Coronavírus: 115 dúvidas respondidas por tema

NICOLAS ASFOURI/AFP

Quem precisa se preocupar com a covid-19? Por que, apesar de não ser considerado tão letal, o novo coronavírus assusta tanto? Como me proteger? O Brasil está preparado para uma epidemia? Médicos e especialistas tiram as principais dúvidas relacionadas à doença surgida na China no fim do ano passado e que se espalhou rapidamente pelo mundo, provocando o fechamento de fronteiras e mudanças no estilo de vida.


1. A OMS declarou pandemia da covid-19. A decisão foi acertada?
A declaração de pandemia (quando há presença de transmissão em todos os continentes, afetando um grande número de pessoas) permitirá que importantes medidas de saúde pública para o combate à doença sejam implementadas pelas autoridades sanitárias dos diversos países com mais eficiência.

2. Quais as diferentes estratégias que os países estão adotando contra a doença?
Países estão criando áreas de isolamento ou mantendo as pessoas em quarentena, além de cancelar eventos públicos, escolares e orientarem as pessoas a não ficar em aglomerações. Na quarta-feira, dia 11, o governo Trump determinou a suspensão de voos vindos da Europa, com exceção do Reino Unido. Em Israel, por exemplo, qualquer pessoa que chegar ao país terá de ficar 14 dias de quarentena. Na Itália, o governo declarou isolamento em todo o território desde a terça-feira, dia 10, limitando a movimentação de 60 milhões de pessoas após 600 mortes por coronavírus serem confirmadas. As viagens internas e externas precisam de autorização da polícia. Países europeus, como Áustria, anunciaram restrição na entrada de italianos e exigem certificado médico. A Espanha proibiu voos diretos para a Itália. Em países da América Latina, como Paraguai, Argentina, Peru e Colômbia, medidas de isolamento estão sendo tomadas e vistos não são emitidos.

3. O avanço do coronavírus pode reforçar o discurso contra a globalização?
Sim, lideranças com visões mais extremistas, como o italiano Matteo Salvini e a francesa Marine Le Pen, já afirmaram que a imigração e o convívio com pessoas de diferentes nacionalidades podem propagar o vírus.

4. A pandemia pode acirrar campanhas contra imigrantes e refugiados?
No início do surto, houve relatos de atos discriminatórios contra chineses. Em algumas cidades da Itália foram registrados episódios de violência, mas os casos não aumentaram.

5. É possível tomar medidas como as da China em um país democrático?
De acordo com Donald G. McNeil Jr, repórter que há anos cobre epidemias nos EUA, ouvido pelo New York Times, a China tomou medidas extremas, o que possibilitou a diminuição da propagação da doença nos últimos dias no país. Entre as medidas estão a separação de famílias quando um integrante era confirmado com coronavírus, a verificação da temperatura de todos os que entravam no sistema de transporte – se uma pessoa estivesse com febre era retirada do local e levada para avaliação – e a criação de hospitais para tratar os doentes. Essas medidas até podem ser tomadas em um país democrático, segundo McNeil Jr., mas com certeza haveria mais resistência da população com a diminuição de liberdades.

6. Por que a taxa de letalidade é diferente entre países, como ocorre entre Itália e Coreia do Sul, por exemplo?
A letalidade da doença na Itália é mais de oito vezes a observada na Coreia do Sul. Enquanto no país europeu, até a quinta-feira, dia 12, já morreram 6,21% das pessoas confirmadas com a covid-19, no asiático, a porcentagem de óbitos foi de 0,7%, segundo dados divulgados pelos departamentos de saúde dos dois países. Fatores como a quantidade de idosos no país – a Itália tem uma população mais envelhecida do que a Coreia – e a estrutura dos sistemas de identificação de novos casos e assistência aos doentes ajudam a explicar essa diferença significativa.

7. Por que a Itália está na situação atual?
Fatores como a quantidade de idosos no país, a estrutura dos sistemas de identificação de novos casos e a assistência aos doentes ajudam a explicar a atual situação da Itália. Como naquele país o número de casos cresceu muito rapidamente, e muitas pessoas com quadro severo passaram a buscar atendimento de saúde, houve sobrecarga do sistema, o que também pode ter contribuído para o aumento da letalidade.

8. O que significa o lockdown decretado na Itália?
Com essa medida, atividades públicas foram canceladas, as pessoas são orientadas a trabalhar de casa e evitar aglomerações, principalmente a população idosa.

9. Países mais isolados, como Coreia do Norte e Cuba, estão mais protegidos do novo coronavírus?
Não necessariamente. Em Cuba, turistas que chegaram da Itália contaminados com o coronavírus estão sob vigilância sanitária porque não apresentaram sintomas da doença. O governo da ilha tem um plano de prevenção e controle que mandará os doentes para o Hospital Militar de Villa Clara. Na Coreia do Norte, um grupo de estrangeiros foi mantido em quarentena por mais de um mês, medida que foi criticada por alguns. Os norte-coreanos também mantêm milhares dos seus cidadãos em quarentena doméstica, mas o governo insiste que não detectou um único caso da covid-19. Especialistas acreditam que a disseminação do vírus no país empobrecido pode ter consequências terríveis por causa das deficiências de seu sistema de saúde.

10. Qual o impacto do novo coronavírus em sistemas de saúde precários?
O medo é de que entrem em colapso em razão da alta procura. Ainda não há vacina para o coronavírus, antibióticos não fazem efeito e a orientação é tratar a doença como uma gripe forte. Mas sistemas precários de saúde podem não ter o teste para verificar se uma pessoa doente contraiu de fato o coronavírus ou está com outra infecção, por exemplo. Além disso, há o temor de falta de leitos e locais para atender a todos.

11. Coronavírus pode mudar o ‘modus operandi’ das campanhas presidenciais nos EUA?
Já mudou. Na terça-feira, dia 10, os democratas Joe Biden e Bernie Sanders cancelaram as campanhas em Cleveland durante as primárias “preocupados com a questão da saúde pública” em razão do coronavírus. A campanha de Sanders acrescentou que os próximos eventos serão avaliados antes de serem confirmados.

12. Como o coronavírus pode influenciar politicamente na corrida presidencial americana?
É preciso esperar para ver o desenvolvimento da pandemia. Por enquanto, a campanha presidencial deixou de ser o foco da atenção nos noticiários americanos, mas ainda não é possível medir o impacto que isso terá na eleição.

Confira matéria no estadão .

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