Estado tem três propostas em andamento para parques de torres eólicas dentro do mar. Projetos são de longo prazo, dada a necessidade de adequação da infraestrutura portuária e zoneamento marítimo
Com forte potencial de geração de energia eólica offshore (no mar), o Ceará tem três grandes projetos de investimento no setor, conforme aponta documento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Nos cálculos do presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará (CS Renováveis), Jurandir Picanço, o conjunto deve indicar um investimento total de cerca de R$ 37,6 bilhões no Ceará.
“O investimento é estimativa que fiz baseado no custo médio de usinas eólicas offshore da Europa. O projeto maior está dividido em quatro etapas. É para longo prazo. Acredito que 15 anos (investimento). Os outros dois, de 5 a 7 anos”, pondera o presidente.
Conforme o levantamento da EPE, o Estado concentra três de seis projetos em andamento no País atualmente, sendo um no Rio Grande do Norte, um no Rio de Janeiro e outro no Rio Grande do Sul. Os projetos são de médio a longo prazo, já que a questão ainda é muito recente no País e exige uma regulação sobre o zoneamento marinho, além de licenças ambientais.
Segundo Picanço, o Complexo Eólico Marítimo Jangada, o maior entre os três projetos no Ceará, vai abocanhar investimentos de cerca de R$ 28,2 bilhões. De acordo com a EPE, o complexo terá quatro parques eólicos com 750 megawatts (MW) cada um, totalizando 3 gigawatts (GW). O documento revela que o projeto terá 200 aerogeradores em uma área de quase 96 mil hectares mais 4,9 mil hectares para a instalação de cabos submarinos. O empreendimento ficaria entre Itarema e Amontada.
Ainda segundo cálculos de Picanço, o Parque Eólico Offshore Caucaia-Parazinho deve atrair investimentos de cerca de R$ 5,6 bilhões. Conforme a EPE, o empreendimento terá potência instalada de 310 MW e será formado por 48 aerogeradores e 6,7 mil hectares de área. Já o Complexo Eólico Marítimo Asa Branca I terá potência instalada de 400 MW, e os 50 aerogeradores ficariam em uma área de mais de 7,2 mil hectares.
Somando os potenciais de geração de energia eólica offshore dos três projetos, o Ceará terá uma potência instalada de cerca de 3,7 GW, quase 40% de tudo (9,7 GW) que será gerado offshore no País, com os seis projetos iniciais.
Picanço destaca que o Atlas Eólico e Solar do Ceará, lançado no ano passado, aponta que o potencial de geração deste tipo de energia é de 117 GW. “É uma potência gigantesca, e o Estado apresenta uma condição muito favorável porque esse potencial se dá em baixas profundidades. É extremamente favorável para se fazer um projeto deste tipo”.
Para Mariana de Assis Espécie, analista de Pesquisa Energética da EPE, o litoral do Ceará é um dos locais com a melhor concentração de áreas com potencial eólico offshore. “Os três projetos hoje estão buscando obter os licenciamentos ambientais junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O nosso estudo não chegou a trazer um detalhamento por estado, mas sem sombra de dúvidas a região é uma das que mais se destacam no Brasil”.
Segundo ela, o Nordeste tem capacidade de produzir 360 GW, considerando locais com profundidade de até 50 metros. “Para além dos 50 metros de profundidade, pode ser maior ainda. Esses projetos offshore possuem maior capacidade instalada para a geração de energia. Acho que se ganha pela quantidade de energia que eles conseguem entregar por conta desses aerogeradores que têm uma potência bastante elevada, muito mais energia do que os que estão em terra”, explica.
Desafios
O estudo da EPE apontou ainda alguns desafios do setor. “Nós listamos 13. Alguns estão em vias de serem encaminhados como é o caso do licenciamento ambiental com o Ibama trabalhando de forma proativa. Mas temos outras questões que entendemos ser importante para propiciar o desenvolvimento dessa fonte no Brasil, como adequação da infraestrutura portuária. Também tem a questão da competitividade”, diz.
De acordo com o documento, um dos desafios para o setor é a adaptação necessária da atual indústria eólica nacional (hoje direcionada ao mercado onshore) para atender às demandas de projetos offshore. Há, ainda, a identificação de reforços na infraestrutura de transmissão necessários ao pleno escoamento da geração eólica offshore.
Para Picanço, além do licenciamento, há outras definições que ainda não estão estabelecidas. “Digamos que o empreendedor projete exatamente no local que seja rota de navios. As entidades ainda não definiram esse zoneamento. Tudo isso para serem projetos pioneiros. Aqui, no Brasil, isso é novidade, então prazos de instalação dos projetos é difícil de afirmar”.
O presidente da CS Renováveis estima que o primeiro projeto a ser implantado no Estado deva ficar pronto em quatro anos. “O chamado Asa Branca já vem há anos tentando aprovar o seu licenciamento. Eu não saberia estabelecer um prazo. Posso ter uma estimativa, mas é puramente intuitiva, que nestes quatro anos possamos ter o primeiro parque offshore do Estado”.
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