Como o coronavírus afeta a economia global e brasileira

Coronavírus obrigou chineses a usarem máscaras para impedir a propagação do vírus até para fazerem compras em Pequim| Foto: NICOLAS ASFOURI / AFP

Além das vítimas fatais, a rápida disseminação do coronavírus tem deixado suas marcas na economia global e brasileira. Origem do surto, a China tem o segundo maior PIB do planeta, e uma desaceleração em sua economia acaba afetando o mundo inteiro – com efeitos, por exemplo, sobre os países que dependem muito das exportações para o país asiático, como o Brasil.

Se por um lado afeta o ganho das empresas e a atividade econômica, por outro a queda dos preços de commodities pode baratear alguns produtos. Um exemplo: se o recuo das cotações do petróleo persistir, combustíveis podem ficar mais baratos no Brasil. Para isso, no entanto, a queda do real em relação ao dólar não pode ser tão forte, pois a alta da moeda norte-americana atua na outra direção, inflando o preço de bens negociados no mercado internacional.

Primeira reação ao coronavírus foi no mercado financeiro

Na tentativa de conter o alastramento do vírus, a China adotou medidas drásticas para diminuir o fluxo de pessoas nas ruas e deslocamentos pelo continente asiático. As bolsas de valores globais começaram a semana em queda. O preço do barril de petróleo caiu abaixo de US$ 60 pela primeira vez em quase três meses. O dólar se valorizou em relação ao real. E até as projeções para a Selic – a taxa básica de juros da economia brasileira – foram revistas.

Na segunda-feira (27), a Organização Mundial de Saúde (OMS) admitiu que errou na sua avaliação inicial sobre os efeitos do coronavírus. A organização passou a classificar o risco do novo vírus como “elevado”, e não mais “moderado”. A OMS disse também que a doença ainda não se trata de uma emergência de saúde global, mas que “pode vir a ser”. As últimas foram a gripe suína (H1N1), o vírus zika e o ebola.

A reclassificação do coronavíus e também o aumento do número de mortos e infectados dispararam o alarme da volatilidade global e aversão ao risco. O primeiro reflexo foi no mercado financeiro, e as bolsas mundo afora começar a semana em queda. Um movimento que, grosso modo, refletiu o temor de que a atividade econômica na China e no mundo todo se desacelere ainda mais que o esperado.

No Brasil, o Ibovespa fechou a segunda-feira (27) com queda de 3,29%, a maior baixa em um dia desde março de 2019. Entre as principais empresas listadas afetadas pela queda estão as siderúrgicas Gerdau e CSN, que exportam para a China, e a Petrobras, que depende do preço do barril de petróleo. A Vale também viu seu valor de mercado encolher na segunda, o pico do estresse até o momento.

O coronavírus afetou o dólar e as projeções para a taxa básica de juros (Selic), e ainda pode pressionar a inflação. A moeda americana chegou a R$ 4,20 no início da semana, maior patamar desde 2 de dezembro. E se antes o mercado se concentrava na aposta de que a Selic se manteria em 4,5%, já há quem preveja um corte de 0,25 ponto porcentual em breve.

“Os efeitos não se limitam às bolsas e às commodities, como também afetando as projeções para a nossa Selic – haja vista que ontem o mercado elevou para mais de 80% a chance de corte de 25 pontos-base no próximo Copom”, disse Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos, em relatório. O Banco Central decidirá na próxima quarta (5/2) se mantém ou muda a Selic.

Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo, pontua a aversão ao risco no mercado acaba gerando inflação no ativo livre de risco – títulos do tesouro americano e, consequentemente, o dólar. “Com o dólar muito alto, você acaba ‘importando’ inflação. Muitos produtos que consumimos são negociados em dólar, o que acaba encarecendo o produto final e vai impactar a inflação no curto prazo”, analisa.

Depois do estresse, um dia mais calmo

Nesta terça (28), os mercados ficaram um pouco mais “calmos”, diante das medidas tomadas pelo mundo, em especial a China, para conter a disseminação do vírus. As bolsas no Brasil, Estados Unidos e Europa se recuperaram e a maior parte fechou com tímidas altas. Na Ásia, por outro lado, as baixas persistem.

Entre as ações para reduzir os efeitos na economia, a China prolongou o feriado de seu Ano Novo, que inicialmente terminaria na quinta (31), mas agora vai até 3 de fevereiro. Com isso, as Bolsas de Xangai e Shenzen só voltam a funcionar na terça (4/2).

Além de prolongar o feriado, Hong Kong, cidade autônoma localizada no sudeste da China, fechou ferrovias e balsas e suspendeu ônibus de turismo entre a cidade e o continente chinês. Os voos para a China continental também foram reduzidos pela metade. A cidade também não está mais emitindo vistos individuais.

Segundo o Centro de Controle de Doenças da China, é preciso encontrar um equilíbrio entre controlar a propagação da doença e limitar os impactos econômicos do surto do vírus.

“As medidas na China são para evitar que o processo de contaminação se alastre. A consequência, ao limitar fluxo de pessoas, estender o feriado, acaba tendo um impacto econômico imediato por lá. Mas isso é para evitar um dano muito maior lá na frente, que ocorreria ao deixar as pessoas circularem livremente, e o vírus se propagar”, diz o economista Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria e professor do Insper.

Coronavírus: o que esperar daqui para frente

Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos, diz que é difícil projetar como o surto pode afetar a economia daqui para frente, em especial no longo prazo. “Não existe uma ‘regra’ para como o mercado reagirá às epidemias e o motivo é simples: existem outras diversas variáveis que afetarão”, escreveu em relatório. Mas completou dizendo que elas “certamente afetarão o mercado no curto prazo”.

Economista da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira afirma que, caso o surto se espalhe ainda mais pelo mundo, a economia chinesa deve ter uma desaceleração, afetando a economia global e as exportações brasileiras. A China é o principal destino das exportações brasileiras.

“Supondo que aumente a amplitude da contaminação, levando à redução dos fluxos de pessoas e mercadorias da China com o resto do mundo, a economia chinesa teria uma desaceleração em sua taxa de crescimento. Se ocorrer, isso impactaria fortemente as exportações do Brasil, naquilo que o país tem de mais dinâmico hoje, que são as commodities”, afirmou em entrevista à Gazeta do Povo.

Qualquer coisa que o Brasil já vende ou possa vir a vender – de commodities, passando por tecnologia e até mesmo o petróleo – pode ser impactada, diz Rodrigo Franchini, da Monte Bravo.

“As empresas daqui que exportam para a China terão um mercado menor para exportar, e essas empresas tendem a não crescer. Se as empresas não crescem, o Brasil não cresce, não gera renda, emprego”, avalia.

Além das empresas ligadas ao setor de commodities, empresas de aviação, serviços de viagens e itens de luxo estão entre os setores que podem ser impactados negativamente, caso o surto se prolongue, afirma o analista Thiago Salomão.

Combustível pode ficar mais barato no Brasil

Por outro lado, a queda das cotações do petróleo pode se refletir em combustível mais barato para o consumidor brasileiro, diz Juan Jensen, da 4E Consultoria.

“A tendência é de que os combustíveis fiquem mais baratos, desde que a desvalorização do real – também consequência da epidemia – não seja mais forte que a desvalorização da cotação do petróleo”, explica. “Até agora, o petróleo está caindo mais que o real, o que em tese permite combustíveis mais baratos aqui.”

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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