Acusado de receber 240 milhões, Marcelo Odebrecht processa atual presidente da empresa

Marcelo afirma que Sampaio tratou sua honra com “desdém”

Bruna Narcizo
Folha

O empresário Marcelo Odebrecht, 51, entrou com um processo em que acusa o atual presidente do Grupo Odebrecht, Ruy Lemos Sampaio, de calúnia e difamação. No documento protocolado no dia 7 de janeiro deste ano, Marcelo pede explicações sobre a entrevista que Sampaio concedeu ao jornal Valor Econômico em dezembro de 2019 com o título “Odebrecht acusa ex-CEO Marcelo de chantagear empresa”.

O imbroglio ocorre em meio ao processo de recuperação judicial do grupo baiano, considerada uma das maiores da história do país, com dívidas que chegam a R$ 98,5 bilhões.

PÁGINA VIRADA – Ruy Sampaio, na entrevista, afirmou que Marcelo recebeu R$ 240 milhões da empresa para aceitar assinar o acordo de colaboração. “Marcelo é passado na organização. É página virada. Ele precisa entender e aceitar isso”, disse Sampaio à publicação.

Marcelo afirma que Sampaio tratou sua honra com “desdém e pouco caso” e que divulgou “em mídia nacional informações confidenciais” com o objetivo de prejudicar sua imagem. O empresário diz ainda que Sampaio estaria fazendo uma retaliação após ele ter apresentado denúncias ao setor de compliance (boas práticas corporativas) da empresa e enviado elementos probatórios para as autoridades. Marcelo, então, faz 27 questionamentos a Ruy Sampaio sobre afirmações que ele fez para o jornal.

Entre as questões, Marcelo quer saber, por exemplo, “onde, quando e em que local” a suposta chantagem teria sido feita por ele. E se Sampaio sabia que o empresário tinha que se reportar aos superiores hierárquicos enquanto era diretor presidente da Odebrecht.

SEM COMENTÁRIOS – O processo corre na 23ª Vara Criminal do Estado de São Paulo. A juíza Marcela Raia Sant’Anna deu 30 dias para que Sampaio responda às indagações. Procurada, a Odebrecht diz que não vai comentar o processo aberto por Marcelo contra Ruy Sampaio.

No dia 20 de dezembro, Marcelo Odebrecht foi demitido do grupo por justa causa. A ordem para a demissão partiu de seu pai, Emílio. Marcelo era contratado pelo regime CLT. Desde que foi preso, em 2015, havia sido afastado, mas teve mantida a remuneração mensal, de R$ 115 mil. No pedido de explicações feito a Sampaio, diz que seu desligamento “é objeto de legítima contestação nos foros competentes”.

MENSAGENS – O empresário foi demitido após reportagem da Folha revelar que ele enviou emails a familiares e diretores do conglomerado em que fez denúncias sobre pessoas-chave do grupo. Nas mensagens, ele critica, por exemplo, o executivo Mauricio Ferro –seu cunhado–, que chegou a ficar preso cerca de duas semanas por suspeita de corrupção.

Escreve que “o maior prejuízo nem foram os R$ 200 milhões roubados, mas tudo o que ele fez, destruindo a Odebrecht e as relações familiares, para ocultar este roubo”. O suposto desvio ainda está sob investigação.

CONFLITO DE INTERESSE – Emílio, de acordo com Marcelo, teria utilizado o seu poder no comando para nomear executivos que tinham “conflito de interesse”. Para Marcelo, Ruy Sampaio seria um deles. O empresário argumenta que o executivo atuaria em favor dos interesses de Emílio e de seus próprios, inclusive para evitar investigações que poderiam incriminá-lo.

Em um dos emails, Marcelo diz que “existem evidências fortes, inclusive registros no My Web Day e Drousys [sistemas usados pela empresa para gerir o pagamento de propinas], de que RLS [sigla para Ruy Lemos Sampaio], o representante escolhido pelo mandatário [Emílio Odebrecht], recebeu ou intermediou pagamentos indevidos”. “Isto entre outros fatos, como de obstrução à Justiça, que precisam ser urgentemente apurados”, afirma.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A lavagem de roupa suja na cúpula da Odebrecht é muito mais interessante do que a lavagem de dinheiro que a megaempresa fazia no seu Departamento de Propinas. Quer dizer que Marcelo Odebrecht, protótipo do “pobre menino rico”, mas sem a grandeza do Grande Gatsby de Scott Fitzgerald, exigiu R$ 240 milhões do próprio paí para aceitar fazer delação premiada? É a confirmação do velho ditado: “Todo homem tem seu preço”. A continuação da briga é sinal de que pai e filho não se falam desde a prisão de Marcelo na Lava Jato. Surge assim a pergunta que não quer calar. De que adianta ser rico e viver assim tão miseravelmente, brigado com o próprio pai e com a mãe, que preferiu apoiar o marido? Na verdade, esse excesso de dinheiro funciona como uma maldição. (C.N.)

Confira matéria do site Tribuna da Internet.

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