Se a “escola de Chicago”, o departamento de economia da Universidade de Chicago (EUA), é a base teórica da equipe econômica do governo Bolsonaro, a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) é a formadora de grande parte do primeiro escalão do Planalto. Pela escola de formação dos oficiais do Exército passaram não só o presidente Jair Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão, mas também sete ministros – entre eles, o novo titular da Casa Civil, general Walter Souza Braga Netto.
O Brasil tem escola de formação de militares desde 1792, quando Portugal autorizou a criação, no Rio de Janeiro, da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. Funcionando sempre no Rio, foi mudando de nome e configuração ao longo dos anos. Chegou a ser fechada em 1904 porque os alunos aderiram à Revolta da Vacina – motim popular que teve como início a reação a uma campanha de vacinação contra a varíola. Por causa disso, até 1913 a formação de militares se deu na Escola de Guerra, em Porto Alegre (RS).
Nos moldes como é atualmente, a academia foi criada justamente em 1913, em Realengo, bairro da zona oeste do Rio, como a única escola de formação de oficiais do Exército. A atual estrutura, no município de Resende (RJ), foi inaugurada em 1944. Foi rebatizada em 1951 como Academia Militar das Agulhas Negras, em alusão a um dos picos da região serrana do Rio que fica próximo da escola militar.
Agulhas Negras é “cidade” com 12 mil “moradores”
O Complexo das Agulhas Negras é uma verdadeira cidade, localizada no município de Resende, no Rio de Janeiro. Ocupa uma área de 67 km², uma das maiores academias militares do mundo, por onde circulam cerca de 12 mil pessoas diariamente.
A Cidade Acadêmica – como também é conhecida a área em que a escola militar está instalada – dispõe de estrutura de comando, administração, salas de aula, museu, bibliotecas, refeitórios, um auditório para 1.150 pessoas, uma das mais completas instalações de tiro do mundo.
A Academia das Agulhas Negras também dispõe de um dos maiores e mais completos parques esportivos do estado do Rio de Janeiro. São dois estádios, parque aquático, quadras diversas, pista de treinamento utilitário, centro de excelência em reabilitação, academia de musculação, dois ginásios cobertos e um centro hípico. Também comporta um teatro com capacidade para 2.821 pessoas.
A Aman, que é aberta para visitação, ainda dispõe de um hospital escolar e uma vila residencial com 3 bairros, totalizando 580 moradias. Outras comodidades típicas das cidades são agências bancárias, dos correios, igrejas, uma escola estadual e dois clubes recreativos. Toda essa estrutura é supervisionada por uma prefeitura militar.
Como é o ingresso e o curso de formação militar nas Agulhas Negras
Atualmente, 1,8 mil cadetes cursam um dos quatro anos da Academia Militar. Ao final do curso, eles recebem o título de bacharel em Ciências Militares e o posto de aspirante a oficial.
Para ingressar na Academia das Agulhas Negras, o jovem entre 17 e 22 anos precisa prestar concurso público para a Escola Preparatória de Cadetes, localizada em Campinas (SP). Após um ano de curso em Campinas, os alunos que tiverem bom aproveitamento são promovidos e passam à condição de cadetes cursando os quatro anos da Aman.
Após o primeiro ano de curso básico na Aman, voltado para a formação do combatente individual, o cadete escolhe entre uma das sete especialidades, de acordo com a sua classificação por mérito intelectual: infantaria, cavalaria, artilharia, engenharia, comunicação, quadro de material bélico ou serviço de intendência do Exército Brasileiro. O presidente Bolsonaro, por exemplo, formou-se em infantaria.
A turma que ingressou na Aman em 2020 é constituída por 433 cadetes de todas as regiões do Brasil e 17 cadetes de outros países. Apenas a partir de 2018 a Anam passou a aceitar cadetes mulheres.
“A formação do Cadete da Aman é bastante dinâmica. Envolve habilidades e competências necessárias ao futuro oficial do Exército Brasileiro do século 21″, explicou o Ministério da Defesa em nota à Gazeta do Povo. “Seu currículo programático inclui disciplinas nas áreas humanas, exatas e das ciências militares distribuídas ao longo de quatro anos. Ao final do curso, o concludente é declarado Aspirante a Oficial e recebe o grau de Bacharel em Ciências Militares, reconhecido pela Câmara de Educação Superior do Ministério da Educação.”
O Ministério da Defesa também informou como é composto os professores das Agulhas Negras: “Seu corpo docente é integrado por militares selecionados pela Força Terrestre com notório saber e grande experiência profissional. A coordenação da formação fundamental cabe à Divisão de Ensino, que possui uma equipe multidisciplinar de docentes e especialistas em Pedagogia, Psicopedagogia e Técnica de Ensino.”
Como é o Ninho das Águias, a academia da Força Aérea
Localizada em Pirassununga, no interior de São Paulo, a Academia da Força Aérea (AFA) é o maior complexo de ensino da aviação militar no país. O “Ninho das Águias”, como a academia é conhecida, forma oficiais de aviação, intendência e infantaria para a Força Aérea Brasileira (FAB).
Os formandos da AFA recebem o grau de bacharelado em administração, com ênfase em administração pública, podendo escolher entre uma das três habilitações: ciências aeronáuticas com habilitação em aviação militar; ciências logísticas com habilitação em intendência aeronáutica; e ciências militares com habilitação em infantaria aeronáutica.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, por exemplo, formou-se na AFA. Ele é oficial aviador, bacharel em ciências aeronáuticas e bacharel em administração pública pela academia.
Além da AFA, também é possível ingressar na Força Aérea Brasileira através do curso de formação de sargentos da Escola de Especialistas de Aeronáutica (localizada em Garatinguetá, SP); pelos cursos de engenharia do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA); ou pelo Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica – este prepara médicos, dentistas, farmacêuticos, engenheiros e capelães para a carreira na FAB.
Marinha tem o Colégio e a Escola Naval
No caso da Marinha, a formação ocorre por meio dos seguintes três cursos. Um deles, ofertado pelo Colégio Naval, no Rio de Janeiro, é o de preparação de aspirantes, que visa a selecionar e preparar alunos para acesso ao Curso de Graduação de Oficiais
A Escola Naval, no Rio de Janeiro, oferta o curso superior que forma o militar para os postos iniciais dos Corpos da Armada, de Fuzileiros Navais e de Intendentes da Marinha. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, é um egresso da Escola Naval.
Há ainda o curso de formação de oficiais que prepara o militar para as carreiras dos oficiais dos Corpos de Engenheiros da Marinha, Saúde da Marinha e Auxiliar da Marinha. Ele é ofertado no Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW), também no Rio.
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