dos nossos maiores investimentos de tempo e de recurso foi no desenvolvimento de ferramentas de tecnologia da informação para a gente conseguir analisar esse conjunto de provas e encontrar as evidências que são relevantes para que a gente possa iniciar, instruir e terminar as investigações em curso”, disse.

O que já foi desenvolvido pela Lava Jato

A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba não conta apenas com os procuradores responsáveis pela investigação. Há também vários servidores que auxiliam no trabalho, inclusive bacharéis em Ciência da Computação, Análise de Sistemas, Direito, Contabilidade, mestrando na área de pesquisa de Inteligência Artificial, e doutorando em Contabilidade.

O espaço onde o time voltado a inovações trabalha no MPF em Curitiba recebe internamente o nome de Laboratório de Investigações Anticorrupção (LINA). Esta equipe foi responsável pela criação de cinco ferramentas principais para ajudar as investigações que auxiliam na solução de dados criptografados; na organização e pesquisa de provas; na transformação de documentos e imagens em arquivos indexáveis; no cruzamento de dados; e na identificação de imagens, com base em inteligência artificial.

O software desenvolvido para retirar a criptografia de dados mantidos em nuvem, recebidos após autorização judicial, já foi inclusive disponibilizado para outras unidades do Ministério Público, segundo a força-tarefa.

O programa que permite o cruzamento de dados, por sua vez, ajuda a identificar relacionamento entre investigados, baseando-se em dados recebidos de natureza bancária e telefônica, ou ainda aqueles recebidos em Cooperações Internacionais e Relatórios de Informação Financeira. Com isso, os investigadores conseguem seguir o caminho do dinheiro sujo e identificar contatos telefônicos feitos no dia de pagamentos de propinas.

Também foi desenvolvido em Curitiba um programa para identificar imagens que são relevantes para a investigação, armazenadas em celulares e computadores apreendidos. Geralmente esses dispositivos armazenam milhares de imagens que incluem, em grande medida, fotos de viagens ou do dia a dia sem relevância para a apuração. O programa busca otimizar a busca de imagens, como comprovantes bancários, cheques, “prints” de trocas de mensagens, dentre outras, evitando que o analista tenha que verificar individualmente os milhares de arquivos.

“A gente também trabalhou para ter um processamento mais rápido das evidências eletrônicas. Desenvolvemos na força-tarefa um mecanismo de upload de carregamento dessas informações”, conta Noronha. “Com o apoio da Procuradoria da República no Paraná foram adquiridos computadores potentes para poder fazer isso de forma mais rápida. Então hoje a gente consegue carregar mais de quatro dispositivos ao mesmo tempo para poder iniciar a análise”, completa o procurador.

Segundo Noronha, a inteligência artificial ajuda a refinar a análise das informações coletadas ao longo de 70 fases de investigações. “O que tem de bacana no auxílio da tecnologia no nosso trabalho: ela ajuda a identificar aquilo que é relevante. Porque hoje a maior dificuldade não é coletar a informação, isso está disponível, inclusive, para todas as outras unidades investigativas”, afirma o procurador. “Mas você recebe todas as transações de um determinado período e a dificuldade não é obter o dado, mas encontrar a informação relevante no meio de todas essas informações”, completou.

Investigações auxiliadas pela inteligência artificial

Em um artigo recente publicado no jornal O Globo, o procurador Felipe D’Elia Camargo, integrante da força-tarefa, deu exemplos de investigações auxiliadas pelas ferramentas de inteligência artificial desenvolvidas em Curitiba.

Um deles é a denúncia envolvendo o Grupo Petrópolis, acusado de 642 atos de lavagem de dinheiro, num esquema que movimentou mais de R$ 1 bilhão. A análise dos programas desenvolvidos pela força-tarefa teve como base uma autorização judicial para análise de registros de operações bancárias, ligações telefônicas e e-mails relacionados a mais de 50 empresas, além de pessoas físicas investigadas no esquema.

Os softwares que permitem indexação e a pesquisa de dados extraídos de celulares apreendidos também auxiliaram nas investigações envolvendo o operador do PSDB, Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto – um dos alvos da força-tarefa do Paraná em 2019.

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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