Um ídolo do futebol algemado e preso é uma das cenas que jamais imaginamos ver
Há cenas que jamais imaginei ver, principalmente quando envolve um ídolo no futebol. Ronaldinho Gaúcho algemado e preso é uma delas. O Bruxo está no cárcere em Assunção, no Paraguai, país onde tudo começou para ele na seleção. Eu vi. Estava lá naquele jogo contra a Venezuela em 1999, pela Copa América, quando Luxemburgo mandou a campo um meia-atacante magrinho, de cabelo baixo, pelo lado direito. Seu gol foi precedido de chapéu no marcador. Foi o gol mais lindo daquela vitória de sete.
Ronaldinho dava seu cartão de visita. Fez da graça e dos dribles uma marca. Encantou o mundo com a camisa do Barcelona, foi aplaudido de pé pelos torcedores do Real Madrid dentro do Santiago Bernabéu, eleito duas vezes o melhor do mundo pela Fifa, campeão mundial em 2002 com a seleção brasileira, entre outras façanhas.
Construiu uma carreira linda. Por onde quer que vá, como no Paraguai, Ronaldinho é festejado. Foi assim também no presídio para onde foi mandado por ter se envolvido com documentos falsos – passaporte e cédulas de identidade do país, com sua assinatura, nome e foto. Tornou-se cidadão paraguaio aos 40 anos sabe-se lá por qual motivo. Essa é a grande dúvida!
A história está mal contada. O advogado do jogador e os policiais e promotores encarregados de tocar o caso estão tão perplexos como nós, assim como aqueles que posaram para fotos com o ex-atleta na alfândega do aeroporto e outras repartições públicas.
Ocorre que as peças desse quebra-cabeça não se encaixam. Há indicações de que os documentos adulterados em poder do jogador e de seu irmão Roberto de Assis Moreira são muito mais do que simples presentes de empresários paraguaios, como eles próprios disseram em depoimento. Há indicações de lavagem de dinheiro. Um dos promotores a cuidar do caso, Osmar Legal, tem histórico de investigações dessa natureza. A polícia não descarta que a família Assis Moreira esteja envolvida em falcatruas para tirar vantagens em negócios, lícitos e ilícitos, no país vizinho, dentro de suas leis, que somente cidadãos paraguaios teriam como conseguir. Daí a documentação falsa.
Ronaldinho, um cidadão paraguaio. Fosse no futebol, a seleção paraguaia, de bons jogadores ao longo de sua história, como Gamarra e Arce, por exemplo, teria tido sorte melhor em torneios sul-americanos e mundiais. Mas Ronaldinho é brasileiro, apesar de ter também passaporte espanhol pelos anos em que trabalhou no Barcelona.
Assis, o irmão que cuida dos negócios, seria o cabeça da dupla. Ronaldinho entraria com sua imagem e prestígio. Há muita especulação sobre a conduta de Assis. Ele seria o responsável em colocar o irmão em frias. Pode até ser, mas é inadmissível que um cara com a experiência de vida de Ronaldinho não soubesse o que estava fazendo quando pegou passaportes e cédulas de identidade falsas no Paraguai. Quando assinou a papelada toda. Não seria demais supor que os eventos “organizados” em Assunção com ele tinham a intenção de começar a usar os documentos errados? É muito estranho uma personalidade esportiva do tamanho de Ronaldinho aparecer num país sem atrativos de posse de passaporte naturalizado. Um local. Tirando a desculpa esfarrapada de que seria “presente” de amigos, a investigação aponta para coisas piores. Ela é guardada em sigilo, se é que já se descobriu o real motivo da armação, de tornar Ronaldinho e Assis cidadãos paraguaios.
O cárcere pode fazer com que a dupla confesse. O advogado vai pedir sua soltura hoje. Há uma pressão psicológica grande. O fim de semana foi atrás das grades. Com uma possível confissão, havendo crime, virão as consequências penais e a transformação na vida de um dos maiores que o mundo já viu.
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