A viagem do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos termina apenas nesta terça-feira, mas seus eventos principais – o encontro com o presidente Donald Trump no resort de Mar-a-Lago, na Flórida, e a assinatura de um acordo na área militar – já ocorreram, e o Brasil pode colher mais frutos de sua aproximação com os norte-americanos. Além de reafirmar o apoio dos Estados Unidos à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – algo que já foi até mesmo formalizado, e agora depende muito mais de o Brasil fazer sua lição de casa –, Trump mostrou disposição para aprofundar os laços comerciais entre os dois países neste que foi o quarto encontro entre os presidentes.
Se as intenções demonstradas no jantar de Trump e Bolsonaro forem concretizadas, o caminho para produtos brasileiros no mercado internacional – não apenas o norte-americano – estará facilitado. Um dos temas tratados entre os dois presidentes foi o processo de entrada do Brasil no programa de Operadores Econômicos Autorizados, com adesão prevista para 2021. O atual programa norte-americano foi estabelecido em 2001, após os ataques terroristas do 11 de Setembro, e tem o objetivo de reforçar a segurança das cadeias de comércio exterior e dos produtos que entram nos Estados Unidos – em outras palavras, isso significa que a adesão ao programa é um atestado de que os produtos importados são seguros, resultado em um trâmite de liberação mais ágil após sua chegada aos EUA.
Brasil e Estados Unidos deram passos prévios ao que seria o grande objetivo perseguido pelos dois países: a assinatura de um acordo comercial mais amplo
No dia seguinte ao jantar com Trump, Bolsonaro participou, no Comando Sul das forças armadas norte-americanas, da assinatura de um Acordo de Pesquisa, Desenvolvimento, Teste e Avaliação, que trata do intercâmbio de experiências e projetos, mas também abre possibilidades a empresas brasileiras do ramo de defesa. As negociações haviam começado ainda durante o mandato de Michel Temer, mas a assinatura do acordo só foi possível porque, em 2019, o Brasil tinha sido formalmente admitido como “aliado prioritário extra-Otan”, status que já permitia às empresas brasileiras participar de leilões do Pentágono. Segundo o governo brasileiro, o texto que acabou de ser assinado – e ainda precisará de ratificação dos Congressos dos dois países – facilitará a entrada de produtos nacionais no mercado de defesa norte-americano e, ainda, dos outros 28 países que integram a Otan, já que o acordo prevê a adoção do padrão da aliança ocidental para os produtos.
Estes são passos prévios ao que seria o grande objetivo perseguido por Brasil e Estados Unidos: a assinatura de um acordo comercial mais amplo entre os dois países, nos moldes daquele que foi fechado em 2019 entre o Mercosul e a União Europeia. As regras do bloco sul-americano dificultam o fechamento de acordos bilaterais, e Bolsonaro chegou a conversar com o argentino Mauricio Macri sobre uma flexibilização nesta regra. Macri, no entanto, perdeu a reeleição para o esquerdista Alberto Fernández, e o tema ainda não voltou à pauta.
Brasil e Estados Unidos têm uma série de interesses em comum, incluindo a preservação da democracia no continente – por isso, Venezuela e Bolívia também entraram na conversa entre Bolsonaro e Trump, com o apego desmedido ao poder do ditador Nicolás Maduro e o futuro dos bolivianos após a renúncia de Evo Morales. Mesmo com as turbulências de curto prazo, como o impacto do coronavírus e o caos nos mercados internacionais causado pela derrubada do preço do petróleo, brasileiros e norte-americanos precisam continuar mirando suas metas de médio e longo prazo, que incluem a maior integração comercial entre os dois países. Bolsonaro traz na bagagem avanços concretos e outros compromissos que, mantida a orientação em favor do livre comércio em Brasília e Washington, beneficiarão produtores e consumidores brasileiros.
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